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palmyraSíria - Diário Liberdade - Quais são as forças que se enfrentam na Síria? – O Estado Islâmico


Templo Ba'al-shamin em Plamyra, cidade conquistada recentemente pelo EI, na Síria. Foto: James Gordon (CC BY 2.0)

[Alejandro Acosta] As ações do Estado Islâmico têm levado ao crescimento no Oriente Médio, no Magreb (norte da África) e no Sahel (sul do Deserto da Saara), com a incorporação de várias organizações que, anteriormente, estavam vinculadas a al-Qaeda.

Recentemente, o grupo nigeriano Boko Haram se juntou ao Estado Islâmico, da mesma maneira que o tinham feito vários grupos no Paquistão, Argélia, Líbia e Egito.

A origem do Estado Islâmico se encontra no grupo iraquiano Jammat al-Tawhid, liderado por Abu Musab al-Zarqawi, que, após uma série de mudanças de nome, acabou rompendo com a al-Qaeda e se transformando no Estado Islâmico em 2014. Em 2006, encabeçou uma coalisão jidahista e adotou o nome de Estado Islâmico no Iraque. Em 2007, foi duramente atingido pelo exército norte-americano, com o apoio de líderes tribais. Mas as contradições com o governo central evitaram a completa destruição e permitiram a recuperação após a retirada dos Estados Unidos do Iraque, que começou no mesmo ano. O Estado Islâmico foi influenciado, em termos ideológicos, pelo jordaniano Abu Muhammad al-Maqdisi. Já a al-Qaeda na Península Arábica foi liderada por Nasir al-Wahayshi, que era próximo a Osama Bin Laden.

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Após o estouro da guerra civil na Síria, o Estado Islâmico se concentrou no apoio de outros grupos islâmicos, mas, em seguida, se envolveu diretamente na guerra, mudando o nome para “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”, ISIL, ou ISIS. Além de lutar contra o exército sírio, também tem se envolvido em conflitos militares com outros grupos, como a filial da al-Qaeda, Jabhat al-Nusra.

Em abril de 2014, o Estado Islâmico iraquiano tentou impor o controle sobre al-Nusra, mas acabou fracassando, apesar de ter conseguido ganhar uma parte dos militantes, o que levou à ruptura entre as organizações.

Os métodos brutais praticados pelo Estado Islâmico levaram ao repúdio pelos líderes da al-Qaeda que consideram que dificultam o apoio popular. Mas enquanto o Estado Islâmico cresce, a direção da al-Qaeda se encontra semiparalisada.

Deir el-Zour: apostas arriscadas do Governo de al-Assad

O Estado Islâmico controla a maior parte da província de Deir el-Zour, localizada ao leste da capital do país, Damasco, na fronteira com o Iraque. O exército se mantém entrincheirado na cidade de Deir el-Zour, a capital da província, onde se encontram estacionados batalhões de elite, da Guarda Republicana. Também foi despachada para o local a 104ª Brigada Republicana, composta por um grande número de soldados drusos. A aposta arriscada do governo de al-Assad está em que uma derrota para o Estado Islâmico pode levar à implosão da aliança com essa minoria e a uma maior desmoralização do governo, que tem promovido uma ampla campanha na imprensa sobre a importância estratégica dessa cidade. Mas as alternativas são muito limitadas.

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O governo aplica uma estratégia militar de concentração das forças para a defesa de Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, Damasco, a capital do país, e a região costeira, habitada majoritariamente pelos alauitas, a minoria que governa. Por esse motivo, os esforços têm sido direcionados a bloquear os acessos. Trata-se de uma política defensiva, imposta palas sucessivas derrotas em várias frentes.

A minoria alauita tenta garantir a sua sobrevivência, aplicando uma política de “salve-se quem puder”, sob fogo cruzado, a partir de várias frentes. A “somalização” da Síria tem se acelerado, num país muito mais importante, para o desenvolvimento da situação política no Oriente Médio e no mundo, que a Somália e que a própria Líbia, esta a nova Somália do norte da África.

Deir el-Zour: a queda de Palmyra

A tomada da cidade histórica de Palmyra, pelo Estado Islâmico, isolou fisicamente, por terra, as tropas do exército na província de Deir el-Zour, onde se encontram estacionadas duas brigadas importantes, a 137ª Mecanizada e a 104ª Republicana. Apesar de continuarem recebendo apoio por ar, a possibilidade de serem cercadas aumenta a cada dia.

A localização estratégica de Palmyra permite que o Estado Islâmico irradie os ataques para todas as regiões vizinhas, que se encontram sob controle do exército.

A vitória em Palmyra representa uma virada na tática militar do Estado Islâmico. Após ter sofrido importantes derrotas em Kobane e al-Hasakah para os curdos, onde a aviação norte-americana participou, apoiou os curdos e os “rebeldes”, agora passou a se focar em ataques contra o exército. Mas o aumento das contradições com os demais grupos guerrilheiros representa um entrave para essa política. Além disso, o Estado Islâmico está longe de ter sido derrotado definitivamente em Kobane e al-Hasakah.

No dia 25 de julho, uma dúzia de guerrilheiros se infiltrou em Kobane, detonou dois carros com explosivos e disparou a esmo assassinando dezenas de pessoas. Em al-Hasakah assassinaram o comandante em chefe do exército e promoveram um ataque com centenas de guerrilheiros, chegando a tomar dois povoados da periferia.

Até o momento, os Estados Unidos não têm realizado novos ataques aéreos. A amostra de algum tipo de apoio ao governo de al-Assad poderia quebrar o ponto de unanimidade dos vários grupos guerrilheiros.

O Estado Islâmico controla mais da metade do território da Síria, principalmente nas regiões semidesérticas da fronteira com o Iraque. Com a tomada da cidade de Palmyra, foi reforçado o controle, com uma cidade importante e os campos de gás de al-Hail e Arak vizinhos, que foram tomados no dia 18 de maio, e que são importantes para o fornecimento de energia nas regiões controladas pelo governo.

A perda de Palmyra deixou exposta a cidade de Homs, onde o Estado Islâmico não tem presença, mas para onde poderia avançar, colocando em xeque a base aérea T4, a partir de onde o governo realiza as operações sobre as regiões central e oriental da Síria.

Enfrentamentos entre o Estado Islâmico e os “rebeldes”

O Estado Islâmico representa uma espécie de “cachorro louco”, que escapou do controle do imperialismo. Apesar da importante derrota sofrida em Kobane, contra os curdos e a aviação norte-americana, conseguiu manter a capacidade militar.

Após ter garantido o controle da fronteira com a Turquia, conseguiu conquistar a região oriental da cidade de Aleppo, a segunda maior do país, derrotando os “rebeldes”, os grupos guerrilheiros muçulmanos apoiados pelo imperialismo e as potências regionais. O grupo guerrilheiro Jaish al-Fatah foi acuado e obrigado a realocar as forças em Aleppo, a partir de Idlib, onde tinha aplicado importantes derrotas militares ao governo.

O Estado Islâmico tende a se concentrar em regiões populosas, onde a atuação da aviação fica mais complicada, aumentando a pressão sobre o governo sírio. Mas, ao mesmo tempo, como resultado dessa política, os enfrentamentos na região têm recrudescido.

O controle da fronteira com a Turquia é crucial, pois é por aí que chega a maioria dos novos recrutas. A fronteira localizada ao norte da Província de Aleppo, e controlada pela al-Nusra, se transformou no próximo alvo natural para o Estado Islâmico.

Enquanto a luta pelo controle das linhas de suprimento a partir da Turquia tem escalado, o Estado Islâmico tem buscado se fortalecer na fronteira da Síria com o Iraque e ainda mais profundamente no próprio Iraque. Mas novas contradições surgiram e colocaram também o Iraque no caminho da “somalização”.

No dia 19 de maio, o Estado Islâmico conseguiu tomar al-Tanf (província de Homs) e, assim, passou a controlar toda a fronteira com a Turquia, com a exceção de uma pequena parcela, localizada ao leste, que é controlada pelos curdos. Mas, como consequência dessas vitórias militares, o grupo tem sido obrigado a lutar em duas frentes, ao mesmo tempo, de maneira simultânea, Palmyra e a fronteira turca. O controle de Raqqa também tem ficado exposto, principalmente, porque se encontra em terreno aberto e os demais grupos contam com o apoio da aviação norte-americana, ameaçando a repetição dos acontecimentos de Kobane.

Quando o Estado Islâmico tomou Tall Rifat e avançou sobre Marea, rapidamente os “rebeldes” organizaram contra-ataques, aos quais se somaram os curdos.

Os crescentes enfrentamentos entre os grupos guerrilheiros que lutam contra o exército têm aumentado o fôlego do governo de al-Assad, que tem conseguido realocar tropas de Aleppo para Damasco e outras regiões do país. Ao mesmo tempo, se desenha claramente o panorama da “somalização” da Síria.

A queda do governo sírio não garante qualquer estabilidade para o país e para a região. Em sentido contrário, a queda de al-Assad ameaça dividir o país em vários territórios controlados por milícias locais, apoiadas em maior ou menor grau por potências regionais ou imperialistas, tal como acontece hoje na Líbia e na Somália. Ao mesmo tempo, esses grupos poderão usar esses territórios como base para atuar nos países vizinhos, no Cáucaso, na Ásia Central e no sul da Rússia, pelo menos.


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