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080915 emgalegoGaliza - PGL - [Joám Lopes Facal] «Creio no galego e no português mas nom acredito em qualquer híbrido entre ambos», sentenciava em conversa privada um eminente representante da cultura galega a propósito da minha tese de doutoramento.


 A tese, defendida na Faculdade de Económicas da USC, trata sobre a banca compostelana dos Pérez e foi redigida e defendida em norma AGAL por simples lealdade ao idioma nativo do autor. Optei por esta norma nom sem antes ponderar a possibilidade da versom em português padrom, mais adequado decerto para um trabalho que visa o acesso à comunidade académica sem fronteiras. Prevaleceu a lealdade e a convicçom da plena aptidom do galego para qualquer uso e circunstáncia.

A opiniom do meu interlocutor, bem instalado na norma galega habitual e apreciador do português, pouco diferirá da que um pode esperar de qualquer conspícuo partidário do “português da Galiza”: “nom brinquem com o idioma –quer seja galego consagrado, quer português padrom–, fora da norma todo é artifício vao”.

A opçom pola norma AGAL comporta, ademais –será bom deixar constáncia–, um esforço suplementar que um pode aforrar se optar polo português padrom. Contamos em tal caso com excelentes instrumentos auxiliares, magníficos dicionários disponíveis e um competente corretor lingüístico que facilita grandemente o fluxo da escrita a pouco que um conheça o idioma. Por quê entom empenhar-se em contrariar nada menos que duas doutas academias ‑ a nobilitada com a dignidade real e a empenhada à proclamaçom do “português da Galiza”?

No que a mim respeita, a resposta afinca na convicçom de a Galiza ser um sujeito histórico singular dotado de língua própria com atributos de naçom. Haverá quem sustenha que tal categoria é mera ilusom, mas talvez poda reconhecer que também é a hipótese de nom existirem sociedades senom apenas átomos individuais desvinculados. Numha perspetiva nacionalitária, nem o caráter descaradamente regionalista do galego em vigor ‑ simples apêndice pitoresco do castelhano ‑ nem o esplendor internacional do idioma português honram como merece a secular história do galego e a exigência política de reagir contra a sua degradaçom e perigo de assimilaçom polo espanhol. Por desídia servil no primeiro caso, por abandono do inescusável confronto com a realidade do idioma vivo no segundo.

A agenda tradicional da AGAL consistiu desde sempre na reabilitaçom do idioma menosprezado perante o espelho do português em funçom de língua teito. A superaçom do isolamento regionalista que abafa o galego requer como precondiçom nom cairmos no abandono do inevitável confronto com a degradaçom e a reabilitaçom do idioma. Sob esta perspetiva, o refúgio no «português da Galiza» parece umha saída errada da imprescindível tarefa pendente. O modelo AGAL promete recuperar o coraçom do galego, operaçom incompatível com um transplante de coração com previsível resultado de rechaço.

stablishment político, económico e mediático felizmente imperante garante e usufrui a tese implícita de o galego ser um apêndice do castelhano. A proclamaçom do «português da Galiza» em substituiçom do galego vivo parece acreditar numha conceçom do galego como fruto prematuro e gorado do idioma português. Hipótese atrevida que trai à memória a afirmaçom do Marx mais teleológico de que «a anatomia do homem explica a do símio».

A procura dum novo consenso para dignificar o idioma é a tarefa certa e inevitável e o seu destinatário o conjunto da sociedade galega sem exclusons. O idioma é o mais alto monumento que tenhamos produzido, património coletivo como as Fragas do Eume, as Ilhas Atlánticas ou o Pórtico da Glória. O momento é propício para relançar a proposta da AGAL; basta como observar a esperançosa movimentaçom social emergente a prol de umha Galiza sem inúteis tutelas como no crescente ativismo em prol de um grupo parlamentar próprio nas Cortes espanholas.

A tarefa de reabilitaçom do idioma é difícil mas nom ilusória. Nom estará de mais lembrar que Catalunya grafa com o seu dígrafo identificativo “ny” apenas desde o ano 1913, e que o euskara batua é um formato de recentemente construçom como som os dígrafo “tx, ts, tz”. Nada a ver com a magnitude demográfica e opulência secular da nossa língua teito, o português padrom. A norma AGAL está construída com material de excelente qualidade e irreprochável rigor filológico, apenas falta a cumplicidade do poder político, mas isso tem remédio e a isso estamos.

No próximo 24 de outubro está convocada Assembleia Extraordinária para a renovaçom do Conselho da AGAL. Seria bom que o novo Conselho procedesse a revalidar a agenda fundacional da Associaçom mediante os instrumentos que o próprio movimento foi criando: infantários monolingües, ediçom de livros, recuperaçom de neofalantes, clubes de leitura, intervençom freqüente de sócios e simpatizantes em redes sociais e debates. Tornar normal o ativismo em volta do idioma –que é património quase exclusivo hoje do movimento reintegracionista– é o eixo da agenda.

A bússola do ativismo linguístico nom aponta hoje para gramáticas e prontuários, senom para a prática acrescentada do idioma reabilitado através das redes sociais e a difusom de textos cuidados de toda índole, da crónica ao ensaio, do artigo à tese doutoral. A freqüentaçom da literatura portuguesa é o melhor guia para configurar um galego literário, limpo e reconhecível. Um galego renovado que prenuncia e acompanha a emergência dessa Galiza reconciliada consigo mesma que tenta de novo afirmar-se.


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