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290315 euaAmérica Latina - Prensa Latina - [Stella Calloni] No século XXI a América Latina encontra-se na disjuntiva de escolher entre aceitar um novo projeto de recolonização ou alcançar sua independência definitiva.


Ante os avanços continentais com governos que desafiam, em maior ou menor grau, os desígnios imperiais, a situação em nossas dramáticas relações com os Estados Unidos nos coloca em um período similar ao que ocorreu no final da guerra e na derrota dos Estados Unidos no Vietnã.

A atual ofensiva, com ameaças de intervenção direta por parte dos Estados Unidos na Venezuela, onde mantém um golpismo contínuo praticamente desde 2002, intensificado nos últimos dois anos ante a morte de Hugo Chávez Frías (em março de 2013), o grande construtor da unidade latino-americana, ao que se acrescenta um novo esquema contra-insurgente de manter outros processos golpistas duros na Argentina e no Brasil para fragilizar a solidariedade, nos coloca diante de uma ameaça muitas vezes anunciada.

O ocorrido no Afeganistão, Iraque e Líbia, onde apesar do genocídio cometido a resistência não cessa, e a atual intervenção na Síria e na Ucrânia dá conta de que Washington se voltará mais rapidamente sobre o que considera seu quintal (América Latina), como está previsto nos desenhos de seus documentos de Segurança Hemisférica. Mas nada será o mesmo. Sua própria e monumental crise está advertindo-os. Ainda que consolide cada vez mais sua presença militar no Caribe, assegurando outra vez o Canal do Panamá e a passagem do Oceano Atlântico ao Pacífico, cercando a Venezuela com bases militares distribuídas em diferentes países, reativando a IV Frota, apoiando a ilegal presença colonial e militar britânica nas argentinas Ilhas Malvinas, estendendo os alcances e trabalhos da Organização do Tratado do Atlântico Norte, no marco de uma das maiores crises que o sistema capitalista tem vivido, enfrenta a consolidação de governos populares e democráticos na América Latina, como nunca antes havia sucedido.

Suas advertências são evidentes, como o golpe de Estado em Honduras em junho de 2009, país com bases militares estadunidenses, o virtual apoderamento do território haitiano com o envio de barcos, tropas e equipamentos ao Haiti, após o trágico terremoto que sacudiu esse país, deixando 200 mil mortos. Isto demonstra sua ansiedade por reocupar o que considera seu "quintal".

A UNASUL moveu-se rapidamente quando foi produzido o golpe contra o presidente Manuel Zelaya Rosales em Honduras, país onde os Estados Unidos mantém bases militares. O golpe de Honduras é um ensaio de Guerra de Baixa Intensidade aplicando a contra-insurgência nas ações dentro da política interna, que esteve sob controle do ex-embaixador estadunidense John Negroponte, nesse momento representante dos Estados Unidos ante a ONU, que em junho de 2008 já estava trabalhando com o novo método: ganhar a maioria do Congresso, incluindo os deputados oficialistas, por meio de corrupção ou pressão. Conseguir que estes elegessem a Corte Suprema que digitou Negroponte. E, com ambos elementos jogando a seu favor, dar o golpe militar rapidamente sequestrando o presidente, levando-o a uma base militar dos Estados Unidos, para evitar qualquer "problema" e dali retirá-lo ilegalmente do país para a Costa Rica.

Este esquema ficou incorporado para ser aplicado em qualquer país, já que muitos governos deixaram-se "confundir" com o fato de que o Congresso e a Corte apoiassem o golpe. Uma "democracia" contra-insurgente e de Baixa Intensidade quase perfeita, se não fosse pelos crimes cometidos pelos ditadores de plantão e que seguem ocorrendo até hoje.

No decorrer do século dirigiu também o golpe de Estado na Venezuela, com o sequestro do presidente Hugo Chávez em abril de 2002, que foi enfrentado por uma das ações populares mais originais, atuando junto a setores militares, que derrotou o golpismo em horas e repôs em seu cargo o presidente.

Além disso, Washington interveio no desenvolvimento e implementação do golpe civil-provincial - com setores militares de velho cunho - que se tentou contra o presidente da Bolívia, Evo Morales, em setembro de 2008, e que foi derrotado pela imediata ação do povo e da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) em uma demonstração avançada de integração, que deixou nas sombras a ineficaz e submissa Organização de Estados Americanos (OEA), a qual foi nomeada pouco tempo após sua criação em 1948, como um verdadeiro "ministério de Colônias".

Porém, já em 2010, não puderam concretizar o golpe contra o presidente Rafael Correa no Equador, onde a decisão com que o presidente enfrentou a situação e a ação da UNASUL, em uma mobilização imediata, derrotou a tentativa de usar como uma "sublevação policial" o golpismo, cujas redes repetiam esquemas do passado.

Em março de 2008 algo aconteceu na Argentina, quando começou uma greve patronal - que durou de março até julho - protagonizado por quatro organizações patronais do campo, a principal delas participante em todos os golpes de Estado aqui, que rapidamente tomou um rumo golpista, inclusive tentando desabastecer as cidades e apoiadas por ex-militares das passadas ditaduras.

O início da manobra "destituinte" ou golpista coincidiu com a reunião da extrema-direita mundial na cidade de Rosario, a segunda mais importante do país, na província de Santa Fé, convocada pela Fundação Liberdade, uma das tantas ramificações de entidades como a National Endowment Foundation, NED (conhecida aqui como Fundação para a democracia), de longa história ingerencista, a Agência Internacional para o Desenvolvimento (USAID) e outras dependentes da Heritagge, autora dos documentos de Santa Fé, entre outras.

O golpe policial, judicial e parlamentar foi aplicado no Paraguai em junho de 2012, onde o presidente Fernando Lugo foi destituído em 24 horas pela velha Corte Suprema do ditador Alfredo Stroessner e o parlamento majoritariamente controlado pelo ex-partido ditatorial (Colorado). Ali também chegaram os chanceleres da UNASUL, mas como em Honduras, a debilidade da OEA e a presença de tropas e estabelecimentos militares dos Estados Unidos fortaleceram os golpistas.

Estes últimos anos estiveram marcados pelas denúncias públicas sobre a presença ativa deste emaranhado de fundações e Organizações Não Governamentais (ONGs), mascaradas em partidos políticos aparentemente democráticos e com nomes inovadores, e também sobre a contínua militarização por parte dos Estados Unidos, mantendo e instalando novas bases em pontos estratégicos da região, como é o caso da Colômbia, dispersando o Comando Sul, cuja chefia foi transferida para Fort Benning, Flórida.

Esta dispersão foi criada nos anos 90 quando se reciclou a antiga Guerra de Baixa Intensidade (GBI), esquema de contra-insurgência aplicado desde os anos 60 contra nossos países. Havia-se estabelecido um novo treinamento de tropas para atuarem como Forças de Mobilização Rápida e portanto necessitavam de estabelecimentos militares dispersos, com facilidade de movimentos em territórios próximos, no marco do projeto de controle e domínio de uma região rica em recursos estratégicos e reservas naturais e humanas.

Um panorama sobre a situação da América Latina nos últimos tempos permite ver que o silêncio sobre alguns fatos chaves possibilita a distorção informativa até limites espantosos, o que beneficia substancialmente os planos de ditadura mundial e sua rede midiática.

Comparando o que está ocorrendo na América Latina ante a crise econômico-financeira que se expande pela Europa, adverte-se que a região suporta este momento crítico em melhores condições, mas poucos vasculham a fundo para pôr nomes a este feito.

É justamente por ter resolvido fazer tudo ao contrário do que foi receitado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nos anos 90 que os países latino-americanos estão melhor posicionados enfrentando com força a crise, entre outros fatos, entre os quais não pode estar ausente o reconhecimento ao que foi a sucessão de rebeliões populares - as quais escassamente menciona-se hoje - contra a ditadura neoliberal imposta sem anestesia.

Há outro tema que é ignorado sistematicamente. E é resultado do retorno ao Estado - o pior pesadelo que os Estados Unidos imaginou e sobre o qual havia advertido copiosamente em seus documentos, como os de Santa Fé 1,2,3,4 - e a possibilidade de demonstrar neste momento crucial como foi importante a decisão de vários dos novos governos em se desfazer da visão única e colonialista da escravidão ao mercado como síntese do capitalismo sem fronteiras nem controle.

Este retorno também possibilitou concretizar após muitas tentativas, esforços e naufrágios, um processo de integração de raízes reais e não fictícias.

Se algo foi silenciado apesar do muito que foi dito nos últimos tempos, é o fato de que se América Latina avançou em seu processo integrador foi pela visão bolivariana de recuperar os antigos projetos de unidade regional, em que a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez foi fundamental, já que ao recuperar para o país o controle de seus recursos petroleiros, pôde desenvolver um projeto de intercâmbios impensados, que serviram como uma tábua de salvação para vários países à beira do naufrágio e em diferentes circunstâncias.

Crise energética à vista como as que se perfilavam na Argentina nos anos 2005-2006, ou o plano histórico de resgate aos países mais pobres e frágeis, que puderam acessar a fonte petroleira sem ter que contrair nova dívida e sem ter que caminhar de joelhos para os organismos internacionais, chama-se FMI ou Banco Mundial, foram fatos inéditos e raramente comentados.

Pouco se tem explicado aos povos sobre este fato histórico. Jamais na história regional se havia chegado a tal grau de cooperação, enfrentando à "inevitável" dependência de outros tempos.

A ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), um processo integrador pouco comum, a UNASUL, uma derivação não imaginada há pouco mais de uma década de uma série de projetos naufragados, ou a mais recente criação como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), que data dos anos 90, as modificações e mudanças nos organismos já existentes a nível regional, como o Grupo do Rio, e a série de ações que marcam um antes e um depois, até chegar a se propor uma nova Organização mas de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Tudo tem se passado no marco de uma dinâmica que não dá tempo para a reflexão.

Mas é necessária a hora de saber por que os Estados Unidos "necessita" destruir estes processos renovadores.

O confronto é duro, mas agora não há mais remédio que reconhecer que esta América que está construindo outro esquema econômico financeiro, a sua maneira, com sua própria aprendizagem, um verdadeiro processo emancipatório, tem outras formas para resistir aos embates de tentar recolonizar a região, como enfrentou a crise dos últimos tempos.

As lembranças do passado, das ditaduras de todo tipo instaladas pelos Estados Unidos, que custaram um genocídio à região no século XX, são ainda lacerantes e sobre esse passado se começou a construir um novo mundo e as maiorias têm expressado sua vontade de não voltar atrás. Nunca Mais.


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