O PT - por inegável que sejam determinadas oportunidades oferecidas às camadas populares mais humildes, em alguns anos -, é orientado por uma concepção de país muito similar à apresentada por seus atuais e ferrenhos adversários.
Conseguiu operar com alguma redistribuição de rendimentos beneficiando os de baixo, por meio de rendas extraídas de um tempo, curto, marcado por exportações elevadas.
Elas caíram e não voltarão, tão cedo, a subir. Os termos do redistributivismo fraco explorado pelos governos do PT estão totalmente esgotados. De nada adianta evocar o passado recente.
A única saída para enfrentar a crise, sob um ângulo efetivamente popular e que preserve a soberania nacional, é tocar nas rendas das camadas mais altas e nos lucros do grande capital. Isso via tributação progressiva e socialização da propriedade, esta por meio de estatizações de serviços e empresas privatizadas, bem como de outras eventualmente estratégicas para o país.
Também reformular completamente o perfil do acolhimento do capital estrangeiro, acabando com nocivas isenções mil e controlando as remessas de lucros. Entre outros problemas, as multinacionais sangram a balança de pagamentos, endividando mais ainda o Brasil. Ademais, fazer a auditoria da dívida pública seria outro passo igualmente importante.
Nada disso se poderia fazer da noite para o dia, mas evidentemente algum passo naquele sentido deveria ser dado. Isso se realmente estamos a falar de uma orientação política ciosa com os interesses populares e nacionais.
Está bastante claro que o PT nunca mexeu, muito menos, agora, pretende mexer em alguma coisa aí mencionada. O que deve ser questionado, portanto, não é o sujeito A, B ou C. Isso é apenas a borbulha da história.
O que deve merecer o foco da nossa atenção, isso sim, é a própria essência da sociedade brasileira e de sua inserção internacional: uma sociedade capitalista dependente e subalterna ao capital internacional, assentada na superexploração do trabalho. Questionar essa "grade de ferro", procurar rompê-la é o único caminho que pode viabilizar a satisfação dos interesses nacionais e da maioria da nossa gente.
A disputa que está prevalecendo, então, não é entre quem vai retirar direitos - já se está fazendo isso -, mas sim em relação ao ritmo dos cortes trabalhistas, sociais e constitucionais.
Por óbvio, o golpe - realmente em marcha - é um retrocesso do ponto de vista político, jurídico e cultural. Mas, como têm feito os petistas e aderentes acríticos, alegar defesa dos interesses econômicos e sociais populares, em pretensa contraposição aos golpistas de corte fascistóide, isso está completamente furado, já que a "vaca tossiu" há bastante tempo, estando quase com "pneumonia"...
Se a questão não envolve ideias e visões de país, estamos a nos deparar apenas com controvérsias entre "torcidas" de times de futebol. Seria de grande valia que os petistas, na pregação contra o golpe, exigissem algum programa da Presidência, minimamente compatível, ao menos, com o que foi apresentado na eleição.
O que seria, mesmo assim, inexequível sem a mobilização de reformas que afetem diretamente os interesses do grande capital nacional e internacional.
O apelo etéreo pela legalidade democrática, uma vez mais digo, tem pouco recurso de efetividade política e de superação do sombrio cenário que avança sobre a nação.
Por isso, há que se saudar a criação da Frente Povo sem Medo, que está articulando mobilizações nas ruas e preconizando ideias que envolvem a conjugação de uma defesa da democracia e da legalidade com os interesses populares e nacionais.
A saída da grave crise política e econômica que experimentamos só pode ser pela esquerda.