1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (4 Votos)

iemenYémen - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Nos últimos meses, a imprensa capitalista mundial tem noticiado a guerra civil do Iêmen, como se fosse um evento que acontece em outro planeta. Na realidade, o Iêmen pode ter uma relevância econômica secundária no Oriente Médio, mas compartilha a fronteira sul da Arábia Saudita, o coração da região e o pilar dos chamados petrodólares, a alavanca da “maquininha” de produzir o papel semi podre chamado dólar.


Pessoas procuram por sobreviventes sob os escombros das casas destruídas por ataques aéreos sauditas próximo ao aeroporto de Sanaa. Embaixo, John Kerry, secretário de Estado dos EUA em encontro com o ministro saudita de Relações Exteriores, Saud bin Faisal bin Abdulaziz Al Saud. Por: Tjebbe van Tijen (CC BY-ND 2.0)

Iêmem, quem será o próximo?

O ocidente do Iêmen é habitado majoritariamente por xiitas e, por esse motivo, torna-se um fator de potencial desestabilização das províncias do sul da Arábia Saudita, habitadas também por minorias xiitas importantes.

Dois blocos principais se enfrentam no Iêmen. Um deles ligado ao Irã e o outro vinculado à Arábia Saudita e ao imperialismo norte-americano. O primeiro está encabeçado pelos Houthis e as forças ligadas ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, que derrocaram o governo no mês de setembro do ano passado. O segundo bloco está encabeçado pelo presidente derrocado Abd Rabboh Mansour Hadi.

Leia também:

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte I)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte II)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte III)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte IV)

A guerra civil no Iêmen expressa a desestabilização geral do Oriente Médio que avança, a passos largos, na direção do coração da região, a Arábia Saudita, e que agora vê os conflitos militares não somente na fronteira, mas vazando para o próprio território. O potencial explosivo é enorme, pois o Iêmen se soma à desestabilização geral da região, no norte da África, do Sahel (região localizada ao sul do Deserto de Saara), da Somália e, principalmente, a mega desestabilização que avança rapidamente , a partir da Síria, em direção ao Iraque, ao Líbano e à Jordânia.

Por que estourou a guerra civil no Iêmem?

As revoluções árabes estouraram em 2011, como resultado direto do colapso capitalista de 2008 que se manifestou em revoluções nos elos mais fracos do sistema capitalista mundial. A Arábia Saudita tentou estabilizar a região com objetivo de impedir o alastramento para o próprio território. O então monarca Abdullah Bin Abul Aziz injetou US$ 65 bilhões na economia em programas sociais e em investimentos públicos.

Leia ainda:

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte V)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VI)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VII)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VIII)

Os protestos na Província Oriental, habitada principalmente por xiitas, foram reprimidos a sangue e fogo. O então embaixador saudita nos Estados Unidos, o príncipe Bandar Bin Sultan, foi promovido à chefia dos serviços de inteligência. Ele encabeçou uma política de extrema-direita no Oriente Médio, suportando grupos guerrilheiros, que poderiam ser manipulados em benefício dos interesses sauditas, e promovendo o golpe de estado pinochetista no Egito. No Catar, promoveu um golpe de estado branco com o objetivo de neutralizar o apoio à Irmandade Muçulmana, que era a principal carta da Turquia, do Catar e da Administração Obama para estabilizar o Oriente Médio. Na Síria e em outros países a política aplicada foi de terra arrasada.

O descontrole se generalizou a tal grau que Bin Sultan foi removido do cargo de chefe dos serviços de inteligência, no início de 2014, e como Secretário Geral do Conselho Nacional de Segurança em 2015. Esse organismo inclusive foi dissolvido.

No Iêmen, os sauditas promoveram a derrubada do então presidente Ali Abdullah Saleh, em 2012, em benefício do vice-presidente, Abd Rabboh Mansour Hadi. O objetivo foi controlar o movimento de massas, mas também controlar o fortalecimento da minoria xiita, por meio da qual poderia aumentar a influência do Irã no país. Esse golpe acabou abrindo rachaduras internas que levaram à guerra civil atual. A política do “divide e vencerás”, colocando um grupo, ou uma tribo, contra os outros, que os sauditas aprenderam com os britânicos, os franceses e os norte-americanos, entrou em colapso. Os Houthis aprofundaram as alianças com líderes tribais e se fortaleceram a partir do norte em direção à capital do país.

Leia mais:

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte IX)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte X)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte XI)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte XII)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte XIII)

Os sauditas foram obrigados a mudar de política para combater, ou pelo menos para conter, a al-Qaeda na Península. A al-Qaeda se transformou num aliado no combater dos Houthis.

A política de promover o caos na região, principalmente impulsionando grupos como o Estado Islâmico e outros, com o objetivo de, posteriormente, controlar a situação política por meio dos grupos enfraquecidos em lutas fratricidas, também escapou do controle. Grandes revoltas explodiram no quintal da Arábia Saudita, especificamente em Bahrein, que funciona como uma espécie de prostíbulo saudita, e na Província Oriental, habitada majoritariamente por xiitas.

No Iêmen, a crise foi a mil por hora quando o Irã começou a avançar no país, habitado principalmente por sunitas. Quando o partido do ex-presidente Saleh, o CGP (Congresso Geral do Povo), se aliou aos Houthis na retomada da capital, Sanaa, em março, estes se fortaleceram ainda mais.

Os combates fronteiriços que os Houthis tiveram em 2009 com os sauditas deixaram lições. Desta vez, os ataques militares foram um pouco além da fronteira, chegando a tomar, inclusive, um centro urbano saudita. Os combates eventuais podiam transformar-se em guerra total.

As alternativas que os sauditas enfrentam passam por ter como vizinhos, na fronteira sul, os Houthis, aliados do Irã, ou a al-Qaeda.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.