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220511_altamiroPortugal - Diário Liberdade - [José Borralho para o Diário Liberdade] Entrevista a Altamiro Dias, operário e activista sindical na Comissão de Trabalhadores da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, em Lisboa.


"Depois de ter chegado ao seu ponto mais baixo, a revolução vai ser obrigada a retomar a marcha ascencional, porque a acumulação de forças explosivas, de contradições insolúveis não parou de se multiplicar neste período de pausa."

Francisco Martins Rodrigues,- in Anti-Dimitrov -meio século de derrotas da revolução. Edições Dinossauro.

José Borralho- Camarada Altamiro Dias: és um operário de uma grande empresa e pertences à sua Comissão de Trabalhadores. Como vês tu e os teus companheiros de trabalho, a actual situação política e laboral?

Altamiro Dias- Respondendo à tua pergunta muito directamente: os meus companheiros de trabalho não diferem, certamente, do conjunto da classe a nível do país; encaram a situação com muita apreensão, estão revoltados com Sócrates e com toda a direita, protestam em surdina contra as medidas de austeridade, os cortes e o congelamento salariais e de carreiras, estão com medo da devastação laboral que as medidas do FMI-BCE e UE trarão às suas vidas.

Participam nas lutas, mas só um pequeno grupo, de uns cinquenta, está mais radicalizado e disposto a acções mais ousadas. De resto sofrem, como todos os outros, a atrofia que lhes tem sido imposta por um movimento sindical situacionista e colaborador com o capital, agravado pelas ilusões na democracia burguesa que lhes deu a sensação de que o consumismo era a sociedade ideal.

Pessoalmente penso, que, a situação política e social que se vive no nosso país, com um horizonte de desemprego, de recessão, de cortes nos direitos sociais e de empobrecimento geral dos trabalhadores, pode desembocar numa revolta geral cujo drama maior para os trabalhadores e o Povo é a ausência de um partido revolucionário e comunista que assuma a direcção dessa revolta popular.

Conjugaram-se três factores que influênciaram o fluir dos acotecimentos: 1º-O desenvolvimento do capitalismo no nosso país sempre sofreu de uma grande anemia, -a resposta do Salazarismo foi concentrar a riqueza nas mãos de alguns monopólios e latifúndios que, com a miopia colonial, desembocou no 25 de Abril.

JB- A adesão ao Mercado Comum CEE, mais tarde União Europeia, provocou num país sem solidez económica, uma corrida aos fundos comunitários e a apostar no turismo, nas grandes obras públicas nalgumas indústrias exportadoras e na consequente liquidação do aparelho produtivo existente, também o abandono da agricultura e das pescas. Esta UE, está quase em dobre de finados.

Altamiro Dias- A crise mundial do capitalismo- crise de sobre produção e de baixa tendencial da taxa de lucro- transferiu para o sector financeiro a busca de lucros a qualquer preço, que rebentou nos EUA e contaminou toda a finança internacional pondo a nu as contradições e fraquezas do capitalismo. Isto, quanto a mim, são as causas profundas da crise.

Por todo o lado a corrupção, o enriquecimento de minorias, a destruição ambiental, a miséria para os velhos, a precariedade para os novos, o desemprego, a ostentação da riqueza choca com um mundo em crise. Perante este quadro que revela a decadência do sistema, ainda se atrevem a querer fazer o Povo pagar a dívida que eles contraíram para viverem no regabofe da fortuna.

220511_altamiro2JB- Parece-me que menorizas o papel dos Partidos do capital e do sistema, em particular o PS, no agravamento da situação em Portugal. Queres clarificar?

Alamiro Dias- Sim quero, e começo pelo PS. O papel do PS foi sempre, e continua a ser a do «batedor» da direita sempre camuflado como partido de esquerda não totalitária e defensor do estado social. Todas as suas alianças e todas as suas políticas têm a marca do capital. A destruição da reforma agrária, a entrega ao capital privado de empresas rentáveis nacionalizadas, a liberalização das leis laborais, as parcerias público-privadas, o ataque sistemático ao funcionalismo público, a redução dos serviços médicos e a inclusão de taxas no SNS, a redução e corte de direitos sociais, o facilitar dos despedimentos, etc, tudo políticas de direita, liberais. É claro que num país em que as desigualdades são brutais, as medidas de tipo caridadezinha, como o rendimento mínimo garantido, subsídios para os bebés e outros do género levam os incautos ao engano, e por isso o PS ainda mantém uma base popular de apoio, apesar dos escândalos de corrupção, de favorecimento, e de compadrio. Mas, sem dúvida de que, o PS é um partido com uma política de direita, e o principal agente do capital no seio do Povo.

Quanto ao PSD, e ao CDS partidos da direita sem complexos, e que ficaram muito tempo sem programa porque o PS foi aplicando os seus, assumem agora uma acentuada viragem à direita (mais assumida pelo PSD), que acusa a governação «socialista» de incompetente. Era obvio que isto ia acontecer. Rasgarem o que resta de progressista na Constituição, privatizarem tudo, até a água, aplicarem medidas de grande austeridade, é o programa reaccionário da direita.

Quando no poder, estes partidos, com destaque para o maior partido da direita o PSD, o Cavaquismo acentuou a destruição do aparelho produtivo, lançou obras faraónicas, nadou em fundos comunitários. Os correligionários, regra geral, nadaram em corrupção de que o caso BPN foi a ponta do icebergue. Autarcas corruptos, e o grande premiado foi Durão Barroso com a Presidência da União Europeia depois de ter sido o anfitrião dos decisores da guerra criminosa contra o Iraque. O PSD é um canalha á espera de vez para lixar o povo.

O CDS, que quer viver à sombra do populismo, quando participante no governo, meteu-se nas negociatas dos submarinos e na destruição da floresta para benfício de grandes imobiliárias. Este partido é outro inimigo figadal do povo.

Penso que deixei claro o que penso dos partidos do capital. Todos eles «confundem» estado assistêncial com estado social.

JB- Quanto aos partidos da esquerda, pensas que estão à altura das tarefas da luta actual contra o capitalismo?

Altamiro Dias: Quanto a mim, esse é o maior problema que o movimento operário, os trabalhadores, e os homens e mulheres de esquerda têm para resolver, porque, tanto a esquerda, quanto o movimento operário, não sabem o que é a luta anti-capitalista e pela revolução socialista. Existe sim, um passado de luta antifascista e um presente de luta democrática e parlamentar, mas todas as propostas desses partidos- PCP e BE- vão no sentido de melhorar o sistema, e não de o destruir: podemos dizer que não existe luta anticapitalista em Portugal, mas sim luta por reformas.

É o que significam os programas desses partidos, que acentuam a necessidade de crescimento económico e do pagamento da dívida, (para não sermos caloteiros), a ilusão de apresentar um governo de esquerda com uma maioria de esquerda, a sair pela via eleitoral, o apelo a que haja justiça na economia etc. São programas que servem um certo capitalismo «progressista» mas representam a total ausência de perspectiva de ruptura com o sistema, e o abdicar da luta pelo socialismo. Não tem futuro esta perspectiva dócil da luta de classes.

Existem algumas pequeníssimas franjas que colocam na propaganda a questão do socialismo, mas não se atrevem a fazer política, a entrar na luta de classes-ficam à espreita do que se vai passando. Tudo isto é dramático porque é contraditório com a profunda crise do capitalismo que está prenhe de revolução. Não pudemos ficar à espreita da luta de classes: temos de participar nela, e lutar pelo programa dos explorados.

Quanto a mim, penso que a questão fundamental para os operários, para os trabalhadores avançados, para a esquerda é esta:

Não queremos pagar a crise que nos tornou mais pobres, são os ricos, os endinheirados, as minorias que beneficiaram de mordomias, e que vivem à tripa forra, que devem pagar a crise e a dívida. Vão buscar o dinheiro a quem o tem! Apoiaremos todas as propostas que vão neste sentido, venham donde vierem.

Não aceitamos que nos imponham cortes e congelamentos salariais, regeitamos todas as medidas de austeridade. Quem viveu acima das possibilidades do país não foram os trabalhadores-foram as classes burguesas.

Estender os cortes e aumento de taxas ao sector privado, e não apenas aos funcionários públicos. Cortar acima de quem ganhe três mil euros.

Na ausência de um Partido proletário, e na impossibilidade de participação desta perspectiva nas eleições, considero que os trabalhadores devem votar contra a direita, votar em quem, mesmo de forma tímida, se opõe aos planos miseráveis da direita e dos agiotas financeiros da troika: nos partidos de ideologia pequeno burguesa.

Nenhuma ilusão em pretensos governos de esquerda que não passa de propaganda enganosa pequeno-burguesa.

É hora de radicalizar as lutas, de fazer frente à repressão, de combater as ilusões democratico-burguesas.

É mais do que tempo para que uma corrente política liberta do lixo do passado revisionista se agrupe: em nome do socialismo e do comunismo.


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