Segundo o Jornal de São Nicolau, às 8 horas desta quinta-feira um forte aparato composto por agentes da PSP, do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), acompanhados por funcionários do tribunal e da segurança social, chegaram às instalações da antiga Mecânica Setubalense (Vila Maria) e deram uma hora para os moradores recolherem objetos pessoais e abandonarem as suas casas. As instalações da antiga Mecânica Setubalense são propriedade do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), instituição dependente do governo, que, em junho passado, avisou os moradores que teriam de abandonar as instalações até ao final do mês
Mais de 35 famílias e 40 crianças, na maioria cabo-verdianos, viviam no local, em habitações de origem clandestina e em condições sub-humanas, e desde março passado tinham ficado sem luz.
As autoridades deram ordem de demolição das habitações e a segurança social apenas garantiu aos moradores pensões para ficarem durante duas noites e a colocação de móveis e eletrodomésticos num armazém, só até 15 de agosto.
Nem a Segurança Social de responsabilidade governamental, nem a Câmara Municipal de Setúbal, de maioria da CDU, se preocuparam em realojar de facto as famílias e, pelo menos, minorar o drama em que ficam colocados.
O jornal refere que os moradores estranharam o silêncio e a ausência da representação diplomática de Cabo Verde e da Associação Cabo-verdiana de Setúbal (ACS) e assinala que contaram com o apoio do padre Constantino Alves (pároco local).
Em abril passado, o Bloco de Esquerda tinha questionado o governo PSD/CDS-PP sobre o corte da eletricidade na Vila Maria, perguntando ao ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, nomeadamente, que medidas iria tomar “para garantir uma solução definitiva para melhorar a situação dramática em que vivem estas famílias”.
Na resposta, o ministério referia que a segurança social “em parceria com outras Entidades, nomeadamente a Autarquia de Setúbal” vinham realizando diversas diligências “com o objetivo de resolverem, definitivamente, o problema social dos residentes no espaço 'Mecânica'”. O ministro de Pedro Mota Soares concluía então: “Perspetiva-se que as soluções definitivas para todo o problema social das famílias que ali residem estejam concretizadas no decurso do mês de junho”.
Afinal, as soluções governamentais, assim como as diligências com a câmara, foram o despejo dos moradores e a demolição das casas, sem qualquer perspetiva de solução.