Rio de Janeiro. Cabos enviados a Washington em 2007 por diplomatas estadunidenses em Buenos Aires afirmam que o governo do então presidente Néstor Kirchner considerava o cardeal Jorge Bergoglio como um "líder da oposição", revelou O Estado de São Paulo.
O jornal teve acesso aos documentos obtidos pela organização WikiLeaks, no qual representantes da embaixada dos Estados Unidos na Argentina analisam a deterioração das relações entre Igreja e governo no país durante os dois períodos no qual o agora Papa Francisco presidiu a Conferência Episcopal Argentina (2005-2011).
O texto se refere ao incômodo do governo Kirchner pelas críticas do bispo católico Joaquín Piña ao candidato oficialista a governador da província de Missiones nas eleições de outubro de 2007.
"O cardeal Jorge Bergoglio afirmou que a Igreja não se envolveria com a política, mas apoiou os esforços do bispo Piña. Bergoglio recentemente advertiu sobre a concentração de poder dos Kirchner e sobre a debilitação das instituições democráticas na Argentina", afirma o cabo diplomático.
O documento agregou que o governo, por sua vez, "irritou-se pela aparente preferência do cardeal pela oposição em um ano eleitoral".
"O prefeito de Buenos Aires, Jorge Telerman, e sua sócia de coalizão, Elisa Carrió, haviam se reunido com Bergoglio em abril, e a inclusão de um líder muçulmano, Omar Abud, na lista de candidatos de Telerman foi uma ideia de Bergoglio", agregou o embaixador.
Outro cabo com menções ao agora Papa Francisco foi enviado pela embaixada em Buenos Aires a Washington em outubro de 2007, depois da condenação do sacerdote Christian Von Wernich por cumplicidade em crimes praticados durante a ditadura militar que governou a Argentina entre 1976 e 1983.
O texto afirma que "em momento que o cardeal Bergoglio está considerado como um líder da oposição à administração Kirchner por seus comentários sobre temas sociais, o caso Von Wernich poderia ter o impacto de esgotar a autoridade moral da Igreja e de Bergoglio".