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Rute Cortiço

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Parágrafos lilás

O trabalho de umha mulher

Rute Cortiço - Publicado: Domingo, 14 Fevereiro 2010 10:31

Rute Cortiço

Nunca parastes a pensar em que a imagem mental que surge nas nossas cabeças quando escuitamos umha palavra som diferentes para cada pessoa? 


Por exemplo, umha pessoa que na sua vida apenas tivo uns resfriados ou umhas gripes, quando escuita a palavra 'doença' terá umha imagem e umhas sensaçons muito diferentes que umha pessoa que tivo experiências mais graves. 

Estou certa de que as sensaçons ou imagens que se formam na cabeça de umha mulher ou um homem quando escuitam as palavras trabalho ou tempo livre som completamente diferentes.

Se se perguntar a um trabalhador o que é que fai no seu tempo livre, talvez responda qualquer cousa como que vai passar tempo com a sua familia, ou simplesmente vai estar no seu lar. Pensades que umha mulher contestará o mesmo?

E quando falamos de trabalho, condiçons e direitos laborais, seguramente aconteça algo semelhante, dado que as mulheres, sendo 51% da populaçom mundial, realizamos duas terças partes das horas de trabalho, percebemos só 10% dos rendimentos e somos propietárias de 1% dos bens.

A exploraçom laboral deve-se ao modelo económico capitalista e à sua acumulaçom incessante de benefícios, mas por que as mulheres temos que ser as mais perjudicadas? ou ainda há gente que pensa que o trabalho precário é neutral ao sexo?

O conjunto simbólico dos homens definiu o que é trabalho e o que nom o é, e como se atribuem essas tarefas, por isso as tarefas consideradas como trabalho e com mais prestígio som reservadas para eles. A figura do trabalho e do trabalhador esté temperada com umha série de valores ideológicos que som o passe para levar umha vida digna e ter uns direitos só concedidos ao trabalhador, prioritariamente varom, e esta consideraçom de umha actividade como trabalho ou nom repercute na inclusom do indivíduo na atribuiçom duns direitos e prestaçons.

Todo isto é destapado pola análise feminista da divisom sexual do trabalho, as hierarquias do género e a análise do modo como o capitalismo usa o trabalho feminino para a reproducçom da força de trabalho. As mulheres desempenhamos maioritariamente trabalhos relacionados com os nossos roles de dona de casa, de cuidadora... somos enfermeiras, limpadoras, empregadas de mesa, cuidamos crianças, anciás e doentes... nestas categorias feminizadas os salários som piores, sem direitos ou com menos direitos laborais. E nos trabalhos que nom tenhem nada a ver com isto, as mulheres servem para assumir os papéis de subalternas, de apoio para os homens, som as que fam o trabalho invisível ou de formiga, nom falam em público, nunca contradim os varons... isto é, aplicam-se as qualidades da boa esposa para a boa trabalhadora, o modelo de inferioridade que nos achegará aos trabalhos considerados como inferiores.

Enquanto a concepçom de trabalho para o homem será o de um trabalho fixo, bem remunerado, onde poderá ascender, com todos os direitos sociais, e com todo o prestígio de ser umha peça útil da sociedade.

Devido à dedicaçom as tarefas domésticas e às nossas funçons de cuidadoras, as mulheres som as maiores demandantes de trabalho a tempo parcial, que costuma ser precário, com um salário menor e temporário, assim a maioria dos contratos lixo está açambarcada por mulheres que conciliam a sua vida laboral e familiar precarizando a primeira. Em resumo, além de terem postos de trabalho feminizados, ou de exercerem o papel de submissas, em geral os trabalhos das mulheres som mais precários e temporários que os dos homens, sendo o verdadeiro direito ao trabalho o concebido para o varom-cabeça de família para conseguir o sustendo desta.

Como todas sabemos, em tempos de crise estas condiçons e situaçons recrudescem para tod@s @s trabalhadores, mas para as mulheres em especial.

As mulheres estamos muito mais indefesas perante os ataques do sistema, sistema que sabe que a educaçom patriarcal nos converteu em trabalhadoras passivas, submissas, serviciais... que carecemos de organizaçons e sindicatos, assim, somos as primeiras a ser despedidas. Diante disto, os sindicatos reformistas, de direcçom maioritariamente masculina, corporativistas, machistas a maioria dos maridos, companheiros e familiares, decidem que é muito melhor que seja assim. Seremos as mulheres emigrantes, seguidas dos homes emigrantes e mulheres autóctones, por esta ordem, as que perdamos o trabalho. 

Nom é umha questom fútil a revalorizaçom do trabalho doméstico em tempos de crise, activam-se todos os mecanismos para forçar que as mulheres voltem a casa, alguns destes factores som a diminuiçom de prestaçons públicas e privatizaçom de serviços.

Além da perda de postos para as mulheres também se reduzem as possibilidades de encontrar trabalho assalariado, e as poucas ofertas que se nos oferecem terrivelmente precárias.

A deterioraçom das condiçons económicas e laborais da mulher durante a crise tem que ser enquadrada na sua situaçom de indefensom, de falta de auto-organizaçom, de isolamento, e da nossa própria concepçom de inferioridade a respeito do homem.


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