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sochiRússia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Nos dias 11 e 12 de maio, o secretário do Departamento de Estado norte-americano, John Kerry, esteve no sul da Rússia, na cidade turística de Sochi, onde se encontrou com o presidente Vladimir Putin e o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. Foi a primeira visita oficial desde a crise na Ucrânia.


O eixo da estorinha: reduzir as tensões na Ucrânia para estabilizar o Oriente Médio

Essa movimentação da Administração Obama representa uma virada em relação à política orientada ao endurecimento das sanções, impulsionada pelos neo-conservadores norte-americanos que controlam o Congresso e o próprio Departamento de Estado. Seguindo os passos do governo alemão, Obama busca, evidentemente, estabelecer alguns acordos com o governo russo, que é determinante no desenvolvimento dos acordos com o Irã, no controle da crise na Síria e na Ucrânia.

Os resultados foram qualificados como muito positivos por ambas as partes. Na conferência de imprensa, John Kerry declarou que a solução para a crise na Ucrânia passa pela implementação dos acordos de Minsk II, exatamente a mesma política seguida pela Alemanha/ França e a Rússia.

A crise econômica e política está levando o falido Estado ucraniano ao colapso, o que foi potencializado com a perda da Crimeia e a guerra separatista no Donbass (Donetsk e Lugansk). Aumenta o risco de um colapso do governo de Poroshenko, por meio de um golpe de Estado, dentro do atual golpe de Estado. A "saída" só pode se encaminhar para a anexação do país pelo imperialismo, no sentido da intervenção militar direta. Kerry afirmou que as declarações de Poroshenko de que o aeroporto de Donetsk seria retomado em breve, por meio de uma grande ofensiva militar, estavam por completo fora de lugar.

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Mas a implementação do acordo de Minsk II, tal como foi acordado no papel, é impossível de ser colocado em prática. O foco da aproximação dos norte-americanos com o governo russo só pode ter buscado reduzir o confronto na Ucrânia, mas mantendo os desacordos, com o objetivo de alavancar esforços em comum no Oriente Médio.

A tentativa de distender a crise na Ucrânia

O ponto central das conversações entre os governos dos Estados Unidos e da Federação Russa somente pode ter se desenvolvido no sentido de minimizar a crise na Ucrânia, que se relaciona com as sanções econômicas e a desestabilização da região que pode evoluir em direção à própria Rússia. O ingresso da Ucrânia na OTAN é o principal ponto inaceitável para os russos, mas também o é um enfrentamento de grande envergadura com o imperialismo.

No final deste ano, expiram as sanções contra a Rússia. Os governos da Alemanha, França e Itália são favoráveis a aliviá-las, por causa da perdas econômicas dos monopólios europeus.

O mais provável, em relação à proposta do Departamento de Estado, é a de escalação do conflito no Donbass e a não renovação das sanções. Esta é a base para contar com o apoio da Rússia na última cartada de Obama para estabilizar o Oriente Médio antes das eleições presidenciais que acontecerão no próximo ano. A direita norte-americana já domina as duas câmaras do Congresso.

O acordo com o Irã aumentou as contradições dos Estados Unidos com a Arábia Saudita e as demais monarquias do Golfo. Não por acaso, o novo monarca saudita, Salman al Saud, não compareceu pessoalmente à reunião convocada recentemente pelo presidente Barack Obama, em Camp David. Não é nenhum segredo que os sauditas têm consideráveis desacordos com a política atual em relação à Síria, ao Irã e ao petróleo. Pelo menos nestes três casos, a situação evoluiu para uma guerra semiaberta.

Na Síria, os Estados Unidos estão tentando criar uma frente única com a participação da Arábia Saudita, a Turquia e o Catar, o que tem se materializado em ofensivas conjuntas de vários dos grupos guerrilheiros que se opõem ao governo de al-Assad, tanto no norte como no sul do país. Mas alinhado com o governo estão a Rússia, a milícia libanesa, Hizbolah, apoiada pelo Irã, e, por baixo do pano, a China. A Alemanha mantém a política tradicional de evitar o envolvimento direto em conflitos militares.
Os grupos muçulmanos, como o Estado Islâmico, a al-Nusra e o Exército Livre, tendem a preencher o vácuo deixado pelo governo, como aconteceu recentemente no estratégico povoado de Deir el-Zour.

Sem a Rússia e o Irã o imperialismo não consegue controlar a situação, nem fazer frente à pressão das ultrarreacionárias monarquias do Golfo Pérsico e dos sionistas israelenses. O governo norte-americano precisa que os russos limitem o repasse de tecnologia militar ao Irã, que não voltem atrás no tratamento dos resíduos nucleares iraniano e que, no geral, não implodam o acordo. A importância da Rússia no Oriente Médio, particularmente a influência sobre o Irã, diminui com o acordo, e aumenta a influência dos norte-americanos. O programa russo "petróleo por mercadorias", por exemplo, não terá razão de ser. O imperialismo precisa controlar alavancas que hoje lhe escaparam das mãos e que, devido ao aprofundamento da crise capitalista, têm se tornado cada vez mais difícil de controlar. Para isso, algumas concessões se fazem necessárias.

Qual é o caráter do Governo Putin?

Uma parte da esquerda mundial tem caraterizado o governo Putin como semifascista, ecoando a propaganda imperialista. Na Europa, e principalmente nos países dominados pela direita, essa propaganda vai a mil por hora. Outros setores da esquerda chegam a caracterizar o próprio Putin como sendo um grande democrata e até um lutador pelo "socialismo real" em alguma medida.

Na realidade, Putin é o principal representante do nacionalismo burguês russo. Ele foi a principal liderança que tirou a Rússia do colapso em que se encontrava em 1998, e conseguiu estabilizar o país em cima do direcionamento da economia para uma política de exportação de energia e de armas. Com o enfraquecimento do imperialismo, devido às derrotas militares no Iraque e no Afeganistão, e o colapso capitalista de 2008, que teve o epicentro nos países desenvolvidos, a Rússia se fortaleceu e avançou sobre os países da antiga periferia, no sul do país e na Europa Oriental. Essa política gerou contradições com as potências imperialistas que, por sua vez, tem como objetivo estratégico impor um governo alinhado, avançam sobre a periferia da Rússia e apertaram o cerco militar por meio da OTAN.

Na Ucrânia, o governo russo tem sido muito ativo na defesa das repúblicas separatistas contra os golpistas de Kiev, que não passam de meras marionetes do imperialismo. O próprio levante armado contra os golpistas, no Donbass, começou na cidade de Slaviansk, em Donetsk, e foi liderado, fundamentalmente, pelo antigo funcionário da FSB (o serviço de inteligência que sucedeu a KGB), o atual general Strukov. O apoio não se relaciona em absoluto com interesses revolucionários, mas com a defesa dos interesses russos perante a pressão do imperialismo. A entrada da Ucrânia na OTAN deixaria as fronteiras da Rússia extremamente expostas. A própria sobrevivência do setor vinculado a Putin ficaria fragilizada. Esse setor controla as grandes empresas estatais e goza de amplos privilégios públicos. Trata-se de exatamente a mesma política aplicada em relação às minorias russas existentes em todos os países vizinhos.

Alejandro Acosta está atualmente na Rússia cobrindo os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.


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