Às 8h em ponto desse dia, os moradores foram surpreendidos pela forte presença policial no centro comercial próximo dessa localidade, que contava com cerca de 500 soldados.

A mobilização policial destinava-se a proteger as obras da Sacmex (Sistema de Águas da Cidade do México), que pretendia ampliar, à revelia dos moradores dessa localidade, o Sistema Cutzamala.

As autoridades alegam que esse sistema tem como objetivo levar água para beneficiar 20 mil pessoas que há 20 anos não possuem água potável e têm de abastecer-se por caminhões tanque públicos e privados. No entanto, os moradores do bairro rebelado para proteger os seus mananciais sabem que o objetivo é outro, o de abastecer o complexo comercial de Santa Fé, por motivos económicos e, por isso, opõem-se ao projeto. Se não fosse por isso, jamais o governo se incomodaria a enviar 500 soldados para proteger o trabalho de uma empresa como a Sacmex.

Desde 14 de fevereiro, o projeto fora paralisado após confrontos entre moradores e a polícia.

A polícia fechou os acessos ao bairro, dando inicio à confusão que acabou em rebelião. As mães foram obrigadas a retirar os filhos da escola, o comércio fechou as portas. Com o ambiente tenso, começaram os confrontos com a população, que utilizou as únicas armas à disposição, as pedras, pedaços de madeira e o que lhes vinha às mãos, encontradas na rua. A população montou barricadas e fogueiras para se defender da agressão policial. Os manifestantes prenderam vários polícias, que foram resgatados com um verdadeiro exército que incluiu os antidistúrbios, cujo contingente chegou a dois mil soldados para aplacar a rebelião. O resultado desse ataque do governo a essa pobre comunidade da Cidade do México foram 116 feridos, incluindo, 50 polícias. Também foram detidos vários manifestantes. Em assembleia realizada na praça principal da comunidade, no dia 22, os moradores mais uma vez se colocaram contra a continuidade do projeto. E, segundo uma das oradoras da assembleia: “Foram os polícias que iniciaram a agressão, batendo em mulheres e crianças”, disse, afirmando também a posição dos moradores: “Esta é uma assembleia do povo, onde quem manda é o povo!”.

Governo monta um circo no sul do México

No meio do caos que vive o país, o presidente Enrique Penña Nieto montou um grotesco circo, na sua visita ao estado de Michoacán, onde a população se tem levantado em armas para defender as suas vidas contra os narcotraficantes. No dia 22, o presidente Peña Nieto esteve em Tepalcatepec, Michoacán, uma das primeiras cidades a levantar-se em armas no sul do México e, também, a cidade do lider das autodefesas, Dr. Mireles, para lançar a Comissão Cuenca Tierra Caliente-Conágua. A cerimónia montada pelo presidente foi um inacreditável circo, que não contou com a participação local e, sim, com pessoas contratadas para participar do evento. Também as autodefesas locais não participaram da cerimónia, e alguns presentes foram mesmo postos para fora do evento.

Enquanto o governo monta circos, nesse mesmo dia, o Diretor de Segurança Pública de Álvaro Albregon, Gabriel Sanchez Aguillar, foi assassinado a tiros. O diretor de seguranca pública, seguia por uma estrada local conduzindo a sua camionete, transportando alimento para gado. No dia 23, cerca de 20 membros da Polícia Municipal de Álvaro Obregon foram presos, acusados de participação no assassinato do seu chefe.

Governo mantém perseguição ao líder das autodefesas

Segundo o La Jornada, o Dr. Mireles, principal líder das autodefesas, declarou que existe uma ordem da 43ª Zona Militar, sediada na cidade de Apatzingán, que o impede de se registar na recém formada Unidad Fuerza Rural, polícia através da qual o governo está a cooptar e tentar destruir o movimento das autodefesas. Independente de julgarmos se é correta ou não a posição do Dr. Mireles, ao tentar ingressar nessa nova policia reacionária do governo, essa atitude mostra claramente que o governo de Peña Nieto quer liquidar o principal lider das autodefesas, já que a Secretaria de Defesa Nacional (Sedena), também o impede de registar as suas armas e já avisou que o desarmará, se encontrar armas em seu poder. Ora o Dr. Mireles é a pessoa mais ameaçada, hoje, no México e são muitos os inimigos que não vacilarão em matá-lo, já que nesse país o que predomina é a impunidade. A sua ascensão como líder nacional se fez à custa de contrariar interesses poderosos do narcotráfico, militares, politécnicos e, como têm demonstrado as atitudes recentes do governo, do próprio presidente Enrique Peña Nieto.

Moradores de Buena Vista bloqueiam estrada

No dia 2, os moradores de Buena Vista, no estado de Michoacán bloquearam a estrada por várias horas, aproveitando a visita do presidente mexicano à área, com o objetivo de exigir a libertação de 42 presos políticos, integrantes das autodefesas, que se encontram detidos há um ano e três meses, acusados de portar armas e participarem das autodefesas. Com o bloqueio, as autoridades comprometeram-se a reavaliar os casos, alguns dos quais estão na esfera federal.

Reunião nacional para formar a Frente Nacional de Autodefesas

No próximo dia 28, será realizada na Cidade do México uma reunião nacional para formar a Frente Nacional de Autodefesas, um movimento democrático com a participação de vários setores da sociedade mexicana com o objetivo de lutar contra o narcotráfico e pelo estado de direito no México.

Segundo, Cuauhtémoc Ruiz Ortiz, coordenador do Comité pela Libertação de Nestora Salgado, nessa reunião estará presente Cleotilde Salgado, irmâ de Nestora Salgado. E o comité lançará a proposta de que se realize uma ampla campanha nacional pela libertação de todos os presos políticos no México, que nos últimos meses, já somam mais de cem. Neles se inclui a comandante Nestora Salgado, dirigente da Policia Comunitária de Olinala, no estado de Guerrero, recém agraciada com o Prémio Nacional de Direitos Humanos Don Sérgio Méndez Arceo, pela sua luta em favor das comunidades de Guerrero e também pelos direitos indígenas.