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bceAlemanha - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Com a introdução do euro, os monopólios europeus ganharam um instrumento de primeira ordem para controlar a região. Os bancos centrais nacionais perderam a possibilidade de emitirem moeda própria. Sem conseguirem desvalorizar a moeda, ficaram submetidos às regulamentações impostas pela Comissão Europeia e o BCE que são órgãos controlados pelo governo alemão e o Bundesbank (o banco central alemão).


Ao centro, Mario Draghi, presidente do BCE, e à direita, Angela Merkel, chanceler alemã. O BCE está a serviço do imperialismo alemão e fez com que o euro estabilizasse as diferenças em benefício da Alemanha. Foto: Conselho Europeu (CC BY-NC-ND 2.0)

Banco Central Europeu, a serviço de quem?

O euro estabilizou as diferenças em benefício da Alemanha. As pesetas, dracmas ou liras foram substituídas por uma moeda mais forte, sob a pressão do marco alemão, o que provocou a perda do poder de compra e favoreceu as exportações alemãs, sem terem que enfrentar as desvalorizações locais.

Esse problema ficou muito mais acentuado às vésperas do colapso capitalista de 2008 e conduziu os chamados PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) à recessão.

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Alemanha: o coração do capitalismo europeu (Parte V)

A integração da região tem provocado o crescente contágio da crise dos países periféricos na direção dos países centrais. Esse é o motivo que está por trás do direcionamento das políticas da Alemanha em dois sentidos. Em primeiro lugar, apertar o cerco sobre os demais países da Europa, e sobre os próprios trabalhadores, embora que em escala menor. Ao mesmo tempo, com o objetivo de reduzir a dependência dos demais países europeus, dos quais ainda dependem mais de 45% das exportações, a Alemanha passou a disputar novos mercados na Europa Oriental, na China, nos Estados Unidos e até, embora que em menor escala, na América Latina.

Crise do BCE, crise do regime político

Todas as políticas implantadas pelo BCE (Banco Central Europeu) têm fracassado. O chamado quantitative easing (alívio quantitativo), que hoje implica no repasse de 60 bilhões de euros por meio da compra de mais títulos financeiros podres pelo valor de face, fracassou miseravelmente nos Estados Unidos. Mas qual seria a alternativa?

A burguesia alemã conta com duas políticas principais neste momento. A ala dura, liderada por Schäuble, o ministro das Finanças, busca manter o aperto contra os países da União Europeia e aumentar o parasitismo financeiro. A ala encabeça por Angela Merkel busca mecanismos para manter o fluxo de recursos para a Alemanha e evitar a bancarrota dos grandes bancos. Ela é a favor da restruturação da dívida grega com o objetivo de que ela continue sendo paga.

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Os conflitos políticos internos ainda se encontram controlados, apesar que a aliança de direita, liderada pela CDU (União Democrata Cristã), de Angela Merkel, teve que ser substituída por uma nova “Grande Coalisão” que inclui o PSD, o Partido Social-democrata.

A situação política ainda está controlada, com a extrema-direita não aparecendo no cenário político como uma força. As massas se encontram pacificadas. O desemprego é baixo, apesar da recessão industrial e da precarização, e ainda absorve uma parte importante da mão de obra desempregada da periferia. Mas a crise política aumenta.

Os franceses e italianos se enfraqueceram e aparecem como potências de segunda ordem que tocam de acordo com a música dos alemães. Principalmente a ala liderada por Merkel vê na desestabilização desses dois países uma ameaça para a Alemanha. Enquanto os parlamentos da maioria dos países europeus não funcionam no verão europeu, a ala direita se movimenta nos bastidores na tentativa de aumentar o aperto sobre a região.

A Alemanha e a França passarão por eleições gerais em 2017. Merkel não conseguiu dar continuidade na aliança com o FDP, o partido da direita abertamente neoliberal, porque este colapsou. Hollande aplicou uma política diametralmente oposta ao que tinha prometido durante a campanha eleitoral e o PSF sofre um duro desgaste. A Frente Nacional tem sérias chances de estar no segundo turno nas próximas eleições.

Regras? Para quem?

O controle dos déficits e superávits públicos representa uma das tarefas da Comissão Europeia, com a prerrogativa de impor sanções. Mas nunca fez absolutamente nada nesse sentido contra a Alemanha, apesar da retórica que propagandeou em 2013, durante o pico da crise dos títulos da dívida pública dos PIIGS. As demais potências, a França, a Itália e o Estado espanhol, têm ficado apertadas pelos déficits e a não punição tem sido o instrumento de controle usado pelos alemães para impor a própria política.

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Alemanha: o coração do capitalismo europeu (Parte XII)

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O equilíbrio fiscal é impossível de ser obtido por causa do direcionamento do grosso dos recursos para garantir os lucros dos monopólios. A obtenção dos lucros a partir da produção tem se esgotado. O grosso dos capitais tem sido direcionado para a especulação financeira, que atua como uma espécie de buraco negro sobre a sociedade.

Enquanto todos os países da Zona do Euro enfrentam crescentes déficits fiscais, a Alemanha continua “disfrutando” de recorrentes superávits. Se o governo alemão tivesse alguma intenção de diminui-lo, com o objetivo de promover uma certa estabilização geral, poderia, por exemplo, reduzir os impostos sobre o consumo doméstico e os salários, aumentar os salários e / ou aumentar os gastos públicos. Mas essa política iria contra a política geral da União Europeia de imposição dos planos de austeridade, que significa “tudo para os especuladores financeiros”. A pressão do capital financeiro é para que o repasse de recursos públicos para os bancos seja aumentada. Os investimentos na produção fazem parte do passado por causa da disparada do parasitismo.

Dívida pública? De quem?

As dívidas públicas dos países europeus têm disparado nos últimos anos devido ao aumento da pressão dos monopólios para evitar a explosão dos enormes volumes de títulos podres que eles detêm.

As chamadas dívidas públicas não passam de mecanismos especulativos para permitir o repasse de recursos pelo BCE para os grandes bancos. A conta é passada para as massas trabalhadoras.

Conforme foi revelado pela recente auditoria da dívida pública realizada na Grécia, os recursos dos “resgates” nem sequer passam pelas mãos dos gregos. Existe uma empresa em Luxemburgo (um paraíso fiscal), que é controlada pela Alemanha e a França, para onde são direcionados os recursos dos “resgates”, que são potencializados na especulação financeira e repassados para os bancos.

O capitalismo atingiu um altíssimo grau de parasitismo financeiro e transformou o mundo numa espécie de casino financeiro, onde um punhado de especuladores obtêm altos lucros por meio de mecanismos de apostas e contra apostas e inevitavelmente vão à bancarrota, da mesma maneira que acontece em qualquer casino. Mas sempre têm sido resgatados pelo estado burguês.

No colapso capitalista de 2008, somente no resgate do banco alemão Hypo, o governo gastou 102 bilhões de euros. Nos Estados Unidos, somente entre 2007 e 2010, segundo dados do Congresso, foram gastos US$ 16 trilhões. O efeito dessa política é que o estado burguês tem se enfraquecido e terá muito maiores dificuldades para enfrentar o novo colapso que aparece no horizonte.

Os crescentes ataques contra as massas deverão ficar cada vez mais duros. A luta de classes deverá se acirrar. A burguesia tenta ir introduzindo no campo político o fascismo, conforme a classe operária começa a acordar do longo “sono neoliberal”. Está colocado para o próximo período o enfrentamento aberto entre o proletariado e a burguesia.


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