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210912 timoleonColômbia - Diário Liberdade - [Carlos Lozano, tradução do Diário Liberdade] Primeira entrevista exclusiva com o máximo comandante das FARC-EP, Timoleón Jiménez, realizada por Carlos Lozano, Diretor do semanário VOZ


O Presidente repete que não pensa cometer os erros do passado e confiamos em que assim seja. Você sabe que o principal erro de todos os processos anteriores foi o de chegar à mesa a exigir rendições?, disse o comandante Timoleón Jiménez ao Diretor de VOZ

Timoleón Jiménez, comandante em Chefe do Estado Maior Central das FARC-EP, é cabeça visível do lendário movimento guerrilheiro, hoje comprometido na procura da paz democrática, mediante um novo diálogo com o Governo colombiano. É a continuidade de uma orientação da guerrilha das FARC-EP. Tinha-o dito Manuel Marulanda a VOZ, durante os diálogos do Caguán: “A paz é uma bandeira dos revolucionários”.

Esta entrevista dá-se em um momento histórico, às portas de um novo esforço para conseguir a paz na Colômbia. Aqui estão as respostas de Timoleón Jiménez, concretas, precisas. Pode dizer-se, sem falso otimismo, que a paz está mais perto que antes, mas ainda há muito percurso por diante. Todo o país espera que não seja uma nova frustração.

- Começa um novo processo de diálogo com um Governo de alguma maneira herdeiro da “segurança democrática” uribista. Como o abordam as FARC?

Nós sempre tivemos disposição para a procura de soluções diferentes à guerra. Com Uribe não foi possível, devido ao seu aberto desconhecimento da nossa condição política. Santos não é só herdeiro da segurança democrática, mas um dos seus protagonistas estelares. De fato, com maquiagens, tem continuado com ela. Mas como ele mesmo o diz, decidiu assumir os riscos de dialogar e deu passos positivos nessa direção.

Qualquer colombiano diria que o verdadeiro risco é a guerra e não o diálogo, por isso não duvidamos em aceitar as conversas para buscar a paz. Quanto ao modo de se abordar o novo processo, diria que o fazemos com grandes expectativas de atingir o fim do conflito. O Presidente repete que não pensa cometer os erros do passado e confiamos em que assim seja. Você sabe que o principal erro de todos os processos anteriores foi o de chegar à mesa a exigir rendições, sem vontade real de atender à solução das causas que deram origem e continuam alimentando o confronto.

- A agenda inclui o tema do “abandono das armas”, que seria o ponto de chegada de um acordo ou pacto de paz. Que expectativas têm as FARC quanto a isso?

Careceria de sentido iniciarmos um processo encaminhado a conseguir o fim definitivo do conflito, sem prever o abandono das armas como ponto de chegada. Abandono das armas consiste na abolição do recurso à força, do apelo a qualquer tipo de violência para a consecução de fins econômicos ou políticos. É um verdadeiro adeus às armas. Se conseguíssemos que na Colômbia isso fosse uma realidade, nosso país teria dado um salto enorme para adiante. Confiamos novamente em que a administração Santos e todos os setores empenhados na violência como método de ação econômica e política, coincidam nesse critério conosco.

Os “erros do passado”

O Presidente Santos disse que seu Governo requer que este processo de diálogo “não repita os erros do passado”; que exista a garantia que vai conduzir ao fim do conflito; e que o Governo manterá os operativos militares e a pressão militar sobre as FARC. Quais são os pressupostos da insurgência para que o processo culmine com sucesso?

A oligarquia dominante na Colômbia, apoiada solidamente pelos Governos dos Estados Unidos, leva já quase 50 anos apostando no extermínio das guerrillas. Doze Presidentes, um com mandato repetido, prometeram invariavelmente o nosso fim e dado mãos livres ao aparelho militar para o cumprir. Quando Santos ordena incrementar as operações não está dando satisfações aos setores de extrema-direita, faz isso porque acha, como eles, como todos os anteriores governos, que realmente poderá render as FARC por obra da força.

Precisamente é esse o círculo vicioso que se precisa romper. Se você observar o plebiscito geral de aprovação às conversas de paz, vai concordar com que o imensa maioria dos colombianos não compartilha a saída militar, entre outras coisas porque, com maior sensatez que seus governantes, sabe que não será possível. Nós partimos da ideia de que este processo será bem sucedido na medida que essas grandes maiorias que são pela solução política tenham oportunidade de falar, de se mobilizar, de influir, de decidir sobre o assunto. E estamos a convidar a que o façam.

- Em vários setores que apoiam o diálogo está se fazendo a proposta de cessar-fogo e de hostilidades. Que opinam as FARC-EP?

Concordamos completamente. Sempre foi um de nossas primeiras propostas ao se produzirem aproximações com os diferentes governos. Infelizmente, a oligarquia colombiana tem se inclinado porque os diálogos se produzam no meio da confrontação. Se o processo passado tivesse estado acompanhado de um mecanismo dessa natureza, outra teria sido a sorte do mesmo.

Na Colômbia, as clases dominantes, sua classe política e seus meios de comunicação têm a teima de olhar só para um dos lados. Informar da matança de 30 guerrilheiros em um bombardeio aéreo desperta seus aplausos, enquanto as baixas oficiais em combate se repudiam como assassinatos. Com essa manipulação busca-se também pressionar-nos grosseiramente nas mesas de diálogos.

O papel de VOZ

Vocês, como médio alternativo de heroica perdurabilidade, são talvez o que de maneira mais honrada têm informado ao país, desde décadas atrás, da infame perseguição criminosa praticada na Colômbia contra esse tipo de organizações. Dos arquivos de VOZ poderia ser elaborado a mais fidedigna história dos crimes de Estado contra o povo neste país. O número de vítimas na Colômbia é equiparável ao horrível holocausto judeu na Europa ocupada pelos nazistas. Então adquire singular importância o papel dos diferentes movimientos sociais, sindicais, agrários, populares, que o Estado colombiano pretende ignorar ao abordar com migalhas de maneira individual, um ou outro caso emblemático. Essa Colômbia ignorada e vitimizada é a que tem que se pôr de pé agora para reclamar por seus mortos e desaparecidos, para exigir o fim definitivo da guerra, para impedir que se consagre a impunidade, para exigir a satisfação dos velhos clamores pelos que foi violentada de modo tão generalizado e atroz.

- Que opina de 6 a 8 meses que prevê o Presidente Santos?

Trata-se de uma expectativa que ele está gerando por sua conta, contrária ao pactuado na letra e o espírito do Encontro Exploratório. Ali concertou-se não pôr datas fatais, nem sequer a palavra meses, de modo que o expresso pelo Presidente indica o difícil que vai ser este caminho que empreendemos. De passagem, evidencia de maneira clara a estratégia que vão implementar: quando não consigam algo na mesa, tentarão impor na mídia.

Para chegar a Havana e realizar o Encontro Exploratório demoramos dois anos, quando inicialmente se achou que seria questão de semanas. E não foi precisamente por causa da insurgência, tema do qual não quero dar detalhes por respeito ao compromisso de manter pelo momento em reserva os pormenores sobre a questão, e apesar de que, pelas crônicas que têm saído nos meios, a outra parte pareça ter esquecido disso.

Um assunto dos colombianos

- Que proposta política fazem as FARC-EP aos colombianos ao começar o diálogo?

Mobilizar-se em torno do fim definitivo do conflito. A guerra ou a paz são assuntos que nos dizem respeito a todos os colombianos e estamos obrigados a nos pronunciar. O Governo pretende que os diálogos se realizem exclusivamente entre seus porta-vozes e os nossos, de modo discretíssimo, sem barulho, como repete insistentemente. Como quando Laureano Gómez e Lleras Camargo assinaram na Europa os acordos de Sitges e Benidorm. Além disso, pretende que as FARC demos lá o apoio a seus planos de governo, como os mais convenientes para o país.

Isto é, que se desconsidere mais uma vez a população colombiana, que se pactue nas suas costas o que realmente só interessa e conviene às transnacionais, banqueiros, empresários e fazendeiros. Isso não pode acontecer mais neste país. As grandes maiorias devem ser escutadas e atendidas. Nossa proposta aponta para aí.

- Por que se decidiram as FARC a assumir esta nova tentativa de paz? Debilidade? Estratégia? Realismo?

Quem afirma que a pressão militar foi definitiva para mover a uma negociação política, esquece que esta década de guerra se desatou quando Pastrana pôs fim de maneira unilateral ao processo de paz que decorria no Caguán. É o Estado que regressa à Mesa de Diálogos com as FARC, para o qual fará suas avaliações internas. Uma delas, embora não a faça pública, tem que ser o reconhecimento de que o enorme esforço realizado para nos vencer tem resultado inútil. As FARC seguimos aí, combatendo, resistindo, avançando. Agora voltamos ao palco natural da política, os diálogos civilizados. É absurdo afirmar que nos obrigaram a sentar à Mesa, quando foi o Estado que se levantou furioso dela. Dialogamos, porque a solução política foi sempre uma bandeira nossa e do movimento popular.

Sérios golpes

- Mas então não receberam as FARC golpes severos durante nos últimos dez últimos anos?

Não pode ser negado que recebemos sérios golpes. E muito dolorosos. As mortes de quatro membros do Secretariado Nacional não podem ser minimizadas. São muito duras também as mortes de combatentes sob o fogo dos bombardeios. No entanto, assimilamos com coragem todos esses casos. Nenhum dos atuais membros do Secretariado tem menos de trinta e cinco anos de experiência guerrilheira, o qual acontece também com quase todo o Estado Maior Central. Os relevos não se improvisam. 48 anos de luta contínua produziram um formidável engrenagem. Seguimos adiante, com dor na alma, mas mais avezados e convictos de nossas razões. Em toda guerra tem mortos. A campanha mediática faz questão de nos apresentar como uma organização derrotada e sem futuro. Tem sido sempre assim. Se estivessem enfrentando uma força vencida, não estariam trabalhando em incrementar ainda mais as suas forças e o já enorme arsenal adquirido. Essas são verdades que o Estado e os meios ocultam deliberadamente.

- Então, embora as FARC não executem ações do calibre das de catorze anos atrás, pode ser afirmado que a confrontação continua sendo de grandes proporções? O Ministro de Defesa minimiza-os às vocês por completo e alega que a confrontação persiste tão só na área rural de dez municípios isolados do país...

As FARC-EP operamos e nos movemos nos mesmos territórios que eles ocupam. O suposto controle exercido pelos comandos conjuntos, forças de tarefa, brigadas e batalhões, é posto em dificuldades com frequência pela atividade das guerrilhas móveis. O número de baixas das forças armada tem vindo a crescer desde faz tempo. Claro, também nós recebemos golpes, bem mais publicitados pelos meios. É que esse é o conflito. Uma guerra livra-se segundo as circunstâncias, não existem modalidades operativas válida para todas as situações.

É óbvio que as condições de hoje não são iguais às de uma década atrás, sobretudo por uso em massa da aviação militar, mas os combates são diários. Em todos os Blocos das FARC, trabalha-se em função de variar essa equação em qualquer momento. Seja como for, a continuidade do conflito implicará maior morte e destruição, mais luto e lágrimas, mais pobreza e miséria para uns e maior riqueza para os outros. Imagine-se as vidas que se tivessem poupado estes dez anos. Daí que busquemos os diálogos, a solução incruenta, o entendimento por vias políticas. Com esse própósito é que vamos a Havana. Confiamos em que o Governo Nacional também entenda a necessidade de pôr fim a tão longa violência praticada contra o povo colombiano.


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