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Ilka Oliva Corado

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Crónicas de uma inquilina

Violência de gênero: O sangue de Cristo!

Ilka Oliva Corado - Publicado: Domingo, 05 Abril 2015 10:29

A violência de género continua a ser um tema escabroso para muitos “cristãos”, que enquanto se batem no peito, culpam as vítimas pelo proceder dos carrascos.


Ai, o sangue de Cristo tem poder! É umha das frases com que se persignam e clamam ao Senhor – dos anéis – dos céus, seguido de: a saber em que andava metida por isso lhe aconteceu o que lhe aconteceu. Por isso terminou assim. Já se podia prever, era umha puta. A umha mulher decente nom lhe acontecem essas cousas. A culpável sempre é a vítima quando se trata de violência de género.

Aí estám os bandos de ‘sotanudos’ [padres] que quando umha vítima chega e confessa que a violarom eles recomendam rezar e perdoar o abusador, mas que nom denuncie diante das autoridades terrenais porque será Deus quem se encarregue dele pagar. Ah.

Eles próprios recomendam nom dizer nada a ninguém, porque está em jogo o prestígio da vítima. Que o guarde e que peça a Deus resignaçom. “Mas filha, - porque se acham ‘papás’ os desventurados – em certa maneira tu pediste por te vestires assim, provocaste-o.” E tantas razons que dão para fazer acreditar à vítima que nom é tão culpável o abusador.

E se é o parceiro que agride física e emocionalmente aconselham que o perdoe porque “ele é pai dos seus filhos” e que há outras vidas no meio, que ele vai mudar com o tempo, que tenha paciência. Que lhe rogue muito a Deus porque ele fai milagres e não quer ver lares destruídos. Entretanto ao abusador aconselha que é bom ter mão dura como cabeça-de-casal mas que a modere. – Cabeça-de-casal? E aí morreu a flor. A outro assunto.

O mesmo proceder em rabinos e pastores.

Isso quanto aos elevados que por teólogos se acham puros e castos. Mas no tema da dupla moral religiosa, dos preconceitos e estereótipos que pululam no nosso dia-a-dia, o patriarcado e o machismo som fundamentais. Todo isto untado com o azeite dos santos óleos e água bendita permite que solapemos a violência de género em nome do Senhor.

Guardamos silêncio, nom nos envolvemos porque “que se lixem, esse é problema de casal”. Nom deve existir consideraçom algumha quando de violência de género se trata. Devemos envolver-nos. Isso de orar para que se resolvam as cousas é puro descuido. Nom podemos deixar de buscar o que é justo por medo aos problemas que isto nos vaia trazer.

O justo é a equidade e o respeito. O justo é que o abusador pague. O justo é evitar tragédias. Para isso temos que deixar de ser passivos e apáticos. Para isso temos que deixar de nos dar três golpes no peito, deixar de implorar-lhe aos três cravos da cruz e aos santos e virgens, para isso temos que atuar. Acudir à justiça terrenal.

Não podemos ter o descaro de chamar-nos pró-vida e ser contra o aborto, quando vemos que há tantas meninas estupradas e que como consequência estão grávidas. Isso é desumano.

É desumano e de dupla moral saber que embaixo das nossas narizes um homem está a agredir física e emocionalmente a sua parceira e nós não fazemos nada para evitá-lo. Seja o nosso familiar ou não. O nosso dever humano é denuncia-lo. O nosso dever humano não é orar, acender velas, guardar silêncio, nom é dizer em confissão ao sacerdote ou dizer ao pastor ou ao rabino, esperando que sejam eles como “iluminados” a arrumarem as coisas.

Com o tema da violência de género e de inequidade, é a nossa obriga envolver-nos. Tudo que é injusto, o que ensuja, o que tiver a ver com abuso é a nossa obriga denunciá-lo. Combatamos a violência de género atuando. Isso de que “em boca fechada nom entra mosca” é sermão de cómodos e indiferentes. É ladainha de ditadura militar.

Se tam crentes somos, então oremos e à vez ajamos. Invocar o “Glorioso” em assuntos de violência de género é patético. Combatamos os feminicídios, os abusos sexuais, a gravidez como consequência. Se tem que ir a prisão um familiar, então ele vai, não podemos solapar porque exista um laço sanguíneo no meio. Isso é imoral. A violência de género denuncia-se no Ministério Público ou em uma esquadra policial, não na confissão com sacerdotes, pastores ou rabinos.

Nestes tempos da quaresma em que a maioria anda com ares de santidade, é bom determo-nos para pensar no que estamos ou nom estamos a fazer para combater a violência de género. Deixemos os três cravos da cruz em paz, e também os poderes do sangue de Cristo. Há que focar-se no importante. Nós com a justiça terrenal. O assunto dos céus não é da nossa jurisdição, deixemos de andar buscando desculpas – para nos safar – para não nos envolver. Isso de que caladinhos estamos mais bonitos vergonha nos deveria dar dizê-lo.

Nota: este artigo pertence à trilogia de Páscoa em que também estám “De devotos e moralistas hipócritas” e “A homofobia em nome do Senhor”.

Abril 01 de 2015.

Estados Unidos.


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