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image-01Galiza - Novas da Galiza - [Isabel Rei Samartim] Na Madeira, pérola da Macaronésia, o mar sobe por cima dos telhados das casas, por cima das ruas e praças da nobre e leal cidade do Funchal.


Adiante, praias vulcânicas bordando os degolados rochedos. Atrás, a montanha impraticável do Hélder. Na cidade, ruas de calçada portuguesa. E o mar por cima e por baixo de tudo, aberto e atlântico, imenso, selvagem. Num canto qualquer da urbe, um encontro:

- Atão, como vai essa música?

Escadas acima, uma senhora com um braguinha na mão:

- Vai indo, vai indo!

A floresta borbulha exuberante por toda a parte. Em meia hora, a ilha passa das alturas dos Ancares à serenidade das Arouças. As levadas e os túneis, excavações na terra para a passagem de águas e pessoas, delinham o monte assombrado. Na subida aos Balcões, em Ribeiro Frio, depois de comprar um barrete colorido, outra senhora conversa:

- Mas esse barrete não é de lã de ovailha!

Ovelhas. Ali é o nevoeiro e ainda há pássaros. Sempre o mar gigantesco a ultrapassar o teto do horizonte. No ventre, as harmonias da Banda d’Além que lembram o nosso Desselado e as fotos antigas de mulheres com bandolins.

- Há cuoisas que o govuerno nem repara nelas.

Cousas do governo. O senhor motorista, muito amável, mostra pedaços de costa abafada pelo turismo de hotel e saboreia um cigarro enquanto fala tranquilamente antes de ir ao aeroporto:

- Há dias tiubarão entrou na praia. Puôde ir embora só quando maré subiu, que chega àqueles cuatos.

Aqueles catos nascem das rochas abismadas nas saias do oceano. Há uma Madeira que é como um tubarão atrapado na praia pela descida da maré. Partir é só com maré alta: Os catos, o clima morno, a poncha à pescador, os bolos do caco e a espetada, os machetinhos com viola de fundo e uma galega arroaz sabe que há língua para além da língua, que há mundo para além do mundo, que há mar para além do mar.


Opinião publicada originalmente no n.º 141 do Novas da Galiza, na seção Língua Nacional.

Imagem: Uma rua da cidade do Funchal.

Isabel Rei Samartim: Mulher, música guitarrista, galega. Pensa que a amizade é uma das cousas mais importantes da vida. Aprendeu a sobreviver sem o imprescindível. Aguarda, sem muita esperança, o retorno do amor. Entanto isso não acontece, toca e escrevinha sob a chuva compostelana.


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