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armasAlemanha - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Após a derrota da Alemanha nazista e do Japão na Segunda Guerra Mundial, as potências vencedoras, encabeçadas pelos Estados Unidos, desmantelaram os exércitos e impuseram a proibição do rearmamento. Essa situação prevaleceu até o final da década passada, em linhas gerais, apesar de começarem a aparecer mudanças após a crise capitalista de 1974.


A Alemanha se converteu no quarto maior exportador mundial de armas. Foto: Sargento David Bruce (CC BY 2.0)

A Alemanha pode ressurgir como potência militar?

O colapso de 2008 colocou em xeque as políticas de contenção da crise capitalista. O parasitismo escalou e a “saída” militarista foi colocada à ordem do dia. A Alemanha e o Japão, as maiores potências industriais de primeira ordem do planeta, têm dado passos ainda relativamente tímidos neste sentido, mas o caminho já está marcado.

A Alemanha se converteu no quarto maior exportador mundial de armas e o Japão derrubou a Constituição “pacifista” de 1947. Ambas potências avançam rapidamente no sentido da reconstituição do exército e do fortalecimento da produção e exportação de armas que, num primeiro momento, tem como foco os países das respectivas regiões.

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A “solução” impulsionada pelos chineses, o Novo Caminho da Seda, da qual a Alemanha e a França são componentes chaves, na realidade, não é uma solução. A crise capitalista é uma crise de superprodução. A aceleração do ciclo da circulação das mercadorias e a colocação no mercado de mais produtos, mesmo que mais baratos, tendem a se chocar com o empobrecimento crescente, o desemprego, a carestia de vida e a inflação.

Conforme a crise capitalista mundial se aprofunda, a tendência é que a disputa pelo controle do mercado mundial se torne cada vez mais acirrada. Se fortalece a política do salve-se quem puder. As contradições têm se concentrado com as potências regionais. Para o próximo período, essas contradições tendem a exacerbar-se nos centros, entre os países imperialistas.

O fortalecimento da indústria armamentista

O grosso do orçamento da OTAN (Organização do Atlântico Norte) depende dos Estados Unidos. A política alemã tem buscado manter esses gastos reduzidos, muito abaixo do limite dos 2% do PIB estabelecidos.

A Alemanha tem se mantido distante das aventuras militares dos Estados Unidos no Iraque, no Afeganistão e na Líbia. Em alguns casos, entrou em cena mais tarde, em papéis secundários. No caso das invasões da Líbia e do Iraque, a França, que é o aliado mais próximo da Alemanha, tinha interesses próprios. As próprias petrolíferas e bancos acabaram sendo relegados a um papel secundário em relação aos monopólios norte-americanos.

De acordo com o Instituto SIPRI (Stockholm International Peace Research Institute), os cinco maiores exportadores de armas são os Estados Unidos, a Rússia, a China, a Alemanha e a França, responsáveis por 74% do total das exportações mundiais. Em 2014, a Alemanha exportou apenas o equivalente a 15% das exportações norte-americanas, mas esse volume representou o triplo de 2001, sem considerar as exportações da França, que é o aliado mais próximo, junto com o qual controla o complexo industrial-militar europeu.

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A europeia EADS, controlada, em conjunto, pela Alemanha e pela França, representa a sétima maior empresa de armas do mundo, em relação às exportações, mas a segunda em relação ao faturamento, apenas atrás da Boeing.

À EADS se somam várias empresas que mantiveram laços históricos com a indústria militar nazista, como a Carl Walther GmbH Sportwaffen, a Diehl BGT Defence, a Heckler & Koch, a Krauss-Maffei, a Rheinmetall, a Mauser, a Lürssen, a Thyssenkrupp e a MBDA. Na França, ainda há a Dassault Aviation, a DCNS, a Thales e a GIAT Industries. No momento em que o faturamento dessas empresas tem caído, impactado pela queda das exportações à Europa, à Rússia e à China, o caminho natural é a migração de capitais para o setor armamentista.

Há poucas semanas, o governo alemão publicou a lista das exportações de armas desde 2002, a partir de um mandato que teve como origem uma ação promovida por representantes no Parlamento (Bundestag) do Die Linke (A Esquerda). A Alemanha representa hoje o quinto maior fornecedor de armas do Oriente Médio, principalmente a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Egito, o que tem se transformado num escândalo público.

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Os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita sufocaram num banho de sangue os protestos no Bahrein, de março de 2011. Ao mesmo tempo, são os principais financiadores de grupos guerrilheiros que têm sido usados para desestabilizar os governos “menos fieis” na região. A ditadura de al-Sisi, no Egito, representa uma versão atualizada do pinochetismo no Oriente Médio.

Além das exportações de armas, os alemães forneceram tecnologia para os sauditas produzirem o fuzil de assalto Heckler & Koch que se transformou na principal arma da OTAN e da maioria das organizações guerrilheiras no Oriente Médio.

Recentemente, o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, do PSD (social-democrata), viajou à Riyadh, a capital da Arábia Saudita, para tratar das exportações de armas e tentar procurar mecanismos para deslindar-se da política militar do governo da CDU/CSU de Angela Merkel. Os social-democratas têm se posicionado, demagogicamente, a favor da suspensão das exportações de armas para o Oriente Médio enquanto a CDU/CSU tem levantado a política de que essas exportações representam “uma ferramenta vital da legitimidade” da política exterior da Alemanha.

Mas a necessidade de salvar os lucros dos monopólios a qualquer custo fala mais alto, principalmente, no contexto de uma economia em crescente estagnação. A “saída” militarista, junto com a especulação financeira, está sendo impulsionada em todo o mundo sem exceção por causa do esgotamento histórico do sistema capitalista, devido à crescente dificuldade de extrair lucros da produção.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal. Atualmente, encontra-se na Alemanha.


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