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assadSíria - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O incêndio do Oriente Médio tem o potencial de levar a um aprofundamento sem precedentes da crise capitalista mundial. Inclusive muito maior que já está sendo previsto para o próximo ano.


Cartaz com a foto do presidente sírio Bashar al-Assad. Foto: Rafael Medina (CC BY-NC-ND 2.0)

A inevitável queda de al-Assad

As recentes movimentações do imperialismo norte-americano e dos governos de outras potências mostram que o governo de al-Assad deverá cair no próximo período.

A recente visita do chefe do Departamento de Estado, John Kerry, à Rússia, onde se encontrou com Vladimir Putin e com Serguei Lavrov (ministro das Relações Exteriores), evidenciou a mudança da política da Administração Obama em relação à Síria. O esforço pela busca de uma relativa estabilização no Oriente Médio representa a carta da ala representada por Barak Obama, e que inclui parte do Partido Democrata e do Partido Republicano, às vésperas da campanha eleitoral para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.

As eleições norte-americanas acontecerão no próximo ano. A direita e a extrema-direita, agrupadas no Partido Republicano, que aparecem como o setor mais forte, impulsionadas pelos monopólios, já detêm o controle das duas câmaras do Congresso.

Leia também: Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte I)

A Rússia também tem aderido a uma saída negociada, e de maneira acelerada. Um governo sírio muito fraco diminui o poder de barganha do governo Putin, principalmente com os Estados Unidos, na estabilização da situação. A Rússia não representa uma potência em escala mundial, mas uma potência regional que tem se desenvolvido, principalmente, porque a periferia é muito fraca. A Federação Russa somente não desapareceu como país após o colapso da União Soviética porque o imperialismo optou por concentrar o vasto arsenal nuclear. Após o caos que se sucedeu durante a década de 1990, os governos Putin conseguiram estabilizar a situação, sobre a base da política exportadora de matérias-primas energéticas e o foco das políticas públicas na exportação de armas. Devido ao esforço de guerra no Afeganistão e no Iraque, o cerco contra as potências regionais acabou relaxado e, em 2008, a Rússia fez uma nova aparição no cenário mundial, com a invasão da Geórgia, deixando o imperialismo paralisado.

A desestabilização do Oriente Médio impulsiona a desestabilização da Ásia Central, do Cáucaso e do sul da Rússia, onde já aconteceram guerras sangrentas contra o separatismo islâmico nas repúblicas da Chechênia e do Daguestão.

O imperialismo perdeu o controle do principal grupo guerrilheiro islâmico, o Estado Islâmico, e enfrenta dificuldades para controlar os demais grupos "guerrilheiros rebeldes" devido ao acirramento das contradições. A possibilidade de estabilizar a situação no Oriente Médio, principalmente, por meio da intervenção militar, fica, a cada dia, mais distante.

O governo turco, que tem pretensões de potência regional, tenta impulsionar uma zona de exclusão aérea na Síria, mas enfrenta a falta de entusiasmo da Administração Obama, assustada com a nova "batata quente" (e muito quente!), após a desastrosa experiência da Líbia.

O governo de al-Assad já não conta com a possibilidade de derrotar militarmente os grupos guerrilheiros e se encontra numa situação defensiva, no geral, sustentada pela ajuda militar da Rússia e do Irã, e a crescente intervenção em campo dos milicianos do Hizbollah.

Frente única contra al-Assad?

No dia 7 de maio deste ano, a Arábia Saudita e a Turquia acordaram fortalecer o apoio logístico e financeiro aos grupos que atuam contra o governo de al-Assad. Mas o problema colocado é que as contradições entre as várias forças que atuam no país são irreconciliáveis. No caso da queda de al-Assad, as guerras internas fariam parecer a Somália ou a Líbia como as "Suíças da região", tal o grau de caos e desestabilização.

Um dos motivos pelos quais a Administração Obama busca evitar o colapso do governo al-Assad é o crescimento da força do EI (Estado Islâmico), e não somente na Síria, mas também no Iraque e nos países vizinhos. Já a ala direita do imperialismo apresenta a política de força com a saída. Mas uma guerra em larga escala, envolvendo ataques contra o Irã, tem condições de manter o controle na região?

O Irã, um dos principais apoiadores do governo sírio, é o componente chave na mobilização das milícias xiitas no Iraque, a única força capaz de deter o EI. Esse é o principal motivo da recente urgência do governo Obama para chegar a um acordo com o governo dos aiatolás, levantando as sanções.

Uma "saída negociada" para a crise?

O imperialismo conta com um controle não muito preciso das forças guerrilheiras que atuam na Síria e enfrenta a ameaça do EI que se encontra fora de controle.

O governo russo tem visitado, recentemente, várias das capitais das monarquias do Golfo Pérsico, incluindo a Arábia Saudita e o Catar, com o objetivo de tentar buscar uma saída negociada. No dia 2 de junho, aconteceram negociações em Paris sobre o crescimento da força do EI.

Os esforços do imperialismo e da Rússia para criar uma saída negociada para a crise parecem fadados ao fracasso, mas qual seria a alternativa?

A Administração Obama, que faz uma espécie de jogo do "bêbado equilibrista", tenta "equilibrar os pratinhos" na tentativa de estabilizar a situação e usá-la como carta para as eleições do ano que vem, onde se confrontará com a tropa de choque do Partido Republicano que hoje já controla as duas câmaras do Congresso.

O papel da Rússia é pressionar al-Assad. Mas a chave do problema é acomodar as várias partes beligerantes que mais se parecem com um ninho de cobras.

Al-Assad pode se entrincheirar em Damasco e na região costeira, apoiado pelo Irã e o Hizbollah, enquanto os Estados Unidos bombardeiam o Estado Islâmico. Mas sem tropas, suficientemente numerosas e fortes em campo, inevitavelmente sofrerá o cerco cada vez mais intensivo dos grupos guerrilheiros islâmicos.

Uma das saídas propostas pelos "negociadores" seria retirar al-Assad do poder e exilá-lo em Moscou ou em Teerã. O problema consiste em encontrar uma liderança alawita capaz de substituir al-Assad e conduzir à formação de um governo interino relativamente estável. Conforme ficou claro na fracassada tentativa de controlar o Iraque pelos Estados Unidos, na década passada, uma estabilização mínima na Síria é impossível sem uma significativa participação alawita no governo.

Os russos, o Irã e os chineses estão por trás do governo de al-Assad. Os sauditas buscam enfraquecer o governo, por meio da divisão dos alawitas. O Irã busca se fortalecer nas negociações com os Estados Unidos e por meio das milícias xiitas no Iraque, o máximo possível, antes de ir para as negociações.

A Turquia e o Catar, com o imperialismo europeu por trás, querem a parte do bolo do aumento da influência no Oriente Médio. O mesmo querem a ultrarreacionária monarquia da Arábia Saudita e a Jordânia, com a ala direita do imperialismo norte-americano por trás.

O desenvolvimento do Oriente Médio esteve na base da Primeira Guerra Mundial, quando a Alemanha queria aumentar o comércio na região e a Inglaterra e a França o impediam, devido a que tinham se tornado mais fracas em termos de desenvolvimento industrial. A Segunda Guerra Mundial, assim como todas as guerras das últimas décadas, teve na base a divisão do mercado mundial. O Oriente Médio representa um dos principais componentes do mercado mundial, por causa do petróleo. Trata-se de um principais pontos de acirramento das contradições em escala mundial.


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