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6027034726 5bd9358fa1 zAlemanha - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O governo Merkel, a extrema-direita e a crise dos refugiados.


Manifestação nazista na Baixa Saxônia, em 2011. Foto: Michaela (CC BY-NC-ND 2.0)

O nazismo está ressurgindo na Alemanha, de maneira semidisfarçada, com o AfD (Alternativa para a Alemanha), que recentemente, alcançou, em termos eleitorais, o nível de votação do SPD, o partido social-democrata alemão, no estado da Saxônia, capitalizando a crise dos refugiados.

No dia 7 de novembro, o AfD liderou uma manifestação contra a política do governo para os refugiados. A principal palavra de ordem foi “O asilo tem limites. Cartão vermelho para Merkel”. Apesar da manifestação ter sido confrontada pelos antifascistas, o crescimento da extrema-direita na Alemanha tem se tornado claro a partir do ano passado.

A Saxônia é um bastião do partido abertamente nazista NPD (Partido Nacional Democrático) e de outros afins. O principal líder do AfD, que é uma espécie de Tea Party norte-americano, mora na Saxônia. Em Dresden, a capital do estado, o movimento anti-Islã Pegida conseguiu mobilizar em torno de cinco mil pessoas numa manifestação que aconteceu recentemente.

O AfD obteve 9,7% dos votos na Saxônia em 2014. Novas pesquisas dão 13% dos votos, deixando-o em empate técnico com o SPD, o partido social-democrata, que participa da Grande Coalizão liderada pelo direitista CDU da chanceler Angela Merkel. No pais, a pesquisa atribui ao AfD 5,5% dos votos.

A crise aberta pelo fluxo dos refugiados provocou a ascensão da extrema-direita e a crise do CDU. O AfD levanta a bandeira do controle das fronteiras e a recusa em manter o tratado de Schengen que mantém a livre circulação de mercadorias e pessoas na União Europeia.

Nazismo disfarçado

A extrema-direita alemã, europeia e mundial tenta se distanciar do nazismo de Hitler. Mas as políticas são as mesmas. Basta substituir judeus por imigrantes ou muçulmanos, por exemplo.

Fundado em 2013, o AfD obteve 6,1% dos votos e 8 vagas no parlamento na eleição de Hamburgo, que aconteceu em fevereiro deste ano. Em maio, foram 5,5% dos votos em Bremen. A ala que dirige o AfD é a ala direita do partido que é dirigida por Frauke Petry. O direcionamento da política evoluiu das questões econômicas e anti-União Europeia para as políticas contra os imigrantes e os muçulmanos. Houve um racha com a ala dirigida pelo fundador do partido, Bernd Lycke que acabou formando a ALFA (Aliança pelo Progresso e a Renovação).

O AfD faz parte do bloco Reformistas e Conservadores no Parlamento Europeu. Apresenta-se como uma “direita renovada” que não quer se identificar com partidos abertamente nazistas, como o NPD, mas apoia o movimento Pegida (sigla, em alemão, para Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente).

A extrema-direita tenta fomentar o clima de histeria com ataques cada vez mais constantes e violentos contra os imigrantes e quem os apoia, tentando recriar o clima da República de Weimar.

Em Colônia, a prefeita Henriette Reker foi atacada a facadas. Grupos de refugiados têm sido emboscados por neonazistas. O jornalista Helmut Schumann, do jornal Tagesspiegel, que escreveu críticas ao crescimento da xenofobia na Alemanha, foi atacado brutalmente em Berlim aos gritos de “porco esquerdista”.

O crescimento da extrema-direita conta com o apoio velado e muitas vezes aberto dos órgãos de repressão. Numa manifestação do Pegida, em Dresden, a polícia se concentrou em controlar os manifestantes antifascistas enquanto faziam vista grossa para os nazistas.

A extrema-direita europeia raramente reivindica o nazismo. O máximo que chega a fazer é compará-lo com o estalinismo e dizer que Stalin matou tanta gente como Hitler. As clássicas bandeiras levantadas são o repúdio dos imigrantes, principalmente dos ciganos e outras minorias, contra a União Europeia e contra os planos de austeridade. A partir disso, tenta estabelecer uma base eleitoral, principalmente na classe média.

Ainda não apareceram na Europa milícias fascistas de peso. Algumas tentativas têm recuado. Na Grécia, o Aurora Dourada precisou de uma ajudazinha do Estado para evitar ser massacrado, após alguns dos seus militantes terem assassinado um conhecido cantor de rap. Mas a demagogia fascista não deve ser confundida com o caráter de classe do fascismo.

O fascismo representa a ideologia da classe média desesperada perante o aprofundamento da crise capitalista. Ele tenta promover o apoio recrutando elementos de classe média e lumpens, que estão a margem da sociedade, com o objetivo de promover tropas de choque que lhe possibilitem chegar ao poder. Assim aconteceu na Itália, na Alemanha e, mais recentemente, o caso clássico foi visto na Ucrânia.

Quando o fascismo chega ao poder, alavancado pelo apoio econômico do grande capital, ele se burocratiza rapidamente e passa a se valer do aparato de Estado. Hitler, em pouco tempo, liquidou as SA e as substituiu pelas SS. No Estado Novo (1937-1945), no Brasil, Getúlio Vargas colocou de lado o Integralismo. Na Ucrânia, os atuais seguidores de Stepan Bandera foram contidos pelo imperialismo europeu e norte-americano, apesar de deterem vários cargos muito importantes no governo (como o primeiro-ministro, que é um figurão do partido de extrema-direita Svoboda).

A crise dos refugiados

A crise dos refugiados tem se convertido num dos pontos principais da crise da Grande Coalizão, encabeçada pela chanceler Angela Merkel. A extrema-direita passou a atacar a “liberalidade” das políticas do governo no cenário da crise. A imprensa imperialista tem se mantido na linha de frente da campanha, o que demonstra que a chanceler está perdendo o apoio dos monopólios. O influente semanário Der Spiegel International deu o tiro de largada como matérias como “A Chanceler solitária: Merkel sob fogo conforme a crise dos refugiados piora” ou “A Alemanha em estado de emergência.”

A CSU, partido irmão, na Bavária, da direitista CDU (União Democrata Cristã) de Merkel, se transformou num dos grandes críticos da chanceler. A crise estourou na Bavária por causa da chegada de um número grande de imigrantes a partir da fronteira da Áustria e se estende ao interior da CDU. As contradições se tornaram ainda mais exacerbadas na Europa Oriental com a direita de países como a Polônia, a Hungria, a República Tcheca, e a Eslováquia, que ficaram na linha de frente na recepção dos refugiados.

A adoção de medidas mais duras põe em xeque o coração das políticas colocadas em pé para manter o controle da Europa. A livre circulação de pessoas e mercadorias, o Tratado de Schengen, está na base da estruturação dos demais países como províncias do imperialismo europeu, encabeçado pela França e a Alemanha.

Merkel ficou paralisada. O máximo que conseguiu fazer foi repassar algo em torno a três bilhões de euros para o governo turco de Erdogan, às vésperas das eleições que aconteceram na Turquia no início de novembro.

O imperialismo norte-americano tem se aproveitado da crise aberta para avançar na tentativa de implodir a aproximação da Alemanha com os chineses e os russos.

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, representa a ala direita da CDU que busca apertar a aplicação dos “planos de austeridade”. Mas Schaeuble tem ficado nos bastidores da crise, provavelmente tentando preservar sua imagem com o objetivo de substituir Merkel.

A crise na Europa avança a passos largos. A coluna vertebral do imperialismo europeu entrou em crise. Com isso, a “válvula de escape” da pressão da crise capitalista na periferia está ruindo. Mas essa “válvula de escape” também carrega o parasitismo dos monopólios.

Uma crise de grandes proporções está colocada para o próximo período. Por esse motivo, a burguesia imperialista tenta colocar em pé a extrema-direita, a força de choque fascista para enfrentar a inevitável ascensão da classe operária.

Fascismo: arma dos monopólios contra o movimento operário

O fascismo é um fenômeno que deverá continuar crescendo no próximo período. Ainda usando altas doses de demagogia, talvez maiores do que as usadas por Hitler. Não se trata de um problema moral, mas de um problema objetivo, material, que tem a base na economia.

A pacificação das massas, tal como ainda a conhecemos hoje, se tornará, inevitavelmente, no futuro, coisa do passado. E como a burguesia poderá contê-la? A resposta está justamente no fascismo.

A única maneira efetiva para enfrentar o fascismo é nas ruas. Quem pode enfrentá-lo são os trabalhadores que representam a esmagadora maioria da população. Mas para isso, eles precisam acordar. E o melhor despertador é o aprofundamento da crise econômica.

Eu sempre me lembro de um comandante que tivemos a oportunidade de conhecer, recentemente, em Donetsk. Ele era um simples programador de um banco estrangeiro. Quando viu o que os fascistas estavam promovendo a partir de Kiev, a capital da Ucrânia, simplesmente largou tudo, se juntou com mais 20 amigos, pegou em armas e se tornou um dos melhores comandantes em menos de um ano. A ascensão operária deverá evoluir, nos países avançados, de maneira similar. Quando “a água bater na bunda”, a situação material impulsionará a classe operária à luta. A burguesia tentará se valer do fascismo para conter a revolução.

O enfrentamento aberto das classes sociais antagônicas tem como base a economia. Trata-se de um fenômeno histórico que não depende de uma ou outra pessoa. A roda da história avança sempre para frente.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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