Manifestação em Cracóvia contra a implantação de bases da OTAN na Polônia. Foto: Gosia Malochleb (CC BY-NC 2.0)
Por que a Polônia busca dominar a Ucrânia?
A Polônia mantém pretensões territoriais sobre a Ucrânia, que datam da época em que a Comunidade (Commonwealth) Polônia-Lituânia, que durou dois séculos, foi implodida pela Rússia, a Áustria e a Prússia no final do século XVIII. Dessa comunidade faziam parte os atuais países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), a Bielorrússia, a Ucrânia, a Polônia e parte da Rússia.
A Polônia somente voltou a existir após o Tratado de Versalhes, por meio do qual, em 1918, as potências imperialistas vencedoras definiram o novo mapa da Europa, após o término da Primeira Guerra Mundial.
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A burguesia polonesa busca recompor a Commonwealth, a "Grande Polônia". Apesar de se tratar da principal potência regional da Europa Oriental, não tem força econômica nem militar para enfrentar os dois grandes vizinhos, a Alemanha e a Rússia, entre os quais se encontra exprimida. Por esse motivo fica "dançando" entre esses dois países e os Estados Unidos. Em 1999, a Polônia ingressou na OTAN e, em 2004, na União Europeia.
O chamado programa da Iniciativa da Parceira Oriental foi iniciado pela Polônia em 2009, com o objetivo de ampliar a influência da União Europeia sobre os antigos países da periferia da União Soviética, tais como a Ucrânia, Moldávia, Bielorrússia, Geórgia, Armênia e o Azerbaijão. A Parceria começou a ganhar corpo com o acordo entre a Ucrânia e a União Europeia, que deveria ter sido assinado pelo então presidente ucraniano Viktor Ianokovich no mês de novembro de 2013 e que esteve na base do golpe de estado impulsionado por meio das organizações nazifascistas.
Polônia: mais "otanista" que a própria OTAN
O governo polonês busca forçar a integração da Ucrânia ao ocidente, como um colchão (buffer) próprio contra a Rússia e na perspectiva da "Grande Polônia". O risco militar russo é grande, já que compartilha uma ampla fronteira com a Bielorrússia (aliado de primeira ordem da Rússia) e o enclave russo de Kaliningrado, localizado no Mar Báltico, onde os russos têm alocado armas nucleares. Mas o ponto central é que a política da Rússia é defensiva, já que a fraqueza econômica e a dependência dos acordos com o imperialismo lhe impede avançar para o confronto. Pelo menos, essa é a situação política atual, que pode vir a evoluir no próximo período, impulsionada pelo aprofundamento da crise.
A Polônia tenta impor uma política mais agressiva contra a Rússia, se valendo da Ucrânia e da Romênia, que, ao mesmo tempo, são considerados como possíveis compradores de armas polonesas. Com o mesmo objetivo, tem sido impulsionada uma brigada de mobilização rápida com a Ucrânia e a Lituânia, com 4.500 soldados, e têm aumentado as pressões sobre a Moldávia.
A Polônia pressiona a OTAN pela alocação de 10 mil soldados, de maneira permanente, no seu território, usando a "ameaça russa" como justificativa.
A OTAN tem resistido a essa pressão por causa do temor de escalar os conflitos na região. No entanto, a OTAN tem aumentado o número e a frequência das tropas envolvidas em exercícios militares, tanto na Polônia, como nos Países Bálticos, na Romênia e na Bulgária.
A indústria alemã depende visceralmente da mão de obra barata da Polônia, assim como do mercado europeu, que domina. A Alemanha tenta segurar a política direitista da Polônia e da Lituânia, os dois "cachorros loucos" da União Europeia, enquanto busca uma aproximação com a Rússia, na tentativa de evitar as fortes perdas econômicas provocadas pelas sanções. A Alemanha enxerga na política do Novo Caminho da Seda, impulsionada pelos chineses, da qual os russos representam o pivô na Europa, como um dos principais mecanismos para diversificar o mercado no contexto do aprofundamento da crise capitalista mundial.
Alejandro Acosta está atualmente na Rússia acompanhando os acontecimentos geopolíticos da região como jornalista independente.