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operaçomcondorArgentina - Página 64 - O depoimento do engenheiro argentino Carlos Alfredo Claret revelou, nesta segunda-feira em Porto Alegre, detalhes de sua prisão na cidade de Passo Fundo (RS), no final da década de 70. O episódio ilumina ao menos uma das ações organizadas pelas ditaduras latino-americanas na chamada Operação Condor.


Claret foi preso no dia 12 de setembro de 1978, dois anos após sua chegada no Brasil, sem que ele ouvisse nenhum tipo de acusação formal. Ele vivia no Brasil com seu nome real e renovava a cada três meses seus visto de turista. A Polícia Federal justificou que sua prisão se deu por usar documentos falsos, o que, segundo ele, é uma mentira, já que seu único erro seria trabalhar no Brasil com visto de turista.

"Fui abordado por dois carros militares na frente e outros dois atrás, e fui jogado contra uma árvore, todos estavam com fuzil. Falavam português: 'sai do carro e fica aqui', e ninguém falou mais nada pra mim, eu perguntava o que estava acontecendo, e ninguém falava nada", disse, relatando que pouco depois foi levado para o quartel de Passo Fundo, que hoje nem existe mais.

Horas depois ele ouviu que ia ser tirado de lá e levado para Porto Alegre, onde ficou na sede da Polícia Federal gaúcha. Ele foi interrogado por dias seguidos, sofreu tortura psicológica e choques elétricos, por cerca de 10 dias. "Eles diziam que tinham todo o tempo do mundo, que estavam com a minha família. Vinha um policial mau e depois um bonzinho, até um padre veio falar comigo". Nesse período, era obrigado a ficar escrevendo ininterruptamente sua história. Caso parasse, soavam uma sirene e ligavam uma luz muito forte. Ele não foi interrogado por agentes argentinos, mas diz que eles participaram de um dos seus interrogatórios.

Com ajuda da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), recebeu status de refugiado político e não foi deportado para a Argentina. Naquela época, muitos argentinos deportados para seu país de origem simplesmente desapareciam. Com a ajuda da Acnur ele conseguiu refúgio na Suécia, onde vive até hoje com a família, e administra sua empresa de consultoria.

Ele acredita que só conseguiu sai da prisão por ajuda da Comissão de Justiça e Paz, que revelou sua história aos meios de comunicação. "Eu devo minha vida a isso", disse ele se referindo a uma entrevista concedida por Dom Paulo Evaristo Arns ao jornal Estado de S. Paulo, que divulgou sua prisão.

Claret chegou ao Brasil em 1976, passou por São Paulo, Santos e Porto Alegre antes de se instalar em Passo Fundo, onde trabalhava na empresa Menegaz. Na cidade interiorana gaúcha outros argentinos e uruguaios viviam no município, mas apenas ele foi preso.

Ele diz que na Argentina, sua única militância política era como integrante da Juventude Peronista, mas nega que tenho tido algum envolvimento com episódios mais violentos na luta contra a ditadura. Ele decidiu sair de seu país após a morte de um amigo na universidade onde trabalhava.

Segundo o presidente do Movimento Justiça e Diretos Humanos, Jair Krischke, a prisão de Claret deixa muito claro a liberdade com que atuavam os agentes de países latinos sob ditadura com a Operação Condor, com apoio expressivo do Brasil.

"A facilidade com que isso foi feito, inclusive com uma operação espalhafatosa, mostrava que eles tinham a certeza da impunidade. Então é um caso que por sorte sobreviveu e está aqui para contar o que aconteceu (...) Era uma operação que fluía, e o Brasil sempre teve o papel de protagonista e teve o cuidado de não deixar impressões digitais", afirmou. O caso de Claret foi levado a Comissão da Verdade brasileira, como um pedido de reparação, e ainda será analisado.


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