Jarosław Kaczyński, presidente do partido Lei e Justiça, que não precisará fazer alianças para governar o país. Foto: Piotr Drabik (CC BY 2.0)
Nas eleições de 25 de outubro, o partido de extrema-direita Lei e Justiça venceu as eleições por ampla maioria. Agora, pela primeira vez desde 1989, um partido conseguirá formar governo sem precisar recorrer a alianças. E isso se soma ao controle da presidência da República, que aconteceu há alguns meses.
A Polônia representa um dos pilares do sucesso alemão. O país compartilha uma longa fronteira com a Alemanha por onde transita um volume importante de peças, insumos e produtos que são montados ou incorporados pela máquina industrial alemã. Os salários dos poloneses representam a terceira parte dos salários dos alemães, além da vantagem do uso dos mesmos processos e regulamentações da União Europeia. A economia polonesa tem piorado conforme a crise capitalista tem se aprofundado.
O Partido Lei e Justiça venceu em cima da bandeira contra a União Europeia e também contra a Zona do Euro, à qual já deveria ter aderido. Essa adesão não aconteceu por conveniência do próprio imperialismo europeu, encabeçado pela Alemanha e a França. As tendências segregacionistas têm aumentado a partir do colapso capitalista de 2008 quando o aperto do imperialismo aumentou.
Ao mesmo tempo, é preciso analisar quem impulsionou o Partido Lei e Justiça. Ao que tudo indica, o imperialismo europeu foi pego de surpresa. Os principais órgãos da imprensa alemã e francesa tinham, reiteradamente, dito que o Partido Lei e Justiça se encontrava sob controle e que, caso vencesse, teria dificuldades para formar um governo.
Quem está por trás da extrema-direita polonesa?
O Partido Lei e Justiça é um aliado próximo do Partido Conservador Britânico, em crescente direitização, com quem compartilha um bloco no Parlamento Europeu. Ao que tudo indica, a vitória na Polônia se trata de uma política orquestrada pela ala direita do imperialismo anglo-norte-americano na tentativa de conter o avanço das políticas a la Obama/ Merkel/ Hollande, ao mesmo tempo que busca conter a aproximação dos alemães com os chineses e os russos.
A vitória da extrema-direita na Polônia coincide com o escândalo da Volskwagen e com a revelação da precária situação financeira do principal banco alemão, o Deutsche Bank. A situação da Volskwagen não é exclusiva da Volskwagen, mas, provavelmente, de todas as demais montadoras e das indústrias como um todo, em escala mundial. Essa situação representa uma certeza muito maior em relação ao sistema financeiro mundial, e principalmente em relação aos focos mais importantes da especulação financeira, os Estados Unidos e a Inglaterra.
O sistema político polonês concentrou o poder em quatro partidos direitistas que monopolizam a representação parlamentar. O derrotado Plataforma Cívica, apesar de alinhado com o imperialismo europeu, não tem divergências com o Lei e Justiça, nem com os outros dois partidos direitistas, em relação a questões chaves como a política contrária aos imigrantes e à recriação do Commonwealth da Polônia e a Lituânia, que passa pelo aumento da zona de influência nos países da região, como, por exemplo, sobre os golpistas ucranianos.
A Polônia encabeça o chamado Grupo de Visegrad, que inclui a Hungria, a Eslováquia e a República Tcheca, e também representa o principal cachorro louco que faz contrapeso à influência da Rússia na Europa Oriental. O governo polonês tem impulsionado o estabelecimento de bases permanentes da OTAN no próprio território, inclusive nucleares.
Em outras palavras, o imperialismo europeu concentra na sua União Europeia componentes difíceis de serem controlados e fáceis de aplicarem punhaladas nas próprias costas. É a típica política do salve-se quem puder que se desenvolve conforme a crise capitalista se aprofunda.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.