1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)

mapafranca1França - Opera Mundi - [Amanda Lourenço] Meta de utilização deveria cair dos 75% atuais para 50% em 2025, mas lei joga prazo para "horizontes de 2050" e aumenta teto de produção.


O plano francês de diminuição do uso de energia nuclear previa diminuir a utilização dessa matriz energética dos atuais 75% para 50% até 2025. No entanto, a Lei de Transição Energética, prestes a ser votada no Senado, já foi tão modificada que, agora, prevê exatamente o contrário: um aumento do uso das usinas termonucleares. Críticos afirmam que, do jeito que está, a norma é “absolutamente retrógrada”.

A termonuclear é o tipo de energia mais utilizado na França. Com a revisão do texto, não apenas o prazo foi empurrado para “horizontes de 2050”, como também incluiu o aumento do teto da produção de energia nuclear de 63,2 para 64,85 gigawatts. Na prática, o acréscimo vai permitir a inauguração de uma nova central em 2017 sem precisar fechar outras duas, como estava previsto.

“É um grave recuo e uma visão absolutamente retrógrada. Se a lei continuar como está, de transição energética só vai ter o nome”, argumenta Charlotte Mijeon, porta-voz da associação Sortir du Nucléaire (Sair do Nuclear). “As propostas do governo francês são claramente insuficientes para uma real transição, são bem inferiores às iniciativas de países vizinhos como a Alemanha ou a Espanha favoráveis às energias renováveis”, completa Mijeon.

Críticos apontam que o projeto de lei não apresenta um calendário com prazos e medidas concretas para a transição, deixando o plano subjetivo demais. Por outro lado, se, em curto prazo, o texto permite um aumento da produção nuclear, en longo prazo não favoriza um real desenvolvimento do setor. “Prolongar as centrais nucleares já existentes por muitos anos custaria caro demais, algo entre € 55 bilhões e 250 bilhões de (R$ 180 bilhões e R$ 800 bilhões). Não seria realista lançar essas grandes obras fornecendo novos reatores”, reconhece Mijeon.

A França é o país mais dependente da energia nuclear do mundo e é o segundo maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos. Depois do acidente nuclear de Fukushima em 2011, no entanto, um debate sobre a segurança deste tipo de indústria foi inevitável. “Fukushima mostrou para o mundo que acidentes graves podem acontecer mesmo em países desenvolvidos, mesmo onde pensávamos estarmos seguros. Porque, se no caso de Chernobil ainda havia a argumentação de que era uma central soviética de segurança questionável e sem transparência, o Japão sempre foi considerado um país prudente e confiável”, explica Reiko Hasegawa, pesquisadora do programa Politiques de la Terre da universidade Sciences Po, especialista do caso Fukushima.

Após a catástrofe japonesa, países como Alemanha, Itália e Suíça, entre outros, adotaram políticas para diminuir a utilização de energia nuclear. Para a França, entretanto, não é tão simples assim. “A França é muito dependente da energia nuclear, é difícil mudar. Além da questão ideológica e do possível lobby, tem também o fator econômico com a perda de muitos empregos. Para o governo é complicado administrar isso”, analisa Hasegawa. O setor nuclear gera cerca de 100 mil empregos diretos e 400 mil indiretos, o que equivale a 2% do total de empregos do país.

Exportação do savoir-faire

Ao mesmo tempo em que a França começa a dar sinais (mesmo que contraditórios) de uma política de enfraquecimento da produção nuclear, ela vende sua tecnologia para fora como uma forma de capitalizar a experiência. A França é o líder mundial de exportação de serviços e equipamentos nucleares, um negócio que rende cerca de € 6 bilhões anuais, quase R$ 20 bilhões, segundo a PricewaterhouseCoopers France (PWC), sem contar a exportação da energia nuclear em si.

Nos últimos anos, o país fechou contratos com a China, a Turquia, a Inglaterra, a Bélgica e o Brasil, entre outros. “O setor francês se caracteriza pela integração dos operadores a partir da concepção e pela participação dos fabricantes durante todo o processo. No contexto pós-Fukushima, onde a habilidade técnica é primordial, isso é uma vantagem sobre os concorrentes”, argumenta Hervé Machenaud, diretor executivo da francesa EDF, principal produtora de energia mundial, em entrevista à imprensa local.

No Brasil, a empresa francesa Areva assinou contrato há pouco mais de um ano para a construção da usina Angra 3, no estado do Rio de Janeiro. Este será o 103ª reator nuclear que o grupo constroi no mundo de um total de 430 ativos. A Areva vai oferecer serviços de engenharia e informática, assim como material e assistência na supervisão dos trabalhos de instalação e testes. O objetivo é terminar a obra em 2018.

A parceria, que contará também com a participação da Eletronuclear, que faz parte da Eletrobras, vai custar aos cofres brasileiros € 1,25 bilhão, cerca de R$ 4 bilhões. Angra 3 terá uma potência de 1.350 megawatts (MW), contra 1.270 MW de Angra 2 e 640 MW de Angra 1, as duas únicas centrais nucleares do Brasil até o momento.

A decisão de voltar a investir na energia nuclear foi tomada em 2008 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O acidente de Fukushima, três anos mais tarde, não mudou os planos. “A decisão de abraçar o nuclear acaba sendo exclusivamente do governo, pois ele é o único que pode arcar tanto com as demandas de uma obra tão imensa, quanto com as consequências caso algo dê errado”, afirma Hasegawa. “O custo de produção, a princípio, é bastante vantajoso para a indústria. Mas o barato pode sair caro em longo prazo para a sociedade, por causa dos resíduos tóxicos”, completa a pesquisadora.

A Electrobras pretende ainda construir outras quatro usinas em Minas Gerais e Pernambuco até meados de 2030, com o objetivo de produzir outros 5 MW de energia nuclear. Ainda assim, este tipo de energia forneceria apenas 5% de todo o consumo elétrico do país. Atualmente a energia hidroelétrica é responsável por 80% da eletricidade brasileira.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.