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kapitalDiário Liberdade - [Alejandro Acosta] As principais leis do capitalismo atuam independentemente da vontade dos indivíduos. Elas funcionam de maneira automática, dependem de bilhões ou trilhões de transações comerciais que acontecem a diário, e são fruto da evolução histórica. É o mundo das mercadorias.


Foto: Olga Berrios (CC BY 2.0)

A lei do valor: “vilã” da crise capitalista

O alemão Karl Marx estudou detalhadamente o funcionamento do sistema capitalista, no país mais avançado da época, a Inglaterra, durante décadas. Os resultados foram escritos na obra-prima “Das Kapital” (O Capital).

O ponto de partida das várias descobertas é que os seres humanos estabelecem relações econômicas, a partir das quais se agrupam em classes sociais. Esta é a economia, que representa a estrutura de toda sociedade. Em cima dessas relações sociais são criados mecanismos políticos e jurídicos (a superestrutura) que defende a situação econômica. As ideias são um reflexo da sociedade real.

A lei do valor é a lei principal do capitalismo, é o motor que impulsiona o seu funcionamento. Ela determina o fluxo e refluxo dos capitais dos vários setores da economia, de acordo com a taxa de lucro.

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O único gerador de valor é o trabalho humano, que é produzido a partir de uma mercadoria específica, a força de trabalho ou mão de obra. As máquinas não geram valor, pois são amortizadas e, nos procedimentos contábeis, simplesmente repassam, de maneira gradual, como custo, o investimento realizado. Na circulação, no processo de compra e venda, os ganhos e perdas tendem a nivelar-se. A fonte de lucro dos capitalistas é a mais-valia, a diferença entre os salários pagos e o valor criado pelos trabalhadores.

Os capitalistas, que dominam a sociedade atual, jogam rios de dinheiro com o objetivo de manter os privilégios. Este farto financiamento é a base da proliferação de ideias sobre a eternidade do capitalismo, sobre que a origem do lucro não viria da força de trabalho, sobre a “democracia” e o “livre mercado”etc.

A lei da livre concorrência

A concorrência leva a que a massa geral de mais-valia gerada na sociedade seja repartida, como tendência, de maneira homogênea entre os capitalistas, independentemente do ramo de atividades. Hoje, a taxa de lucro das operações industriais nos países desenvolvidos é extremamente baixa. Por esse motivo, o grosso das manufaturas têm sido transferido dos países desenvolvidos para os países atrasados, onde o custo da mão de obra é muito menor. A situação tende a acentuar-se conforme o centro tem entrado em crescente recessão.

O lucro da Volkswagen, por exemplo, vem das fábricas localizadas na Polônia, na China, no Brasil, na Argentina e nos países asiáticos, em primeiro lugar. Ainda mais, o Banco Volkswagen participa, em larga escala, da especulação financeira. Sobre a base de gigantescos volumes de recursos públicos, que são repassados a taxas de juros em torno a 0%, o Banco realiza o grosso dos lucros apostando em títulos públicos e privados, principalmente nos ultra nefastos derivativos financeiros que, entre outros, contêm os títulos dos financiamentos de automóveis.

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As bolhas financeiras que têm estourado têm ajustado as taxas de lucro em direção à média, por meio da destruição desenfreada das forças produtivas, conforme foi visto claramente na crise financeira de 2008.

Para o próximo período, está previsto uma crise capitalista mundial, que adota a aparência de crise financeira, muito pior que a crise de 2008. Os gigantescos, e crescentes, volumes de capital fictício acumulados no mundo, devido à falta de colocação produtiva, têm tornado esse processo muito mais explosivo.

Ao mesmo tempo, os monopólios impõem preços monopolistas e, por meio do controle do Estado burguês, controlam todos os aspectos da sociedade burguesa. O predomínio da livre concorrência é próprio do período liberal do capitalismo, o século XIX. Hoje, predomina o parasitismo financeiro, promovido sobre a base do assalto aos cofres públicos. O chamado “livre mercado” não passa de uma farsa, mas a concorrência entre os monopólios se desenvolve em escala mundial. O aprofundamento da crise capitalista impulsiona a necessidade contínua de ampliar a reprodução e disputar o mercado mundial, de maneira encarniçada. Esses fatores se encontram na base das inúmeras guerras que têm devastado o mundo nas últimas décadas.

A lei da tendência à queda da taxa geral de lucro

A concorrência entre os capitalistas impulsiona, de maneira automática, a disputa pelo aumento da produtividade e pela redução de custos, por meio da implementação de novos processos e da automação industrial, em cima de máquinas e tecnologias mais modernas, o que acarreta a redução do número de trabalhadores.

A mais-valia extraída apresenta a tendência a cair o que provoca a queda dos lucros que representam o motor da economia capitalista.

Na tentativa de conter a ação da lei, os capitalistas aumentam a intensidade do trabalho, reduzem os salários, por meio de processos de terceirizações e, no último período, por meio de ataques ainda mais frontais, promovem ataques por meio dos programas de austeridade e se valem de trabalho escravo, em proporções nunca vistas nos últimos séculos.

Mas todas essas tentativas não conseguem abortar a ação da lei, apenas a contém temporariamente, para voltar posteriormente ainda com maior intensidade. Sobre esta base, aumentam as lutas operárias.

Na China, por exemplo, o salário médio dos trabalhadores passou de US$ 30 na década de 1980, para US$ 260. No Vietnã, que os monopólios pretendiam transformá-lo, parcialmente, numa nova China, desde 2007, os salários passaram de US$ 45 para menos de US$ 100.

Na Alemanha, o poder de compra dos trabalhadores foi muito rebaixado desde o final da década de 1990. O chamado “estado de bem-estar social” se encontra em processo avançado de decomposição, mas ainda os trabalhadores conseguem ser mantidos pacificados. A pergunta é até quando esta situação irá se manter perante o aumento da pressão do aprofundamento da crise capitalista desde a periferia em direção ao centros.

A tentativa de aumentar o processo de rotação do capital, de agilizar os processos de vendas e a diminuição dos estoques, tem se chocado com o crescente empobrecimento das massas.

A crise de superprodução se encontra na base da crise capitalista atual, aberta numa nova escala em 2008. O aumento exponencial do crédito, em cima de recursos públicos, está levando o mundo inteiro a enormes bolhas financeiras. No Brasil, o “modelo de crescimento Lula” se esgotou, com o colapso do chamado “superciclo” das matérias-primas (commodities), e deixou como saldo a disparada da inadimplência e do endividamento em níveis históricos, com o governo fomentando-os ainda mais devido à falta de alternativas.

Na Alemanha, que é uma das duas grandes potências imperialistas industriais, a indústria entrou em recessão. Os monopólios industriais passaram a demitir e os bancos se encontram hiper contaminados com títulos podres. Somente o Hypo Real State recebeu mais de 100 bilhões de euros do Bundesbank (o banco central alemão) para evitar a bancarrota.

A desvalorização do capital constante empregado (principalmente, as máquinas e equipamentos) e, principalmente, a crise capitalista, que leva à destruição em larga escala das forças produtivas, permitem, junto com superexploração dos trabalhadores, que os mecanismos da produção capitalista não engripem. Ao mesmo tempo, as crises aumentam as compras e consolidações, reforçando ainda mais o processo de monopolização da economia. O grosso da competição agora se processa em escala mundial por gigantescos monopólios que, na disputa do mercado mundial, levam o parasitismo a níveis absurdos, além de impulsionarem o militarismo e as guerras.

O capitalismo atual é um capitalismo de Estado parasitário

O principal mecanismo que permitiu ao capitalismo superar a depressão da década de 1930 foi a escalada da intervenção do Estado burguês na economia. O chamado keynesianismo foi a corrente da economia burguesa que deu corpo teórico à necessidade do Estado promover investimentos com o objetivo de tirar a economia do pântano. Os gastos militares dispararam e foi estruturado o chamado complexo industrial-militar nos países desenvolvidos, disparando o parasitismo financeiro às alturas.

A crise capitalista de 2008 enterrou o papel redentor do Estado burguês, que agora aparece como o grande concentrador da crise capitalista mostrando o crescimento, nas entranhas da velha sociedade, da nova sociedade socialista. O gigantesco e crescente endividamento público demonstra que as crises não reciclam o capitalismo. Elas permitem a continuidade do funcionamento, mas ao custo do contínuo enfraquecimento. A comparação que ilustra graficamente este fenômeno seria o envelhecimento de um ser humano que na velhice continua vivendo, mas com doenças, e turbinado com remédios e pontes de safena.

Trata-se de um conteúdo cada vez mais parasitário e podre protegido por uma casca que é o Estado burguês.

Socialismo dentro do capitalismo?

As atividades bancárias tradicionais estão encolhendo em todo o mundo, se concentrando em atividades, cada vez mais, especulativas e disparando a dependência do Estado burguês que aparece como o grande concentrador da crise devido à impossibilidade das multinacionais imperialistas funcionarem além de operações parasitárias. O enorme, e imparável, endividamento público é um fator no processo de contínuo enfraquecimento do imperialismo, mas revela, ao mesmo tempo, a semente do socialismo crescendo dentro do capitalismo – a necessidade do planejamento centralizado da economia.

A existência de monopólios que empregam centenas de milhares de trabalhadores em todo o mundo e que movimenta a cadeia de fornecimento e produção em escala mundial não é própria do capitalismo, que é um sistema social amarrado aos Estados nacionais. Neste sentido, o processo de produção tem se tornado, cada vez mais, social, enquanto um punhado de parasitas se apropria dos lucros. Esta é a base da crise capitalista. A capacidade produtiva se choca com um mercado muito reduzido por causa da pobreza do grosso da população mundial. Segundo as Nações Unidas, quase um bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia e quase dois bilhões com menos de dois dólares por dia.

O papel histórico da revolução proletária, que representa o último ato da evolução histórica do capitalismo, reside na destruição dessa casca e na expropriação dos meios de produção do punhado de parasitas financeiros que domina o mundo.


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