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lebanonLíbano - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Há várias semanas a capital do Líbano, Beirut, tem enfrentado sucessivos protestos contra a crise da coleta do lixo. No dia 17 de julho, o contrato com a empresa Sukleen não foi renovado.


Manifestação recente contra o serviço de coleta de lixo, em meio à instabilidade política no país. Foto: Sonia Sevilla/Wikimedia Commons (CC0 1.0)

O principal grupo que se formou por causa dos protestos, o “You Stink”, em alusão à corrupção no governo, que não consegue fornecer serviços públicos de qualidade, pede a renúncia do Ministro do Meio Ambiente, Mohammed Mashnouq. O Ministério do Meio Ambiente foi ocupado pelos manifestantes, que apresentaram um manifesto, mas acabaram sendo removidos pela polícia.

Após a repressão dos protestos, promovida pelas forças de segurança, apesar de serem permitidos, estes escalaram no final de semana 22 e 23 de agosto. Milhares de manifestantes tomaram a Praça dos Mártires e marcharam em direção ao Parlamento, tendo sido violentamente reprimidos pela polícia.

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No sábado 29 de agosto aconteceu o maior protesto contra o governo libanês. As palavras de ordem contra o governo se generalizaram.

A marcha começou na Praça dos Mártires e se dirigiu até a frente do Grand Serail, o palácio que abriga o escritório do primeiro-ministro libanês, Tammam Salam. Gritos de “saura!” (a palavra árabe para “revolução”) foram entoados constantemente pelo público, composto tanto por cristãos, quanto por muçulmanos.

Um novo tumulto começou quando um grupo de cerca 30 homens, a maioria com os rostos cobertos com camisetas, jogou bombas de pequeno impacto na rua. Em poucos minutos, os explosivos começaram a ser arremessados para dentro do jardim do palácio ministerial, caindo perto de um veículo blindado estacionado lá dentro.

O mesmo grupo tentou arrancar a enorme rede de arame farpado que separa o edifício da rua, ensaiando uma invasão ao Grand Serail, mas sem sucesso.

Alguns manifestantes gritaram palavras de apoio ao ato, enquanto outros tentaram impedi-lo. Forças de segurança posicionaram canhões d’água contra a multidão.

Porém, depois de entrar em confrontos com manifestantes no último fim de semana, que resultaram em quase 500 feridos, a polícia libanesa se absteve, pelo menos até o momento, de reprimir o protesto com violência.

Serviços públicos paralisados

A Praça dos Mártires foi palco de intensos confrontos armados durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), que opôs as diferentes confissões religiosas do país. O principal símbolo da praça é uma escultura que ainda se encontra cravada de balas, como uma lembrança do conflito que, durante 15 anos, destruiu o Líbano.

Além da coleta do lixo, o fornecimento de energia elétrica, água potável, telefonia celular e Internet são precários, com recorrentes interrupções.

O início do projeto de exploração de petróleo e gás, que depende da assinatura do parlamento, ainda não foi assinado e, portanto, ainda não foi iniciado. Os professores entraram em greve em protesto pela efetivação do aumento de salário que o parlamento já tinha aprovado. Um escândalo estourou por causa da falsificação de alimentos por supermercados e restaurantes.

Na realidade, as contradições políticas aumentam por causa da guerra civil na Síria. Mas o problema do lixo é anterior a 2011. O principal depósito de lixo, Naameh, foi aberto em 1998, de maneira temporária, e deveria ter sido fechado em 2004, mas continuou funcionando até este ano, sem haver alternativas.

A Sukleen cobra US$ 135 pela remoção de cada tonelada de lixo, o que é um valor muito acima da média mundial.

O governo libanês paralisado

A metade da população do Líbano é composta por refugiados palestinos e sírios que, na esmagadora maioria, se encontra sufocada em campos de refugiados sem acesso a qualquer serviço público.

O principal bloco político do governo, o 14 de Março, é apoiado pela Arábia Saudita, enquanto o 8 de Março é apoiado pelo Hizbollah e o Irã.

A situação política do país é instável. A divisão dos cargos no parlamento e no governo foi a maneira encontrada para colocar em pé um governo de unidade nacional que contemplasse os vários grupos, a partir de 2008. Mas, ao mesmo tempo, essa é a fragilidade. O país não conseguiu eleger um presidente de consenso há mais de um ano, desde o mês de maio do ano passado, e o atual parlamento estendeu os mandatos duas vezes sem ter convocado eleições.

Em 2013, o governo justificou a segunda extensão do mandato até 2017 alegando potenciais problemas para chamar a eleições nacionais devido aos problemas de segurança gerados pela guerra civil na Síria.

O sistema sectário que rege a política no Líbano garante cotas no poder para cada uma das 18 seitas religiosas do país. O presidente deve ser cristão maronita, o primeiro-ministro deve ser muçulmano sunita e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Os ministérios também são divididos entre as confissões religiosas. O sistema proporciona uma relativa paz entre as seitas do Líbano, principalmente enquanto há guerras civis na Síria e o Iraque. Ao mesmo tempo aumenta o poder dos caciques das facções.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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