Foto: Imprensa Presidencial da Venezuela
A propaganda chavista tenta minimizar a derrota levantando considerações como as de que já haviam sofrido uma derrota similar em 2008 no referendo para mudar a Constituição de 1999 e de que a direita será enfrentada nas ruas se necessário. Na realidade, são contextos totalmente diferentes.
O que está por trás do colapso do chavismo e da ascensão da direita?
Hoje, o chavismo e o chamado “Socialismo do Século XXI” se esgotaram. Por quê? Porque a base desse “socialismo” está sustentada nos programas sociais, em grande medida assistencialistas, a partir da renda obtida dos altos preços das matérias primas nos mercados internacionais. Em nenhum momento o chavismo, Evo Morales ou Rafael Correa se propuseram expropriar o capital, romper com os “acordos” impostos pelo imperialismo ou demolir o Estado burguês para colocar em pé o poder da população armada, de cima a baixo. Muito pelo contrário, esses países continuaram sendo ótimos pagadores da dívida pública e mantiveram os acordos com o imperialismo no fundamental. As expropriações que o chavismo ou o Evo Morales fizeram, foram nacionalizações e bem pagas, tanto no comércio, na indústria e em relação à propriedade da terra. As empresas expropriadas nunca conseguiram ser colocadas em pé por causa da paralisia e do burocratismo do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e dos aparatos do Estado.
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Quando o preço do petróleo despencou, as finanças públicas colapsaram. Em pouco mais de um ano, o preço caiu de US$ 110 o barril para menos de US$ 40.
As políticas do chavismo se tornaram ainda mais erráticas e o desabastecimento se tornou em mais uma forma de especulação com o dólar. Obviamente, isso foi potencializado pelo grande capital, mas o grosso das engrenagens do colapso já estava colocado.
Não foi um golpe: houve acordo
Devido ao grau de radicalização das massas venezuelanas, o chavismo destina aos programas sociais mais de 40% do orçamento público. Essa situação é insustentável. Por esse motivo, desde o ano passado, o setor dominante do chavismo e a direita menos truculenta, encabeçada pelo governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, se aliaram para colocar um fim nos protestos de rua impulsionados pela extrema direita, encabeçada por Leopoldo López, do Partido Voluntad Popular, que acabou sendo preso.
A situação do chavismo é muito similar à que aconteceu no colapso do bloco soviético, nos anos 80. Lá, o movimento grevista que tomou conta da Polônia em 1980, por conta da crise econômica, deixou claro que não dava mais para continuar daquela maneira. A burocracia que governava esses países acabou fazendo um acordo com a direita e o imperialismo e conduziu à restauração do “capitalismo de mercado”, onde ela própria manteve os privilégios contra as massas.
Na Venezuela, não estourou nenhum movimento de massas, pelo menos ainda. Mas o descontentamento social é muito perceptível. Nas eleições legislativas, o chavismo perdeu até no Bairro 23 de Janeiro, em Caracas, o centro eleitoral de Hugo Chávez, onde o chavismo nunca havia perdido uma única eleição. O Bairro é também um dos centros antigolpistas mais importante, dos Coletivos e das milícias, com a população armada.
O chavismo aprovou, às vésperas das eleições, na Assembleia Nacional, o Orçamento de 2016, com 42% destinado aos programas sociais. Mas isso foi pura demagogia para conter o alto grau de radicalização das massas.
O chavismo precisa da direita para impor o ajuste contra as massas. A direita precisa do chavismo, ou pelo menos dos setores hegemônicos e burocráticos, para controlar as massas e impor o ajuste. Isso apesar das contradições que existem.
Na Venezuela, triunfou a política impulsionada pela Administração Obama para a América Latina, da mesma maneira que triunfou na Argentina, com Maurício Macri, e avança no Brasil encurralando o governo do PT e impondo o ajuste, mesmo que ainda não na medida desejada.
No próximo ano, acontecerão as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Até lá, a menos que haja uma mudança do cenário político, essa política deverá prevalecer.
O chavismo foi derrotado. No próximo período, ele deverá implodir. Sobre essa base, deverão surgir setores revolucionários que deverão levar em frente a luta pela revolução proletária. Já é possível identificar esses setores nos movimentos sociais.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.