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homsSíria - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O governo sírio tinha alocado unidades de elite (as Forcas Tigre e os Falcões do Deserto) para enfrentar o grupo guerrilheiro de Jaish al-Fateh em Idlib, que acabaram derrotadas, após terem abandonado a defesa da estratégica cidade de Homs.


Estratégica cidade de Homs encontra-se destruída pelos conflitos. Foto: Freedom House/Flickr (CC BY 2.0)

Agora Homs se encontra com as defesas enfraquecidas enquanto duas cidades mais importantes do país, que o governo controla, Damasco e Aleppo, se encontram sobre a mira do Estado Islâmico. Qualquer ofensiva contra o Estado Islâmico em Homs deixaria o governo ainda mais exposto nos pontos centrais.

Conforme a crise avança, a Síria tem se transformado numa nova Líbia, avançando rapidamente na direção de tornar-se uma nova Somália.

Da Síria ao Iraque; do Iraque ao Irã e à Arábia Saudita

A crise na Síria tem desbordado, em primeiro lugar, para o Iraque, onde o exército somente tem conseguido um relativo controle da situação devido ao envolvimento dos curdos e das milícias xiitas. O Líbano já foi atingido, o que provocou o envolvimento direto do Hizbollah na Síria . O próximo país na lista deverá ser a Jordânia, onde o número de refugiados palestinos e sírios já representa em torno a 40% da população de seis milhões de habitantes.

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A maioria da população do sul do Iraque é xiita e mantém fortes laços com o Irã. A guerra tende a se tornar fratricida entre os vários grupos e nacionalidades. Um eventual enfraquecimento das milícias xiitas tem o potencial de levar a crise ao Irã. Por outro lado, o fortalecimento tem o potencial de aprofundar a crise política sobre a ultrarreacionária monarquia saudita. Na realidade, a crise já bateu às portas da Arábia Saudita. A guerra civil no Iêmen, contra os Houthis, voltou a colocar à ordem do dia as revoltas na Província Oriental, de onde se extrai o grosso do petróleo, habitada majoritariamente por xiitas.

O aprofundamento da crise no Iraque

Ramadi, a capital da província de Anbar, que faz fronteira com a Síria, foi capturada pelo Estado Islâmico no dia 15 de maio, após fortes combates que se prolongavam havia mais de um ano e logo depois de ter capturado a cidade de Fallujah. Logo em seguida, o Estado Islâmico capturou o vilarejo de Jubah, localizado ao noroeste de Ramadi, onde centenas de conselheiros militares norte-americanos se encontravam estacionados.

Os avanços combinados na Síria e no Iraque demonstram o crescimento da capacidade militar do Estado Islâmico, tanto em relação à artilharia como à força antiaérea, além da possibilidade de promover ataques múltiplos, em várias direções ao mesmo tempo. As vitórias trouxeram ganhos em armas, território, militantes e provisões. Ao mesmo tempo, dispararam os alarmes do imperialismo e das potências regionais, o que deu novo fôlego à frente única promovida pela Administração Obama e apoiada, em primeiro lugar, pelo governo russo.

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O governo iraquiano passou a contar com o apoio dos bombardeiros dos Estados Unidos e do Irã. As milícias xiitas foram reorganizadas com o envolvimento do primeiro escalão da Guarda Republicana iraniana.

O exército conseguiu retomar a cidade de Tikrit do Estado Islâmico, com o apoio das milícias, superando a desmoralização sofrida no ano passado. Mas as milícias xiitas também têm exacerbado as contradições sectárias com os sunitas, conforme têm passado a atuar em regiões de maioria sunita. Ao mesmo tempo, a participação dos Estados Unidos tem sido repudiada pela maioria das milícias xiitas que se negaram a tomar parte nos combates até os bombardeiros terem finalizado. E mesmo depois, algumas dessas milícias, as mais ligadas ao Irã, teriam se deslocado para a Síria.

O exército tem demonstrado enormes dificuldades para o combate nas zonas urbanas, onde a artilharia tem se demonstrado muito ineficiente e as tropas muito expostas ao fogo do Estado Islâmico.
Batalhas similares deverão acontecer, no próximo período, também em Fallujah, Ramadi e Mosul, as principais cidades do norte do Iraque.

Mas na província de Anbar, de maioria sunita e que é o principal bastião do Estado Islâmico, o uso das milícias xiitas inevitavelmente levará ao aumento das tensões com a população local. Isso aconteceria no melhor dos casos, considerando que não se repetiriam as ações truculentas que as milícias xiitas praticaram na província de Diyala e em Tikrit.

O objetivo do governo é isolar o Estado Islâmico até o Rio Eufrates. A opção de armar as tribos que se opõem ao Estado Islâmico envolve grandes contradições, pois elas foram afastadas do centro do poder. Por esse motivo, além de gerar desconfiança pode se tornar em mais combustível para o aparecimento de outros grupos opositores armados, como aconteceu na Síria.

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A operação em Mosul somente pode acontecer com o envolvimento dos curdos. Os Peshmergas (o exército local) têm conseguido conter o Estado Islâmico no norte e no sul da cidade, e têm conseguido cortar as linhas de abastecimento a partir da Síria pelo lado ocidental. Mas as contradições também são grandes. O governo iraquiano, apoiado pelo Irã, busca controlar a província de Kirkuk, contra o controle do petróleo na região pelos curdos, que contam com o apoio da Turquia e do imperialismo.

Após o Governo Regional do Curdistão ter controlado Kirkuk em fevereiro, o presidente Massoud Barzani declarou que a província pertencia aos curdos. As milícias xiitas e o governo de Bagdá têm reagido dizendo que a província pertence ao Iraque.

O Iraque avança rapidamente para a “sirianização”, ou tornar-se uma nova Síria. No mesmo caminho, estão o Líbano e a Jordânia. A Síria e o Iêmen já se tornaram novas “Líbias” e todos avançam rapidamente em direção à “somalização”. A crise geral no Oriente Médio avança em direção ao coração da região, a Arábia Saudita.

Crise no Oriente Médio, mais crises nos países centrais

A desestabilização do Oriente Médio tem se tornado muito crítica para o imperialismo. Aqui se encontram as maiores reservas de petróleo de alta qualidade e baixo custo de refino no mundo. Os acordos do imperialismo norte-americano com as reacionárias monarquias do Golfo Pérsico garantem que as vendas sejam feitas em dólares norte-americanos. Os petrodólares se encontram na base das emissões de moeda podre pelo imperialismo norte-americano, que hegemoniza a especulação financeira, que, por sua vez, representa o coração da economia capitalista.

A Síria é um país que não possui grandes riquezas naturais como as monarquias do Golfo Pérsico. O papel crucial está na localização geográfica.

Em julho de 2012, os governos do Irã, Iraque e Síria assinaram um acordo para a construção de um gasoduto, avaliado em US$ 10 bilhões, que tem como objetivo transportar gás do gigantesco campo de Pars, localizado no Irã, para a Europa, com uma possível extensão para o Líbano.

A monarquia do Catar encabeça a tentativa de viabilizar um gasoduto que sairia do Campo Norte, localizado no Catar, do lado de Pars Sul, que passaria pela Arábia Saudita, Jordânia, Síria e Turquia, com destino à Europa Ocidental. O primeiro gasoduto chegaria ao porto de Tartus (Síria), onde os russos têm uma base militar, o que garante a participação privilegiada da Gazprom, o gigante russo. O segundo gasoduto é apoiado pelos monopólios norte-americanos principalmente.

A Turquia tenta tornar-se um grande intermediador (hub) desses gasodutos e, por esse motivo, está tentando acabar com o conflito com o PKK (Partido dos Trabalhadores) curdo, que tinha forte atuação na província da Anatólia Oriental, por onde justamente passam esses dutos.

Por trás dos conflitos e da desestabilização generalizada no Oriente Médio se encontra a política de rapina que o imperialismo impôs na região, sobre o petróleo e o gás, usando como instrumento de opressão dos povos árabes monarquias recalcitrantes e obscurantistas, ditaduras militares “pinochetistas” e os sionistas israelenses.

Por que as monarquias do Golfo se envolveram na Síria?

As monarquias do chamado CCG (Conselho de Cooperação do Golfo), que inclui a Arábia Saudita, Catar, EAU (Emirados Árabes Unidos), Bahrein, Omã e o Kuwait, têm se envolvido de maneira crescente na guerra civil síria, se aproximando dos interesses do imperialismo europeu e norte-americano.

O Catar tentou se valer da Irmandade Muçulmana para intervir na Síria. Após o golpe de estado promovido pela Arábia Saudita, passou a fortalecer o apoio a al-Nusra (a al-Qaeda na Síria), além do ESL (Exército Sírio Livre).

O Emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani, acabou sendo deposto por meio de um golpe de estado branco, promovido pela Arábia Saudita. O filho, Tamim bin Hamad al-Thani, mais próximo aos sauditas, ocupou seu lugar.

O CentCom está baseado na base aérea de al-Udeid, em Doha, que atua em paralelo com o CentCom localizado em Tampa, Florida – trata-se do Comando Central do Departamento de Defesa dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Norte da África e Ásia Central.

O Catar tem atuado como um intermediário de primeira importância do imperialismo Europeu no Oriente Médio e, com os petrodólares, tem participado ativamente do resgate de bancos imperialistas falidos, principalmente europeus. Desempenhou um papel importante nos bombardeios da Líbia, no financiamento da Irmandade Muçulmana, inclusive o Hamas, e no armamento e financiamento dos setores pró-imperialistas do ESL (Exército Sírio Livre). Agora, transformou-se no pivô das negociações do Talibã com o imperialismo norte-americano; o Talibã abriu um escritório em Doha.

A Arábia Saudita tem injetado rios de dinheiro numa miríade de grupos guerrilheiros. A monarquia saudita se encontra na base dos chamados “petrodólares”, a venda do petróleo em dólares norte-americanos. Mesmo com a escala das contradições com os Estados Unidos por causa da produção de petróleo e gás a partir do xisto, este continua sendo um dos principais pilares da ditadura do dólar em escala mundial. A implosão tem o potencial de disparar as tendências inflacionárias no coração do capitalismo mundial e, a partir daí, no mundo inteiro.


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