Por isso recorri a todos os anúncios de ofertas de trabalho e contactei to dos os que tinham morada no Porto e na área da restaura ção (cafés, snack-bares, confeitarias, pastelarias, pão quen te, restaurantes). Infelizmente, tive uma vivência pes soal da exploração laboral que reina nesta área. A maio ria dos patrões que contactei, para um trabalho de 10 horas por dia, e só com uma folga por semana, que não podia ser nem sábado, nem domingo, nem o salário mínimo ofereciam nem garantiam descontos para a Se gurança Social.
Diziam que dependia da minha experiên cia, nada valendo o meu currículo e referências de traba lho na área da restauração. O melhor que encontrei foi um salário ilíquido de 550 euros, com direito a almoço, mas ficaria responsável por toda a cozinha, e as habituais 10 horas por dia, 60 horas por semana, apenas com uma folga por semana. Da boca de muitos patrões ouvi a re petida cassete: “Hoje, as pessoas não querem trabalhar”. Ainda tive um empregador que me propôs traba lhar em part-time, a falsos recibos verdes, mas o que iria receber mal dava para pagar os descontos obrigatórios para a Segurança Social como trabalhador independente, cerca de 150 euros por mês.
Com estes ordenados, como se pode viver? Com esta precariedade à vista de toda a gente, como se pode ter motivação para ser assíduo, interessado e gostar-se do que se está a fazer? Estamos no século XXI, e a conquista das 40 ou 48 horas por semana, onde vai?! A área da restauração é das mais rentáveis que há no mercado, e como é possível haver tanta desumanidade, exploração, ilegalidades escancaradas, alguma grosseria, indiferença e atropelo reiterado dos direitos conquistados há sé culos?