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20140327paraguaiParaguai - PCB - [Danto Giardina] A greve geral que parou o país inteiro, a indústria, o campo, as universidades e o setor público marca uma nova era no eixo político da nação vizinha.


80% destes setores saíram às ruas, avenidas e praças de Assunção e interior do país para manifestar as consignas de reivindicação nacional, concentrando-se para fazer um grande chamado de alerta ao governo, que não consegue atender as necessidades dos seus cidadãos.

Contexto Social

Em outubro passado foi aprovada no Senado paraguaio a lei Aliança Público-Privada (APP). Esta lei pretende entregar à administração das empresas públicas para organizações econômicas transnacionais, deixando claras as intenções neoliberais da gestão de Horacio Cartes, empresário cigarreiro e presidente do país, receita que vem sendo recorrente pelo Partido Colorado, inclusive, desde os tempos da recém abolida ditadura sofrida no Paraguai.

Não satisfeito com a lei das APPs, o mesmo Senado, representante da burguesia no governo da coisa pública, pretende militarizar o país; precisamente para defender todas as apropriações da burguesia contra o povo paraguaio, pois trata-se de quase 90% dos serviços públicos que pretendem ser administrados por empresas privadas e o resto pelo Estado. Isto é, estão inconformados inclusive com empresas nacionais, que exercem serviços menores e comercio pequeno. O descontentamento é portanto generalizado em diferentes segmentos da classe trabalhadora.

E são visíveis as bases desta orquestra: observa-se os aumentos de passagem de "transporte público", a decadência dos hospitais e serviços de saúde ao povo e a falta de atenção às escolas e demais instituições públicas. Sendo desviado do olhar da mídia, até a televisão pública se identificou ano retrasado com a resistência ao golpe parlamentar, e por isso foi finalmente transformada em mais um canal representante dos interesses das grandes sojeiras, tabacalerias e comercio em geral. O presidente Horacio Cartes é parte deste conglomerado burguês, na condição de proprietário das maiores tabacaleiras do país.

Organização

"Pelo menos em 60 anos, não tinha acontecido manifestação tão grande no Paraguai", declara Ricardo Canese, Secretário de Relações Internacionais da Frente Guasu. A Federação Nacional de Camponeses FNC, a Central Única de Trabalhadores Autentica CUT-A, a Frente Guasu, o Sindicato de Estudantes, aposentados, e até setores do Partido Liberal!!! participaram da massiva concentração na "Plazas de las Armas", entre o Cabido, o Senado e a Universidade Católica. Contou-se com uma participação do 80% dos setores convocados no país inteiro.

A cada ano, ao redor desta mesma data, a Federação Nacional Campesina (FNC) celebra a sua própria marcha contra o AgroNegócio e reivindica terras expropriadas. Abraçando também a Greve Geral, uniram suas forças os camponeses que vem de diversos estados do país, lutam ativamente contra os latifundiários que precarizam cada vez mais a vida no campo. Porém, acerca da produção para abastecimento do país, cabe lembrar o episódio em Marina Kú e da massacre de Curuguaty, no qual foram criminalizados grupos inexistentes vinculadas ao anterior governo Lugo. Diferente do que a mídia conservadora quer transmitir, os camponeses sabem muito bem em que condições se dirigem a estes eventos, tendo, inclusive, dispositivos de segurança do evento, que, em conjunto com o setor obreiro realizaram, e não como são falsamente plasmados de manipulados, como desaforadamente os acusam, a mídia simpatizante do governo.

Não obstante frente ao programa geral de "Não à lei sobre as APPs, não à militarização e não ao desatendimento do setor público", várias reivindicações foram também levantadas, como o pedido de liberdade aos presos políticos no presidio de Tacumbu, onde alguns companheiros se mantêm em greve de fome há 40 dias e também uma série de lutas laborais nos setores de comunicação, transporte, administração pública, educação e aposentados da Itaipu Binacional, que, 20 anos depois de concluírem os seus trabalhos, não receberam nenhum tipo de pensão. Também os estudantes exigiram educação de qualidade e maior inclusão nas universidades públicas.

Frente Guasu e Partido Comunista Paraguaio

A articulação de todas estas organizações, que chegaram a mobilizar milhares de paraguaios no pais inteiro chegou a agrupar, só em Assunção, mais de 15 mil pessoas. A Frente Guasu, e o Partido Comunista Paraguaio (PCP), como partido integrante da Frente, encarregaram-se de coordenar essa manifestação histórica e sem precedentes em termos de tamanho e força. Basta para isso lembrar que o movimento mais próximo deste ocorreu no país há 20 anos atrás, quando realizou-se uma greve menor que esta e que foi radicalmente perseguida pela mídia, ocasião em que dois camponeses foram assassinados pela repressão militar. No caso atual, todas as ações realizadas no país foram pacíficas e respeitadas pela Policia Nacional. Porém, o cerco de segurança estava deslocado em todas as concentrações. O PCP e seu braço juvenil, a Juventude Comunista Paraguaia (JCP), fizeram a leitura de que mais uma vez é demonstrado que só o Socialismo é a via para escapar do capitalismo, isto avaliado pela monumental participação popular que ocorreu no dia marcado, em que pesem as provocações do governo nacional, declarando que haviam grupos desestabilizadores infiltrados entre os trabalhadores do campo e dos sindicatos.

A mídia e o Estado

Perante a grande preparação e chamamento entre os diversos agrupamentos de esquerda, a mídia nacional não teve oportunidade de silenciar este evento: as ruas, avenidas, praças, redes sociais e assentamentos camponeses estavam inundados de panfletos e em clima de participação nas ruas. Porém, a mídia internacional não se manifesta sobre os importantes acontecimentos e centra as informações, nas estratégias impulsionadas por Cartes para "Brindar segurança" contra estes "grupos violentos", deslocando grupos especiais da Polícia Nacional e em algumas zonas do interior destacou militares, indicando que Coronel Oviedo, Villarrica, Santaní, Pilar y Encarnación eram qualificados como pontos conflitivos. No entanto, as manifestações ocorreram de forma pacífica.

Ao final das concentrações, Cartes anunciou que a greve ocorreu de forma "tranquila" e chamou os representantes do movimento a conformar uma mesa de diálogo. Bernardo Rojas, dirigente do CUT-A e Marcial Gomez da FNC declararam que não havia nada mais a ser discutido e que as demandas são concisas: o povo sabe o que quer.

Dos Resultados da Greve

Quase 100 mil pessoas foram mobilizadas na nação paraguaia, a mesma que é mostrada pela imprensa internacional como não participativa da política social do país. Alega-se que algo em torno de 50 milhões de dólares foram perdidos de diferentes empresas e administrações públicas por causa das 24 horas que durou a greve. O senador Luis Wagner e o deputado Ledezma, que participaram da greve, são mostra do descontento que se manifesta até no Partido Liberal, conhecido como polo de poder dos setores conservadores da sociedade paraguaia.

Por sua vez, o governo paraguaio se vê obrigado a tomar ações em torno destas insurreições populares que ainda seguem acontecendo no país, como o Festival Popular pela Greve Geral, apresentando várias agrupamentos musicais e artísticos, e a Liberação dos Presos Políticos no dia seguinte e as vigílias solidárias na frente do Hospital Militar pelos companheiros presos.

Estudantes no centro de Assunção continuaram a greve até o 27 de março e marcharam com suas consignas não só pela educação, mas pelas reivindicações gerais da greve.

Desde outubro, militantes de várias bases de ação, incluindo a JCP, têm mantido um Centro de Informação Alternativo chamado de Cigarrapy, onde publicam, via internet, os acontecimentos de levante popular que acontecem no país. Após a greve e considerando a participação constante no processo de divulgação, as ações do Centro tem ganhado bastante visibilidade entre as pessoas que buscam informação sem linhas editorias conservadoras. Além do mais, o governo tem dado declarações dispersas e sem embasamentos, tentando debilmente, mandar as pessoas voltarem "à normalidade".

Partido Comunista Brasileiro

O Partidão, estando em estreita relação com o PCP, enviou uma delegação para acompanhar, apoiar e registrar as diversas atividades, rompendo o cerco comunicacional que a mídia conservadora brasileira tem feito frente a maior mobilização popular paraguaia dos últimos tempos.

Foi divulgado através da imprensa livre Cigarrapy, uma mensagem em apoio e solidariedade não só aos camaradas camponeses e operários que lideraram as atividades, mas ao povo paraguaio a se manter em pé, saudando e parabenizando a todos os participantes e simpatizantes. Também a Unidade Classista se manifestou em solidariedade ao movimento e em repúdio às leis repressoras do Senado paraguaio.

O PCB se manifesta, transmitindo um grande sentimento de força ao povo paraguaio que defende o seu direito à liberdade de forma altamente organizada.

Danto Giardina é militante do Partido Comunista Brasileiro em Foz do Iguaçu, cidade brasileira que faz fronteira com o Paraguai.


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