Presidente da Polônia, Andrzej Duda. Foto: Parlamento Europeu (CC BY-NC-ND 2.0)
O que representa a vitória nas eleições presidenciais?
O Partido Lei e Justiça volta a ficar à frente do governo polonês, após o último período em que isso aconteceu, entre 2005 e 2007, com Lech Kaczynski, o inspirador de Duda. Naquele período, as contradições com a Alemanha escalaram. A política era tão direitista que foi rejeitada pelos alemães. Esse também é o estado atual das relações dos alemães com a Lituânia, o país Báltico que mantém laços históricos de primeira ordem com a Polônia.
Duda obteve 51,6% dos votos válidos. Ele derrotou Bronislaw Komorowski, do Plataforma Cívica, que havia obtido 55,4% dos votos no primeiro turno.
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Duda se apresenta não somente como um anticomunista, mas também como um candidato "novo e renovador", o que é a bandeira clássica da extrema-direita europeia.
Mas o Partido Lei e Justiça não controla o governo. Depende de conseguir a maioria nas próximas eleições parlamentares que acontecem ainda neste ano. Para isso, se faz necessário o voto de confiança da burguesia polonesa, o apoio da direita norte-americana e europeia e a neutralização da política dominante da União Europeia, encabeçada pela chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês, François Hollande.
Por enquanto, Duda terá como funções apenas o veto e a representação diplomática em alguns eventos no exterior.
O apoio principal de Duda veio das regiões rurais, em cima de um discurso contra as políticas de austeridade impostas pelo atual governo, do Plataforma Cívica, que é um partido direitista mais alinhado com a União Europeia.
O que representa a vitória da extrema-direita na Polônia?
A vitória de Duda representa o voto de protesto não somente dos setores conservadores e da toda poderosa Igreja Católica, mas também do crescente descontentamento dos setores mais empobrecidos da população, contra a carestia e a piora das condições de vida.
Entre as promessas de campanha estão a diminuição da idade da aposentadoria, que foi aumentada para os 67 anos de idade em 2012; a redução dos impostos sobre os salários e até um discurso contra os bancos que têm especulado com hipotecas em francos suíços, tendo provocado prejuízos bilionários para investidores na especulação imobiliária. Nada menos que 37% das hipotecas (financiamentos imobiliários) se encontram indexadas em francos suíços e somam quase US$ 40 bilhões.
Mais a eleição de Duda não foi o único sinal da desagregação do regime político. Ela também se expressou no primeiro turno da eleições, na votação obtida por Pawel Kukiz, outro direitista que se opõe à União Europeia e que obteve 20% dos votos. Na Polônia, também o bipartidarismo, a base da estabilidade política nos últimos anos, está com os dias contados.
O parlamento continua dominado pelo também direitista, mas pró União Europeia, Plataforma Cívica, que suporta a primeira-ministra Ewa Kopacz, e que está no poder desde 2007.
Na prática, pouca coisa deve mudar. Além das restrições impostas pelos outros três partidos de direita que detêm deputados, o mais provável é que a linha política geral seja mantida. Relações com a Rússia reduzidas, campanha por mais sanções contra a Rússia, entrada na zona do euro semicongelada, procura por uma maior presença militar da OTAN na Europa Central.
Em relação à União Europeia dificilmente as críticas irão muito além da retórica, no contexto atual, devido à gigantesca dependência da Alemanha. Dificilmente o governo irá elevar os impostos contra as empresas estrangeiras, nem irá reduzi-los para favorecer a população, contra a política oficial de austeridade. As alavancas se encontram nas mãos do imperialismo.
A situação política tende a evoluir, no próximo período, de maneira acelerada, por causa do previsto novo colapso capitalista, em largas proporções.
Muito menos o governo direitista polonês conseguirá avançar no sentido do controle do setor financeiro, justamente porque a tendência tem sido o desenvolvimento do parasitismo financeiro, e o fortalecimento do controle por meio do BCE (Banco Central Europeu). O máximo que poderia se esperar é o aumento do papel das empresas públicas, pelo menos por um período, inclusive como contrapartida à provável não implementação da promessa de campanha de reorganizar o setor energético. Qualquer política que fuja do "script" somente poderá vir como consequência de um aprofundamento considerável da crise, o que poderá levar à implosão da zona do euro e da União Europeia, e, portanto, do próprio coração do capitalismo europeu.
Alejandro Acosta está atualmente na Rússia acompanhando os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.