1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (5 Votos)

pkkSíria - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Os curdos (que em árabe significa “o povo das montanhas”) representam a maior população mundial sem estado, com 30 milhões de pessoas, dos quais a metade vive na Turquia. O Curdistão se estende por quatro países, Turquia, Síria Iraque e Irã. Em torno de dois milhões vivem nas ex-repúblicas soviéticas e na Europa.


Partidários curdos apoiando o PKK. Foto: Nora Miralles (CC BY-NC-ND 2.0)

Os curdos e a questão nacional na Turquia

O Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, dividiu o mapa da Europa e do Oriente Médio de acordo com os interesses da potências imperialistas vencedoras. A independência da Turquia, liderada por Kemal Ataturk, levou ao Tratado de Lausanne, em julho de 1923, que excluiu a autonomia dos curdos turcos. Três revoltas curdas foram esmagadas pela força militar. Em 1925, a de Sheik Said. Em 1927, a do partido Khoybun (Independência), que havia sido fundado no Líbano e que apoiou uma revolta liderada pelo general Ihsan Pasha. Entre 1936 e 1938, a revolta Dersim, dirigida por Sheikh Sayyid Riza.

Leia também:

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte I)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte II)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte III)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte IV)

A língua, as roupas e os nomes curdos foram proibidos. A atual Constituição afirma: “A determinação de que não haverá qualquer proteção a pensamentos ou opiniões contrárias aos interesses nacionais turcos, ao princípio da existência da Turquia como entidade indivisível”.

A lei antiterrorista, aprovada em abril de 1991, permite criminalizar a defesa dos direitos dos curdos. O Código Penal penaliza quem “provocar ódio ou animosidade entre grupos de raças, religiões, regiões ou classes sociais diferentes”. A “propaganda separatista” é condenada com prisão.

Os novos acordos entre o governo turco e o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos, na Turquia) tem levado a algumas concessões dentro do contexto da autonomia. Provavelmente, no próximo período, por causa do enfraquecimento nas recentes eleições do primeiro-ministro turco, Erdogan, as negociações deverão ser retomadas.

Qual é a política do PKK?

O PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) foi fundado em 1978 por um grupo onde predominavam os estudantes, liderado por Abdullah Öcalan. Dois anos depois adotou a luta armada, com o objetivo de enfrentar radicalizados a partir do golpe de estado desferido pelos militares turcos (1980-1983).

Preso, julgado e condenado à morte, Öcalan passou a defender a paz com a Turquia, ordenou a retirada das tropas do PKK do território da Turquia para o Norte do Iraque e abandonou a defesa da luta pela independência do Curdistão, passando a defender a autonomia curda nos marcos de uma federação turca. Ocalan passou a adotar as ideias do chamado “comunalismo libertário”, inspirado em Murray Bookchin, autor de “Ecologia e Liberdade”, entre outros. A experiência do governo autônomo do Curdistão sírio estaria inspirada nestas ideias. Ocalan se encontra preso na Turquia, condenado a prisão perpétua.

Leia ainda:

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte V)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VI)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VII)

O governo turco simplesmente tem enquadrado a questão curda, que é uma minoria que conta com 15 milhões de pessoas somente na Turquia, como sendo a luta contra o terrorismo, para o qual conta com o apoio da UE (União Europeia) e dos Estados Unidos.

O Curdistão foi desmembrado após a Primeira Guerra Mundial em quatro partes que estão localizadas em quatro países – Turquia, Síria, Iraque e Irã. Na Turquia, ocupa a região de Anatólia Oriental.

O que está por trás dos ataques contra os curdos? A política econômica do País, que enfrenta forte aprofundamento da crise capitalista, é transformar-se num nó (hub) do transporte de petróleo e gás para a Europa proveniente das repúblicas do Cáucaso, das repúblicas da Ásia Central, do Irã e do Curdistão Iraquiano. Deste projeto dependem, em grande medida, as pretensões de tornar-se uma potência regional de primeira ordem.

Os imperialistas franceses e alemães mantêm uma aliança estreita com o governo turco, que faz parte da OTAN. As exigências nas negociações de paz entre o líder do PKK, Abdullah Öcalan, preso desde 1999, e o governo turco, foram reduzidas. Da luta pela independência, que era o objetivo original, a negociação passou a se focar no estabelecimento de uma região autônoma, onde, entre outras coisas, a língua oficial fosse o Curda.

A desestabilização da Síria provocou uma virada nas negociações que foram, na prática, congeladas no final do ano passado. O Curdistão sírio conseguiu um enorme grau de autonomia sob a direção do PYD (Partido da União Democrática) que é muito próximo ao PKK. A instauração de conselhos populares e a formação de um exército curdo na Síria que tem enfrentado o avanço das milícias e do exército sírio nas regiões curdas fortaleceu enormemente as posições e a luta do PKK na Turquia. A partir de meados de 2012, tem acontecido uma nova escalada dos enfrentamentos.

O temor do governo turco e do imperialismo ainda se relaciona com o enfraquecimento da Turquia, uma potência nuclear, que poderia tornar-se um alvo e, ao mesmo tempo, uma ponte para o crescimento dos movimentos muçulmanos radicais que têm se fortalecido na Síria e nos demais países árabes, e que ameaçam se expandir na direção das repúblicas do Cáucaso e da Ásia Central, e das regiões do sul da Rússia.

O que representa o avanço eleitoral dos curdos na Turquia?

O grande destaque nas recentes eleições presidenciais na Turquia foi o avanço eleitoral do partido curdo, o PDG (Partiya Demokratik a Gelan), que obteve quase 13% dos votos, ou 80 deputados de um total de 550. E esses votos não somente foram obtidos na Anatólia Oriental, o reduto curdo, mas também em importantes cidades turcas como Ankara e Istambul, o que revela o desvio de votos do AKP para a esquerda e o enfraquecimento dos mecanismos de controle que estão colocados em pé.

O PDG é uma frente de cunho social-democrata, reformista, que conta com o apoio do PKK (Partido dos Trabalhadores), o grupo guerrilheiro curdo que tem negociado um cessar-fogo com o governo Erdogan. As bandeiras são tímidas, considerando a gravidade da situação do povo curdo, e incluem a renúncia programática à independência do Curdistão. O líder do Partido, Selahattin Demirtas, aparece como um Alexis Tsipras (o líder do Syriza grego) ou um Pablo Iglesias (o líder do Podemos espanhol), ou seja, um jovem que tem muitas promessas, mas também a impossibilidade de cumpri-las porque não é capaz de romper com a burguesia local e o imperialismo.

Leia mais:

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VIII)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte IX)

Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte X)

Erdogan não conseguiu capitalizar as negociações com os curdos, apesar da alta dose de demagogia sobre o “vilayet”, o status de semiautonomia que promete outorgar ao Curdistão turco. Na prática, as promessas têm se materializado, a partir de março de 2014, na permissão do uso do idioma curdo nas escolas, na literatura e nas campanhas políticas, além do rebaixamento das condições para acessar o fundo partidário turco, que permitiram capitalizar o PDG nas eleições.

A política exterior turca para o Oriente Médio tem funcionado como uma espécie de bumerangue em relação à política interna. O apoio semivelado ao Estado Islâmico e aberto ao Exército Sírio Livre tem impulsionado não somente o separatismo curdo como também o nacionalismo turco.

O desarmamento do PKK fracassou. As concessões foram muito poucas. Ao mesmo tempo, o MHP também pegou carona na atual situação política e capitalizou parte do poder eleitoral.

O AKP, na prática, congelou as negociações de paz com os curdos. A retomada pode ser uma carta que pode ser usada por Erdogan, da mesma maneira que a estabilização da Anatólia Oriental a partir do cessar-fogo tem sido colocada na base do impulso à política de converter a Turquia num nó (hub) para o trânsito de gás para a Europa.

Da mesma maneira que acontece na Rússia e na China, o imperialismo corre por fora na tentativa de derrubar os governos de cunho nacionalistas e impor governos imperialistas. Mas a evolução da situação política poderá mudar conforme a crise capitalista continuar se desenvolvendo. Ao mesmo tempo, a burguesia deverá enfrentar a retomada do movimento de massas.

No próximo período, deverá ser analisado o fôlego de Erdogan para cooptar o PDG, o que já tem feito, de maneira parcial e contraditória com o PKK, e a evolução das contradições com o MHP (Partido de Ação Nacionalista), que é anticurdo e propõe a recomposição do império otomano, principalmente a partir da Ásia Central. Uma aproximação muito forte com o MHP pode reacender a luta armada do PKK.

Os curdos e a crise capitalista na Turquia

A política econômica do País, que enfrenta forte aprofundamento da crise capitalista, é transformar-se num nó (hub) do transporte de petróleo e gás para a Europa proveniente das repúblicas do Cáucaso, das repúblicas da Ásia Central, do Irã e do Curdistão Iraquiano. Deste projeto dependem, em grande medida, as pretensões de tornar-se uma potência regional de primeira ordem. Os imperialistas franceses e alemães mantêm uma aliança estreita com o governo turco, que faz parte da OTAN.

A desestabilização do Oriente Médio, apesar de tratar-se de países secundários, tem uma importância fundamental para a evolução da política mundial devido à questão do petróleo. Além das enormes reservas, as monarquias do Golfo Pérsico vendem o petróleo em dólares norte-americanos, o que se encontra na base dos petrodólares que sustentam a ditadura do dólar. Sob esta operação se sustenta o grosso da especulação financeira, que representa o coração da economia capitalista mundial. O colapso dos petrodólares significaria a bancarrota imediata do dólar como divisa mundial, do sistema financeiro e a entrada do mundo capitalista numa tremenda espiral hiperinflacionária e na depressão econômica.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.