Por isso, o intenso fluxo migratório rumo a países desenvolvidos, sobretudo para os Estados Unidos, deve ser entendido como uma busca por sobrevivência e não mais por melhores oportunidades de vida e trabalho como antes. Neste contexto, homens, mulheres e crianças migrantes se transformam em refugiados, sendo assim, dignos de proteção internacional.
O Movimento Migrante Mesoamericano (MMM) aponta que, no último trimestre de 2013, o fluxo migratório centro-americano começou a se intensificar, ao mesmo tempo o tráfico na rota migratória também cresceu assustadoramente, sobretudo desde fevereiro de 2014. Além do incremento na quantidade de pessoas também foi visível uma mudança na postura e motivação dos migrantes.
De cada 10 migrantes entrevistados por Ruben Figueroa, do MMM, sete disseram estar fugindo de seu país por ameaça de morte, extorsão ou pela morte de algum familiar pelas mãos de quadrilhas ou de narcotraficantes.
"Observa-se um verdadeiro estado de emergência, que exclui as considerações do tamanho do perigo e do nível de sacrifício físico e pessoal que implica sua travessia pelo México. É uma população em movimento com um nível de desespero que os impulsiona, sem importar consequências nem tragédias. Eles não têm mais escolha a não ser fugir", destaca texto do Movimento.
O narcotráfico é um dos responsáveis por essa debandada. Crianças e adolescentes são os alvos preferenciais dos grupos ilegais, que utilizam menores para a venda de drogas e extorsão. Quem não aceita é executado. Unido ao assédio dos traficantes está a falta de oportunidades de emprego, educação e de condições mínimas para se viver dignamente. Muitas famílias fogem para livrar seus filhos da criminalidade; outras para salvar a vida dos que estão em dívida. Geralmente, denunciar não é uma opção viável, já que muitas execuções acontecem logo após as denúncias.
Homens e mulheres sozinhos continuam sendo a maioria nas rotas migratórias, no entanto, o número de mulheres com crianças quintuplicou. Também vem crescendo a quantidade de garifunas (membros de um grupo étnico residente, sobretudo, em Honduras); é possível encontrar grupos de 50 a 100 pessoas de uma comunidade inteira na rota de migração. Mas são os grupos de jovens desacompanhados com idade entre 14 e 18 anos que mais chamam a atenção.
De acordo com o Centro de Investigação Pew, apenas de 1º de outubro de 2013 até 31 de maio de 2014, foram detidos pelas autoridades migratórias 50 mil adolescentes desacompanhados; 25% eram mexicanos, outros 25% guatemaltecos, 29% hondurenhos e 21% equatorianos. Após serem detidos, eles ficam em albergues de emergência do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos e, em seguida, são entregues a um membro da família nos Estados Unidos até que seu caso seja revisado. Quando a família não é encontrada ficam em albergues temporários.
O Movimento Migrante Mesoamericano vê com preocupação a situação desses adolescentes, visto que o presidente estadunidense, Barack Obama, já deixou claro que todos serão deportados, atitude que os devolverá a uma realidade de violência e ameaças de morte por parte de quadrilhas e grupos de narcotráfico.
Em conversas com Ruben Figueroa, jovens migrantes revelaram que as quadrilhas vigiam os portos de entrada para detectarem os deportados com quem devem fazer um "ajuste de contas" e a quem devem cobrar "o imposto de guerra" atrasado pelo tempo que passaram fora do país. Os adolescentes também disseram que alguns companheiros foram assassinados logo que foram deportados.
"Dada a situação de extrema violência pela qual milhares de famílias são objeto de deslocamentos forçados de seus locais de origem é da maior urgência que se apliquem os protocolos internacionais que definam a situação como uma crise da maior envergadura e se declare essa população em movimento como uma população de vítimas de violência extrema e, portanto, refugiados, objeto de proteção internacional", apela o Movimento Migrante Mesoamericano.