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140515 foraRepública Dominicana - Prensa Latina - Para o historiador Hamlet Hermann, a violação da soberania de seu país por parte dos Estados Unidos em três ocasiões durante o século XX deixou profundas impressões na sociedade da República Dominicana.


Tal consideração é resultado de uma análise histórica apresentado sob sua autoria em uma oficina celebrada em dias recentes no Escritório de Assuntos Históricos do Conselho de Estado de Cuba, em motivo do 50 aniversário da invasão dos Estados Unidos contra essa nação.

Intitulada A meio século de uma luta heroica, a conferência de Hermann sustenta que esta última intervenção teve um elevado custo humano e político para cuja superação, segundo considera, seria necessário que decorresse pelo menos outra geração.

Para justificar seus critérios, em seu trabalho o autor repassa as causas, desenvolvimento e consequências do conflito que em 1965 apartou o povo dominicano do caminho empreendido para a democracia e o progresso, depois de mais de 30 anos de uma ditadura criminosa.

REVOLUÇÃO DE ABRIL

O temor de que as atrocidades do tirano Rafael Leónidas Trujillo condicionassem a ocorrência de outra revolução popular, como a cubana em 1959, motivou tentativas da Casa Branca para que seu outrora exemplar afilhado entregasse o poder.

Mas o fato de já não contar com as simpatias de seus protetores, unido a seu estado de saúde, não foram motivos suficientes para que Trujillo se retirasse.

Esta renúncia, explica Hermann em sua análise, selaria seu destino imediato. Vários planos já estavam em marcha em Santo Domingo para que o desaparecimento do tirano estabelecesse as bases para outra forma de governo.

No entanto, sua eliminação física a 30 de maio de 1961 não significou o fim do despotismo na República Dominicana.

Fiéis seguidores das doutrinas trujillistas derrubaram a 25 de setembro de 1963 o presidente eleito democraticamente nas eleições de dezembro de 1962, Juan Bosch, e instauraram um triunvirato oligárquico que gozou da aprovação estadunidense.

O pretexto para o golpe militar foi que Bosch tinha inclinações comunistas. Mas uma vez apartado este do poder, o governo de facto desmantelou o Congresso Nacional e suprimiu as liberdades constitucionais, o que acentuou a repulsa popular aos fatos.

Posteriormente, o assassinato do líder do grupo político 14 de junho, Manolo Tavárez Justo, determinou a renúncia do presidente do triunvirato, Emilio dos Santos, que não queria se interpretasse que aprovava o crime.

Em seu lugar tomaria o comando Donald Reid Cabral, apelidado "o americano" por seus vínculos estreitos com a embaixada dos Estados Unidos.

A passagem de poder foi insuficiente para que os golpistas tivessem um ápice de aprovação popular, explica o historiador.

Marcados pela ambição e corrupção, cada dia que passavam no poder deixavam entrever o cisma que produziam nos comandos das Forças Armadas e da Polícia Nacional da República Dominicana.

Contrário a eles, oficiais respeitosos à constituição, incapazes de impedir o golpe militar em seu momento, se organizaram sob a direção do tenente coronel Rafael Fernández no chamado grupo Herniquillo.

A 24 de abril de 1965, o grupo de Fernández levantou-se em armas e tomou o Palácio Nacional. O cisma militar converteu-se em crise política, com a participação ativa das forças populares.

INVASÃO ESTADUNIDENSE

Os rápidos acontecimentos depois do levantamento favoreceram o grupo constitucionalista e pressagiavam que a vontade popular poderia ser imposta ao domínio golpista.

No entanto, logo um novo fator entraria no terreno de operações e condicionaria o desenlace e perda do que pudesse ter sido a segunda revolução autêntica da América Latina.

Com o pretexto de salvar as vidas de cidadãos estadunidenses residentes no país e responder a uma petição do governo dominicano, Lyndon B. Johnson autorizou o desembarque de 1.700 marines para que interviessem no conflito.

Segundo detalha a análise, a petição existiu, só que não contava com a legitimidade requerida para ser considerada proveniente do governo da República Dominicana.

Com o desembarque a 28 de abril, a guerra entre facções cívico-militares transformou-se em uma guerra contra o invasor estrangeiro.

"Pela terceira vez no século, 20 tropas norte-americanas desembarcavam em território dominicano com missões agressivas e contra a vontade das autoridades legitimamente constituídas".

Em cerca de duas semanas, as tropas estadunidenses chegaram até 42.413 militares entre paraquedistas, "marines" e membros da força aérea.

A invasão teve uma grande rejeição na arena internacional. Para contrapô-la, Washington tentou evitar que o Conselho de Segurança da ONU assumisse a discussão do problema e a levou ao âmbito da Organização de Estados Americanos (OEA).

Ali pôde manobrar melhor e especificar a Força Interamericana de Paz, a qual o historiador dominicano qualifica como "um engendro que maquiaria a presença de dezenas de milhares de tropas norte-americanas para que pudesse seguir servindo aos fins da guerra fria".

Apesar de todas as manobras estadunidenses e seus protegidos golpistas, e a óbvia desproporção numérica, o grupo constitucionalista se manteve sobre as armas heroicamente, sob a direção de homens da talha do coronel Francisco Caamaño Deñó.

Por sua capacidade de liderança e papel ativo no confronto contra os golpistas, Caamaño tinha sido nomeado presidente provisório da República a 27 de abril.

No final do conflito, e como exigência nas negociações de paz, teve que ceder a presidência provisória a 3 de setembro de 1965 a Héctor García Godoy, quem governaria até a celebração das eleições um ano depois.

Nas ditas eleições, ainda em condições de ocupação militar, foi eleito o candidato dos invasores, Joaquín Balaguer, acima de Juan Bosch, que se tinha recusado a fazer campanha política pelo risco que supunha para sua integridade.

"Era ingênuo pensar que se os estadunidenses tinham invadido militarmente o país para evitar que Bosch voltasse a aceder à Presidência da República, permitiriam que este ganhasse as eleições", propõe Hermann em sua análise.

"A fraude foi colossal. Antes, durante e após as eleições presidenciais", acrescenta.

SEQUELAS PERMANENTES

A ocupação militar anterior dos Estados Unidos à República Dominicana (1916-1924) legou a essa nação caribenha a tirania de Trujillo, que se estendeu por 31 anos.

Por sua vez, a de abril de 1965 deixou ao país sob o governo de Joaquín Balaguer, instância qualificada por Hermann como um despotismo ilustrado cuja essência ainda se mantém apesar da melhoria das liberdades públicas.

Ambos personagens levaram a sociedade dominicana a níveis de degeneração que serão difíceis de apagar, assegura o historiador.

As feridas infligidas a seu país em 1965 ainda não foram definitivamente sanadas. A quantidade de pessoas que foram mortas ou feridas nesse conflito se calculam entre seis mil e sete mil.

Esse episódio histórico é qualificado por Hermann, ao lado de outros historiadores, como síntese e conclusão de um prolongado processo nacional, além de ponto de partida da sociedade contemporânea.

Vista sua importância para a República Dominicana, a invasão constituiu a nível regional uma mostra do temor dos interesses oligárquicos a que o exemplo da autodeterminação econômica e política de Cuba tomasse corpo no resto do continente.

Exemplificou ainda o quanto seriam capazes de fazer esses interesses, em plena guerra fria, contra todos aqueles que tentassem procurar um caminho similar para seu povo.


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