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271114 timoleonColômbia - FARC-EP - [Timoleón Jiménez]O Presidente emprega de mil maneiras a bandeira da solução civilizada ao conflito armado. Manifesta sua devoção por figurar na história como o homem que conseguiu a paz.


Discute, inclusive, com os defensores declarados da solução militar. Pactua com a insurgência uma Agenda sobre a qual realizar conversações definitivas. Ufana-se dos avanços obtidos e fala de perseverar. Até promove no exterior o pós-conflito.

No entanto, sua atitude e seus fatos são muito mais reveladores que suas palavras. Uma só ideia parece obcecá-lo: render a insurgência, obrigá-la ao desarmamento, à entrega e à desmobilização. É o único resultado que, para ele, cabe assimilar com a paz. Assim, para o governo nacional, a Mesa de Havana se revela como o cenário que facilitará a mecânica ordenada da admissão de sua derrota por parte da guerrilha das FARC-EP.

Não expressam tal postura abertamente, porém, a esta altura, é impossível ocultá-la. O passar do tempo, como as correntes, vai revelando o que se esconde embaixo d'água. Basta examinar a conduta e as palavras tanto do Presidente Santos como do senhor La Calle, com relação aos dois casos mais recentes da ação das FARC-EP, em Arauca, com os dois soldados, e em Chocó, com o general, para acabar com qualquer dúvida a respeito.

O Presidente sempre se vangloriou do lema israelense de dialogar como se não existisse guerra e fazer a guerra como se não existissem diálogos. Negociar em meio ao conflito tem sido sua posição permanente desde as primeiras aproximações. As regras do jogo que sempre reclamou foram as que nada do que ocorresse nos campos de batalha teria por que afetar o curso das conversações. Impôs, inclusive, que as conversações em Havana fossem interrompidas.

Assim, ficaram excluídas de entrar no Acordo Geral as possibilidades de congelamentos ou suspensões. Nada impediu seu direito de ordenar o alto comando militar, ao menos uma ou duas vezes por semana em seus discursos, que intensificassem com toda sua força e poder as ações contra as FARC-EP. O Presidente nunca parou de proclamar-se como nosso primeiro inimigo, o que mais nos golpeou, o que conseguiu matar meia centena de comandantes de todas as categorias.

Dessa forma, nada pode argumentar acerca da ação militar das FARC contra unidades do Exército Nacional, em exercício de suas atividades de guerra e em suas áreas de operações. Porém, decidiu fazê-lo, ordenando a suspensão do processo e violando de maneira flagrante não apenas sua própria retórica, mas os temos do Acordo Geral. A guerra vale e é aplaudida caso provenha do Estado, porém é reprovável se realizada pelo adversário atacado. A lei do funil.

Colocar como condição para a retomada do processo suspenso arbitrariamente que a contraparte faça rápida entrega de seus prisioneiros de guerra equivale a um sequestro do processo de paz pelo Presidente. E responder, como fizeram seus críticos, que colocam em destaque a importância de acordar um cessar-fogo bilateral para evitar esse tipo de sobressalto, coloca em manifesto que o processo de paz não é mais que um simples instrumento em uma estratégia final de guerra.

À resposta afirmativa das FARC, sem dúvida um marco em nossa conduta acerca desse tipo de situação, o governo nacional apresenta uma irracionalidade absoluta. Nossos porta-vozes em Havana se reuniram com os enviados de Santos e os países fiadores, em um gesto que pouquíssimos valorizaram, sem considerar a suspensão unilateral dos diálogos pelo governo, e, de maneira rápida, acordaram procedimentos e protocolos para as libertações.

Porém, paralelamente, o governo acionou uma operação militar sem precedentes, que não recuou nem sequer para possibilitar a realização do pactuado entre as duas partes. A militarização do Atrato, os sobrevoos, bombardeios e tiroteios crescem em ferocidade. Insiste-se em um resgate pela força, talvez em precipitar uma desgraça que ninguém deseja. Esse é o verdadeiro caráter do regime. Não deve ser chamado de engano; Santos joga assim mesmo.

Como acontece com a Mesa e o Processo, Santos pactua os protocolos, porém insiste em tomar os prisioneiros pela força, dificultando objetivamente o cumprimento daqueles. Ou seja, viola novamente o acordado. Na realidade, burlou as regras do jogo defendidas pelo governo. O Presidente, com sua suspensão, tomou o tabuleiro onde jogávamos a partida, destruiu a confiança. As coisas não poderão ser retomadas assim. Não mais, É preciso fazer inúmeras considerações.

É muito difícil, muito complicado fazer o Estado colombiano, seu governo, as classe no poder compreenderem que o conflito de meio século, o mesmo que buscamos colocar fim neste processo, é explicado pelas causas que o originaram e sustentam. E que essas causas, além da iniquidade e das injustiças galopantes no país, a mais destacável é a intolerância política, a perseguição declarada contra aqueles que planejam alternativas distintas ao regime.

A violência oficial, pela via militar, policial ou paramilitar, se encontra na base do nosso levante armado. Estamos convencidos de que esta guerra não ocorreria se o crime e a perseguição não tivessem sido empreendidos sistematicamente contra as lideranças da oposição ao regime oligárquico. Tem sido tanta e tão reiterada a intenção oficial de aniquilar a inconformidade, que se tornou legítimo apelar ao recurso das armas para fazer política.

Aí concentram as FARC o núcleo do processo de paz. Que sejam desmontadas todas as formas de violência política em nosso país, tanto a oficial e como a insurgente. Que sejam reconhecidas as responsabilidades correspondentes ante o mundo, a nação e as vítimas. Que se faça até o impossível para ressarcir estas últimas. Porém, que sejam abertas definitivamente as portas do exercício da oposição política a todas as correntes, com plenas garantias, sem excluir ninguém, pacífica e legalmente.

Ainda hoje insistimos em mostras de paz, em gestos contundentes que demonstrem nossa vontade de reconciliação. Um exemplo é o fato de termos recebido o enviado do Presidente, mesmo após ter nos insultado publicamente e suspender o processo de paz em violação aberta ao acordado. Outro, é termos prosseguido com as negociações apesar do Presidente ter ordenado o assassinato de nosso Comandante Alfonso Cano.

Gestos de paz. O que torna insustentável é o Presidente continuar se vangloriando de matar e matar. Enquanto trabalha com histeria, nós respondemos com dignidade. Sejamos sérios, Santos.

Timoleón Jumenez é comandante do Estado Maior Central das FARC-EP.

Montanhas da Colômbia, 22 de novembro de 2014.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB).


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