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saquesArgentina - PCO - Os saques representaram uma ação desesperada das massas empobrecidas, uma forma de protesto rudimentar produto do aprofundamento da crise capitalista


Nos dias 20 e 21 de dezembro, aconteceu uma onda de saques em quase 300 supermercados e comércios em bairros pobres de várias cidades importantes da Argentina, que deixou um saldo oficial foi de três pessoas mortas, 45 feridas e mais de 500 presas. Em Rosário, a capital da Província de Entre Ríos, dominada pelo agronegócio sojeiro, o saldo foi de quatro mortos. A burguesia em peso se apresou a qualificar os saques como atos de vandalismo. Os primeiros sinais do conflito aconteceram no dia 19, quando centenas de pessoas ficaram na rua devido a uma forte tempestade. Mais de 10% da população vive na pobreza extrema. A resposta do governo provincial foi o envio de policiais para os bairros populares e o pedido ao governo federal do envio de mais tropas, o que foi prontamente atendido. Uma das reivindicações principais da greve geral do dia 20 de novembro foi a suspensão do aumento do imposto de renda sobre os salários e o aumento do salario família (asignaciones familiares), que o governo recusou alegando que os recursos eram necessários para beneficiar os mais pobres. "Conspiração", "vandalismo" ou explosão do desespero popular? A posição do governo nacionalista de Cristina Kirchner fez coro com a direita, acusando os participantes dos saques de "vândalos" e "delinquentes", mas tentou mostrar a existência de uma suposta "conspiração" das grandes "corporações" contra o governo "nacional e popular". A esquerda a reboque do kircherismo fez coro ao governo, como o FAP (Frente Amplio Progressista). A suposta conspiração cai por terra quando consideramos que os saques também aconteceram em províncias governadas pela direita, como em Córdoba e Buenos Aires. A burocracia sindical no geral tentou deslindar-se dos saques, ficando a reboque do governo de maneira direta ou indireta, simplesmente se deslindando e ignorando as causas. Um episódio que chamou a atenção foram as declarações de Jorge Altamira, dirigente do PO (Partido Obrero), no programa Plan M, televisionado no dia 26 de dezembro, e disponível na Internet, quando se declarou contra os saques. Os saques representaram uma ação desesperada das massas empobrecidas e, por esse motivo, os revolucionários devem posicionar-se a favor. Obviamente, se tratou de uma forma de protesto rudimentar. O ideal seria que os trabalhadores protestassem fazendo greves ou passeatas, mas é impossível enquadrar a população empobrecida e trabalhadora em fórmulas. Os saques foram um produto do aprofundamento da crise capitalista na Argentina. Condenar os saques representa um salto de qualidade na direção do cretinismo parlamentar e a democracia burguesa, que, num país dependente do imperialismo como a Argentina, é muito precária. O aprofundamento da crise capitalista na Argentina O aprofundamento da crise capitalista tem dificultado a manutenção dos programas sociais para as camadas mais pobres da população. A inflação disparou, segundo os dados oficiais, para 12% no ano passado, mas, segundo as agências provinciais de estatísticas, supera os 20%, principalmente nos produtos de consumo popular. A retomada do crescimento durante os governos kirchneristas manteve níveis de pobreza assustadores, acima dos 30%. O arrocho salarial começou a ser sentido com particular intensidade desde o segundo semestre do ano passado, além do aumento da precariedade do emprego e do desemprego. O preço dos alimentos tem aumentado em 40%. O índice de desemprego (oficial) aumentou de 7,2% para 7,6%, mas, na realidade, mais da terceira parte dos trabalhadores se encontra em situação precária, sem qualquer direito trabalhista. As tarifas dos serviços públicos continuam aumentando enquanto continuam sendo sucateados, o que é muito notório nos transportes e no setor elétrico. A tendência para o próximo período em direção acelerada à depressão econômica e à hiperinflação. O crescimento do PIB passou de 7% em 2011 para em torno a 1% em 2012. O superávit comercial de quase US$ 13 bilhões dificilmente conseguirá ser mantido devido à disparada das importações. O aumento do endividamento e do déficit públicos corroem como uma gangrena as finanças do governo. O papel dos programas sociais do governo nacionalista Os programas sociais estão na base do colchão social que suporta o regime político com o objetivo de conter as massas enquanto o governo nacionalista garante os lucros dos capitalistas. Os planos de austeridade continuam sendo implementados, de maneira gradual, da mesma forma que acontece no Brasil. Sob o nome de "sintonia fina", os direitos trabalhistas têm sido flexibilizados o que tem aumentado o arrocho salarial. Os aumentos dos salários nas "paritárias" (espécie de câmaras setoriais) já não estão conseguindo acompanhar a inflação oficial. O governo tenta "compensar" os capitalistas pelas perdas em dólares e a "necessidade de aumentar a competitividade". As políticas neoliberais implementadas nos governos Menen e o arcabouço jurídico que as protege têm sido mantidos praticamente intactos. As multinacionais e os latifundiários obtiveram enormes lucros na última década, principalmente no setores do agronegócio e extrativista. Na Argentina, está colocada à ordem do dia a formação de um partido proletário de massas, independente da burguesia nacionalista. A direita tradicional, identificada com as políticas neoliberais, entrou em colapso desde o início da década passada quando o governo de La Rua se desintegrou abrindo caminho para o kirchnerismo. Por esse motivo, a direita golpista tem sido impulsionada pela burguesia, mas, como não consegue controlar o aparelho do estado burguês pelas vias institucionais devido ao repúdio popular, tenta se fortalecer por fora das instituições, conforme ficou claro na organização das manifestações no dia 8 dezembro e no caso El Clarín, onde o governo não consegue que o grupo aceite a Lei de Medios (Lei de Imprensa) aprovada há mais de três anos. A direita golpista tentará, em primeiro lugar, impor o repasse do peso da crise capitalista para as massas trabalhadoras por meio de medidas de força viabilizadas por um golpe de estado branco. Mas caso não o conseguir por esses mecanismos, inevitavelmente, tentará uma nova ditadura militar aberta. O problema central colocado para a burguesia é que a crise capitalista tem se aprofundado num grau tal em escala mundial que para o sistema capitalista sobreviver, não somente na Argentina, mas também no mundo, é necessário aplicar uma derrota monumental sobre a classe operária devido à falta da base material para a implementação de uma política alternativa, por meios democráticos. O enfrentamento entre a burguesia e os trabalhadores estará colocado à ordem do dia no próximo período. As condições subjetivas deverão amadurecer para a formação de um partido operário de massas que consiga dirigir os trabalhadores para derrotar a burguesia em quanto classe social, isto é que consiga derrubar o estado burguês e promover o armamento da população nos principais países do planeta, e, partir de aí, expropriar os meios de produção como premissa para a implantação do socialismo em escala mundial.


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