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Marcos Lopes

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Mais transgénicos!

Marcos Lopes - Publicado: Segunda, 08 Fevereiro 2010 02:45

Marcos Lopes

Já vai para vinte e oito anos que umha equipa científica da universidade de Stanford, nos EUA, logrou ligar pola primeira vez duas cadeias de DNA de origem diferente. 


Era a primeira experiência com sucesso da engenharia genética, e abria o caminho para novos e surpreendentes experimentos. Acho que no nosso subconsciente a engenharia genética é percebida como umha espécie de magia dos nossos tempos. Há já algum tempo, numha feira nas Pontes, vim um homem que cobrava por ensinar umha vaca com cinco patas; havia cola na entrada da carpa para a ver aquela “excepçom de deus”. Agora aos laboratórios produzem ratos fosforescentes e o assombro é o mesmo, mas mudou a divindade responsável: agora é a Ciência que se nos apresenta infalível e omnipotente; semelha que qualquer cousa é possível ou só questom de tempo. As grandes empresas produtoras de sementes transgénicas nom ocultam a origem das mesmas: como os consumidores vam preferir umha semente normal a umha tocada pola varinha mágica da ciência? É a inovaçom, é o progresso.

Umha segunda percepçom subconsciente nos aborda ao falarmos de transgénicos: a fame. Com efeito, a FAO chegou à conclusom já na década de sessenta do século passado de que a capacidade mundial de produzir alimentos nom era suficiente para abastecer a toda a populaçom. “Essa gente de pele escura nom tem para comer, assim que nom podemos ficar parados” diriam as grandes transnacionais produtoras de alimentos. A chegada dos alimentos trangénicos ofereceu a soluçom: espécies que produzem mais, alimentos mais alimentícios, resistência contra todo tipo de pragas... A engenharia genética era a chave. Há uns meses, Maria Ogando foi entrevistada na televisom da Galiza em representaçom da Plataforma Galega Antitransgénicos. Já face o final da entrevista o jornalista fixo-lhe a pergunta tenaz: “há zonas do planeta onde a populaçom se alimenta basicamente de arroz e, devido ao baixo conteúdo em ferro deste alimento, dam-se muitos casos de anemias. A engenharia genética permite produzir um arroz enriquecido em ferro que solucionaria estes problemas. Estám vocês contra disso?”. Eu reformularia a pergunta, para ficar mais clara a postura do entrevistador: “há zonas do planeta onde a gente só gosta do arroz. Nós sabemos que o correcto é levar umha dieta variada, com aportes protéicos, vegetais e de fibra diários, sem esquecer umha peça de fruta ao dia, mas o mundo é plural e nós como democratas temos que respeitar que eles nom queiram comer carne, lentilhas ou outros produtos ricos em ferro. Ainda assim, a nossa superioridade leva aparelhada umha responsabilidade: nom podemos deixar que morram pola sua ignoráncia”. Como quando os nossos pais nos picavam bem fina a cebola na sopa, para que nom se notasse a textura. Claro, eles sabiam o que nos convinha.

Mas longe destes dous argumentos recorrentes, o que se agocha por trás do apoio mediático e governamental aos transgénicos é a sua capacidade para incrementar a produtividade. O modelo agrogandeiro potenciado polas grandes corporaçons alimentares implica mega exploraçons que permitam reduzir ao mínimo os custos para, evidentemente, maximizar o ganho. Na produçom agrícola isso é sinônimo de monocultivo extensivo, o qual requer grande uso de pesticidas, perda de biodiversidade, solos extenuados, contaminaçom de águas por filtraçom de tóxicos... Longe de apostar numha agricultura sustentável, os transgénicos som mais umha volta de rosca nessa estratégia. Conta Gilda Roa, umha camponesa paraguaia, numha entrevista em Gara, como as comunidades camponesas do seu pais que se negam a vender as suas terras som expulsadas por métodos violentos, vendo-se encaminhadas para a periferia das cidades. Nom duvida em sentenciar que “o monocultivo é umha fábrica de pobreza”.  

Ocorre que  as grandes extensons de terras andam caras, especialmente em paises desenvolvidos, assim que o mais prático é deslocar a produçom para Latinoamérica, Ásia e outras zonas onde os meios de produçom som mais assequíveis. Assim, dos seis principais produtores de transgénicos do mundo, quatro som paises destas zonas: Brasil, Argentina, Índia e China (evidentemente, que os produzam nom quer dizer que os benefícios da sua venda fiquem lá). Um caso semelhante ao narrado por Gilda Roa sucedeu há três anos no Brasil. No estado do Paraná, componesas e camponeses ocupárom um campo experimental de transgénicos declarado ilegal, propiedade da multinacional Syngenta. A empresa de segurança contratada por Syngenta nom duvidou em abrir fogo contra eles. O Comunicado do Movimento Sem Terra começa assim:

“No último domingo, dia 21 de outubro, por voltas das 13h30, após a reocupaçom da área, que aconteceu no início da manhá do mesmo dia, mais de 40 pistoleiros, de umha milícia fortemente armada, sob a fachada de empresa NF Segurança, invadiram o Acampamento Terra Livre, na área de experimentos de transgénicos e executaram a queima roupa o companheiro Valmir Mota de Oliveira, o Keno. Os feridos, Gentil Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barretos, Izabel Nascimento de Souza e Hudson Cardin, foram encaminhados para os hospitais da regiom”.

E que será que tenhem os transgénicos que se mata por eles? Em realidade, o seu funcionamento é singelo: três quartas partes das sementes comercializadas estám manipuladas genéticamente para resistir ervizidas que arrasam com o resto de plantas (ervizidas que som produzidos polas próprias companhias sementeiras). O resto apresentam umha modificaçom que lhes permite produzir toxinas, graças à introduçom no seu DNA de material genético dumha bactéria do chao (Bacillus thurigiensis, Bt). Isto só significa umha cousa: controlo do mercado, porque só as grandes empresas podem aceder à tecnologia genética. De facto, há seis grandes casas que dominam o mercado mundial de sementes: Monsanto, Syngenta, Dupont, Bayer, Dow e Basf. E claro, as seis som também as maiores produtoras de agrotóxicos do mundo. A estratégia e redonda e o negócio também. Tanto que parte dos ganhos se podem destinar a pagar expertos “independentes” e estudos sobre o risco zero que suponhem os seus produtos. Na Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, organismo que se encarrega de assesorar à Comissom no processo de elaboraçom de normativas, encontrarémos bons exemplos dessa “independência” da que tanto gostam Monsanto e companhia.

Os esforços do movimento ecologista conseguírom criar rejeitamento social incidindo, entre outros argumentos, na perigosidade destes alimentos: dos poucos estudos independentes realizados sobre transgénicos deduz-se que os transgénicos podem ter efeitos na proliferaçom de alergias, resistência a antibióticos e efeitos tóxicos em humanos. O razonamento é simples: A genética nom pode prever todas as sinergias entre genes ao introduzir novo material genético no DNA doutro organismo, embora a sua funçom a priori nom tenha a ver com estes efeitos. Convém, portanto, aplicar o princípio de precauçom. 

Ainda assim, o Ministerio de Agricultura de Espanha acha que nom há problema em introduzir os transgénicos no Estado. Na Galiza já há campos experimentais em diversos concelhos e em novembro de 2008 aprovou-se no Parlamento galego um documento que regula a presença de transgénicos nas nossas terras, consensuado polos três grupos parlamentares. O texto, que foi apresentado polo BNG como umha proposiçom nom de lei para declarar a Galiza território livre de transgénicos, foi emendado por PP e PSOE para permitir o cultivo transgénico no país. Já nom surprende que o BNG, que já apresentava umha proposta mui de mínimos, admitisse as emendas e votasse a favor. “Melhor isto que nada”, “Mais nom se podia fazer”, como dim os defensores do bipartido. Será o mesmo que pensaria Alfredo Soares  Canal quando, sendo ainda Conselheiro de Meio Rural, atendeu representantes da Platafoma Galega Antitransgénicos e negou-se a dar a localizaçom das plantaçons experimentais, ainda tendo obriga legal de fazê-lo.

Nesta última década, os transgénicos penetrárom menos do esperado no mercado devido ao trabalho de organizaçons ecologistas e de esquerdas. O rejeitamento social a estes produtos é um logro a defender, e apartir do qual seguir a trabalhar. Mas aguardam-se novas ofensivas para legitimar estes produtos. Ante esta perspectiva devemos ser inflexíveis: neste mundo os transgénicos significam injustiça social, oligopólio, degradaçom do meio e perda de soberania alimentar.


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