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190613 ollanta humalaPeru - Carta Maior - [Eric Nepomuceno] Seu pai, um advogado marxista que foi líder socialista durante quase toda a vida, pôs nos filhos nomes incas. Ollanta, explica Isaac Humala, quer dizer guerreiro que tudo vê. E Ollanta, eleito presidente do Peru no dia 5 de junho de 2011, quando derrotou por pequena margem, no segundo turno, Keiko Fujimori, olhou, olhou, e acabou vendo o liberalismo com crescente benevolência.


Sua trajetória errática vem merecendo, há tempos, a atenção dos analistas. De formação militar – estudou na famigerada Escola das Américas, uma usina de ditadores criada por Washington –, ocupou postos de relativo destaque no combate à guerrilha do Sendero Luminoso. Aos poucos, foi adotando posições mais e mais nacionalistas. 

O aparecimento de Hugo Chávez, militar como ele, na Venezuela deu a Ollanta uma nova fonte de admiração. Em outubro de 2000, ao lado do irmão Antauro, também militar, encabeçou uma rebelião contra o presidente Alberto Fujimori, que naquela altura naufragava em marés de denúncias de corrupção e violações dos direitos humanos. A rebelião fracassou, e ele, como Chávez oito anos antes na Venezuela, foi preso. Pouco ficou na cadeia, sempre ao lado do irmão: o advogado dos dois reivindicou o direito de insurreição diante de um governo ilegítimo e totalitário, e conseguiu no Congresso uma anistia para eles. 

De volta à ativa, no governo de Alejandro Toledo ele foi contemplado com o posto de adido militar na França e na Coréia do Sul. Acabou sendo passado para a reserva em dezembro de 2004, com o posto de tenente-coronel. Meses depois, criou o Partido Nacionalista Peruano e anunciou que seria candidato à presidência nas eleições de 2006.

Esse o resumo biográfico de Ollanta Humala. Com um discurso radical de esquerda, alinhado a Hugo Chávez e a Evo Morales, em 2006 ele acabou sendo derrotado por Alan García, mas inscreveu o nome no cenário político peruano com destaque. 

Chamava a atenção pelo seu duro discurso contra o neoliberalismo, por sua furibunda crítica aos partidos tradicionais e pelo apoio explícito que sua candidatura recebeu de Hugo Chávez e Evo Morales. Defendia cinco pontos básicos para transformar o país: redução dos preços de gás e combustíveis; o equilíbrio no orçamento; abrir mão do salário de presidente, e ficar apenas com o soldo de militar da reserva; aumentar a jornada escolar, incluindo o café da manhã e o almoço; e denunciar o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. 

Acabou perdendo para Alan García no segundo turno, mas se tornou figura nacional. Nas eleições seguintes, em 2011, apareceu redesenhado, com um discurso menos duro, tratando de deixar claro que naquela vez seu modelo já não era nem Chávez nem Evo Morales, mas Lula. E foi eleito.

Passados dois anos, é outro o seu retrato. Depois de se unir ao Chile, ao México e à Colômbia – estrelas da contramão em que caminha a maioria dos governos latino-americanos – na firme defesa do livre mercado e do Estado mínimo, ele agora foi se aconchegar numa animada conversa com Barack Obama, para tratar de abertura econômica, novas relações comerciais e projetos de desenvolvimento. 

Não faz muito tempo, Ollanta Humala recebeu em Lima Tom Donohue, o presidente da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, de quem recebeu elogios cálidos, principalmente por estar ‘conectado com o empresariado’. Quer dizer: a figura assustadora de 2006 se tornou apenas preocupante em 2011, para agora virar modelo de sensatez e de boa conduta. 

A economia peruana continua pujante. Os programas sociais lançados por Humala em seus primeiros tempos de presidente foram mantidos, embora sua anunciada expansão tinha ficado nos anúncios. Ao mesmo tempo, vem levando adiante projetos de mineração que põem o meio ambiente em perigo, e ameaçam vastas áreas indígenas. 

A adesão de seu governo aos tratados de livre comércio com Chile, Colômbia e México marcou, num primeiro momento, o início de uma mudança surpreendente – ao menos para governos como os da Argentina, Venezuela, Equador, EL Salvador, Nicarágua e Bolívia. 

Aliar-se à linha mais conservadora da região chamou a atenção de analistas. Há quem mencione seu pragmatismo na defesa da linha de crescimento da economia peruana, que fechou em 6,29% em 2012 e deverá crescer outros 5% este ano. Há, nos Estados Unidos, quem desconfie de sua súbita conversão aos deuses do mercado. E há, enfim, os que digam que ele está apenas, e uma vez mais, dando mostras exuberantes de seu oportunismo desenfreado: soube ser chavista quando Chávez estava no auge, soube ser lulista quando isso poderia tranquilizar o eleitorado, e finalmente está mostrando quem realmente é.


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