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300714 judeusIsrael - Rebelión - [Paulo Slachevsky, Tradução do Diário Liberdade] Sempre me senti orgulhoso de fazer parte do povo judeu, de uma cultura que com todas as suas contradições viu nascer Montaigne, Spinoza, Marx, Freud, Einstein, Trotsky, Arendt, tantos homens e mulheres que contribuíriam significativamente com a humanidade, na criação e na busca de um mundo mais justo e humano.


Me sinto judeu quando penso nos sonhos que marcaram gerações de jovens que foram enchendo o mundo com suas aspirações de liberdade, de comunidade, de justiça, de irmandade, que transversalmente cruzaram cores de pele e nações. A partir do mesmo texto bíblico Êxodo, está explícita a necessidade e a experiência de liberdade de um povo, das aspirações e direitos quando se está submetido ao jugo, à submissão.

Me identifico com a história emblemática de exílios e dor do povo judeu, em cujas esperanças de liberdade se refletem todos os povos. E essa história, com momentos trágicos, me motivou, como a muitos outros, a defender irrestritamente os direitos humanos, partindo do direito à vida e à dignidade.

Me sinto orgulhoso de ser judeu pelo dever de memória que marca sua cultura, a cultura da escritura, do comentário, da tradução e da crítica; pela constante interpelação diante da indiferença. Por seu reconhecimento aos justos que nos momento de horror, arriscando suas vidas, transformavam em realidade a palavra solidariedade e davam tudo para salvar os perseguidos. Por uma história que interpelou a nossa humanidade como seres humanos, mais além de raças e crenças, por sua luta contra a indiferença.

Por tudo isso me identifico também, e não posso ficar indiferente, alheio, às dores de outros povos, de outros seres humanos. Como não me é iniferente a dor dos judeus através da história e seu direito a se contituir como nação, tampouco me é indiferente esse direito para o povo palestino, o povo curdo, os povos indígenas de nosso continente.

E quando é o Estado de Israel, em nome do povo judeu, quem desconta nos outros o que fez sofrer a esse povo mais de uma vez ao longo dos séculos, me envergonha. Sim, me envergonha.

Me envergonha ver hoje como se massacra o povo palestino sob o discurso da defesa própria.

Me envergonha que se diga "retirem-se para salvar suas vidas" quando se sabe muito bem que não há para onde ir e os tem aprisionados em um gueto de miséria, opressão e humilhação.

Me envergonha quando se pede sensatez, pacifismo e racionalidade enquanto dia após dia se ocupa, maltrata e assassina, tentando cortar toda a possibilidade de futuro.

Me envergonha que a comunidade judia qualifique toda crítica e pressão internacional como perseguição ou antissemitismo, quando foi a mesma solidariedade internacional e as Nações Unidas as que deram legitimidade ao Estado de Israel.

Me envergonha que como povo não sejamos capazes de massivamente levantar a voz e deixar que dominem as vozes do egoísmo cego, incapaz de ver mais além de seus interesses a curto prazo.

Me horroriza como se usa toda a potência bélica contra a população civil, como se executa o castigo "por cada baixa do meu lado, terão 10 ou 50 do seu lado" que aplicaram as piores tiranias da história.

Sem dúvida hoje e nestes anos mancharam de triste maneira a história de um povo que para muitos era sinônimo de justiça e liberdade. A história bem que nos ensinou que não se silencia os anseios de liberdade e dignidade com a censura e a força, que não se pode fazer qualquer coisa em nome da segurança e do desejo de expansão territorial, que pela força se podem ganhar várias batalhas, mas sustentar-se apenas através dela põe em claro risco a perpetuidade.

É hora de parar já e não manchar irremediavelmente nossa memória e sentidos de comunidade deixando aos nossos filhos um legado de infâmia. Do outro lado do muro estão nossos irmãos.

Paulo Slachevsky é fundador da editora LOM (Chile).


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