2. Trata-se, como em toda crise, de sintomas agudos das perdas e da deterioração do organismo (no caso o País).
3. Iludem-se os que cogitam de que ela provém somente da tentativa keynesiana, na gestão de Mantega na Fazenda, de elevar o financiamento público para investimentos produtivos de grandes empresas.
4. A crise foi agravada com o término dessa política anticíclica, ao iniciar-se, em 2012, o segundo mandato da presidente da República, e ser adotada a brutal elevação dos juros, bem como cortes orçamentários, ambos danosos à economia e ao social, a pretexto de sanar o desequilíbrio financeiro.
5. De fato, as duas coisas convergem para deprimir ainda mais a economia e o emprego. E são contraditórias em relação ao pretenso objetivo, pois a elevação dos juros - na dimensão que teve, e incidindo sobre estoque de dívida interna de R$ 4 trilhões - causa aumento da despesa pública muito superior ao corte de gastos.
6. Os efeitos não poderiam ser mais perversos. Significam violento ataque sobre um organismo fraco, e que já sofreu, ao longo dos anos, crises devidas ao crescimento errado e a sucessivas tentativas de correção, com danos adicionais ainda mais pesados.
7. Por que o organismo ficou fraco? Devido a causas estruturais, que acarretam as crises. A causa fundamental é desnacionalização, que conduz à desindustrialização e à concentração. As três coisas não cessaram de aumentar nestes 62 anos.
8. As doenças socioeconômicas têm sido exponenciadas pela deterioração das instituições políticas e pela profunda penetração política e cultural (anticultural) dos carteis transnacionais e de entidades internacionais e de potências estrangeiras.
9. Essas instâncias intervêm no País, não só através de pressões financeiras, atribuídas ao “mercado financeiro”, mas de pressões políticas, intensificando as causas estruturais da insanidade.
10. A cada momento, surgem mais sintomas desse quadro patológico. O Estadão noticia, em 28 do corrente:
“Só em São Paulo, 4.451 indústrias de transformação fecharam as portas em 2015, número 24% superior ao de 2014.”
“Muitos trabalhadores demitidos não receberam salários e rescisões. De acordo com o IBGE, entre novembro e janeiro, a indústria brasileira fechou 1,131 milhão de vagas, recorde para um trimestre.”
11. Não são só pequenas empresas. Em Guarulhos, há pouco, as metalúrgicas Eaton, Maxion e Randon encerraram suas atividades.
12. Nos implementos rodoviários houve retração de 50%. A têxtil Polyenka, de Americana (SP), que já tivera 2.000 empregados, deixou de produzir.
13. A MABE, linha branca, também com 2.000 empregados, pediu falência em fevereiro e fechou as fábricas de geladeiras Continental em Hortolândia e de fogões Dako em Campinas.
14. A grande empresa de autopeças Delphi fechou duas fábricas em 2015, em Mococa (SP) e Itabirito (MG), e este ano completa a transferência da unidade de Cotia para Piracicaba (SP). 1,7 mil trabalhadores perderam os empregos.
15. Antes da queda de 8,7%, em 12 meses até janeiro de 2016 (dado do IBGE), a indústria caíra de 35% (anos 80) de participação no PIB, para menos de 10%.
16. O País regride, em condições piores que as do início do Século XX, à condição de exportador de bens primários. Avultam desastres terríveis, como a lama tóxica da mina de ferro da SAMARCO (Vale desnacionalizada e a transnacional Billiton), que devasta grandes áreas e o Rio Doce, e até o mar. Há tragédias potenciais desse tipo.
17. Na agropecuária, desastre permanente de enormes dimensões, determinado pela subordinação da estrutura econômica e da infraestrutura às conveniências dos “mercados” importadores.
18. Veja-se: “O Brasil consome 20% dos agrotóxicos”. De longe, o maior do mundo no uso desses venenos. Ademais, usa 14 agrotóxicos proibidos em outros países. Ora, a incidência de câncer é três vezes superior à média em áreas contaminadas por agrotóxicos.
19. Em função do agronegócio, cujo objetivo é produzir para países industrializados, metade da área utilizada pela agricultura no Brasil é para a soja, quase toda transgênica.
20. Ademais, o cartel transnacional das sementes transgênicas e fertilizantes e pesticidas químicos impingiu a aceitação desses flagelos, que estragam solos, subsolos e águas, e intoxicam agricultores e consumidores.
21. Grande número de brasileiros come alimentos cozinhados com óleo de soja transgênica, sem informação para procurar nos rótulos o microscópico T, nem dinheiro para opções de oferta limitada.
22. O poder combinado das transnacionais e dos ruralistas, grandes doadores de recursos de campanha, explica o apoio oficial a grandes projetos mineradores e às fazendas industrializadas.
23. Os ruralistas têm quase a quase metade dos 594 parlamentares e tornaram inócuas as leis proibitivas de plantas geneticamente modificadas.
24. Respondendo à pergunta inicial: com a permanência da presidente ou sua derrubada, o cenário é péssimo, nada havendo a esperar de honesto nem de salvador por parte dos pretendentes. O moralismo, manchado pela seletividade, tem servido para intensificar a desnacionalização e a desindustrialização, queda da produção e o desmonte da Petrobrás e empresas de engenharia.
25. Não há saída sob o atual regime. Tampouco, sob um calcado nos governos de 1964 a 1984.
Artigo escrito no dia 30/03/16.