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Immanuel Wallerstein

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Tem futuro a social-democracia?

Immanuel Wallerstein - Publicado: Segunda, 11 Outubro 2010 02:00

Immanuel Wallerstein

No mês passado, dois importantes acontecimentos marcaram o mundo dos partidos social-democratas. A 19 de setembro, o partido sueco perdeu duramente as eleições. Recebeu 30.9% do voto, seu pior desempenho desde 1914.


Desde 1932, governou o país 80% do tempo, e esta é a primeira vez que um partido de centro-direita ganha a reeleição. E para complicar o mal desempenho, um partido anti-imigrantes, de extrema-direita, entrou no Parlamento sueco pela primeira vez.

Por que é isto tão dramático? Em 1936, Marquis Childs escreveu um livro famoso, intitulado Sweden: The Middle Way. Childs apresentava a Suécia sob o regime social-democrata como uma virtuosa via intermédia entre dois extremos representados pelos Estados Unidos e a União Soviética. A Suécia era um país que efetivamente combinava a redistribuição igualitária com a política interna democrática. A Suécia foi, pelo menos desde os anos 30, o modelo mundial da social-democracia, sua verdadeira história de sucesso. E assim parecia se manter até faz pouco. Já não é o modelo mundial.

Entretanto, a 25 de setembro na Grã-Bretanha Ed Miliband veio desde atrás para ganhar a liderança do Partido Laborista. Com Tony Blair, o Partido Laborista tinha se envolvido na remodelação radical do partido com o lema de "the New Labour" [o novo partido laborista]. Blair tinha argumentado que o partido também devia ser uma via intermédia -não uma entre capitalismo e comunismo, mas entre o que costumava ser o programa social-democrata de nacionalização dos setores chave da economia e a dominação sem rédea do mercado. Esta era uma via intermédia bastante diferente daquela da Suécia nos anos 30 e depois.

Que o Partido Laborista elegesse a Ed Miliband acima de seu irmão maior David Miliband, um sócio chave de Tony Blair, se interpretou na Grã-Bretanha e outras partes como um rejeitamento a Blair e uma volta a um Partido Laborista mais social-democrata (mais sueco?). Não obstante, poucos dias mais tarde, em seu primeiro discurso na conferência laborista, Ed Miliban reafirmou uma posição centrista. E apesar de que ligou as suas asseverações com alusões à importância do equitativo e a solidariedade, disse: Devemos desfolhar nosso velho pensamento e erguer-nos por quem acha que há algo mais na vida do que aquilo que é rendível.

O que nos dizem estas duas eleições sobre o futuro da social-democracia? Convencionalmente (e o mais provável é que corretamente) a social-democracia -como movimento e como ideologia- é vinculada com o revisionismo de Eduard Bernstein, na Alemanha de finais do século XIX. Bernstein argumentava em essência que, uma vez obtido o sufrágio universal (que para ele era o voto masculino), os operários podiam usar as eleições para ganhar cargos para seu partido, o Social-democrata (SPD), até conseguirem o governo. Uma vez que ganhassem poder parlamentar, o SPD poderia então promulgar o socialismo. E como tal, concluía, falar de insurreição como via ao poder era desnecessário e de fato uma tolice.

O que Bernstein definia como socialismo era pouco claro em muitos aspectos, mas não obstante no momento parecia incluir a nacionalização dos setores chave da economia. Desde então, a história da social-democracia como movimento foi uma história de afastamentos lentos mas contínuos da política radical para uma orientação mais centrista.

Durante a Primeira Guerra Mundial, os partidos repudiaram seu internacionalismo teórico ao alinharem apoiando seus governos em 1914. Depois da Segunda Guerra Mundial, os partidos aliaram-se com os Estados Unidos na guerra fria contra a União Soviética. E em 1959, em sua conferência em Bad Godesburg, o SPD alemão rejeitou o marxismo por completo e oficialmente. E declarou que tendo começado como um partido de classe operária, o Partido Social-Democrata se tinha convertido num partido do povo.

Nesse então, o que o SPD alemão e outros partidos social-democratas chegaram a reivindicar foi o compromisso social conhecido como Estado de bem-estar. A social-democracia teve bastante sucesso neste objetivo no período da grande expansão da economia-mundo nos anos 50 e 60. E nesse tempo manteve-se como movimento no senso de que estes partidos impulsionavam o apoio ativo e a lealdade de muitas pessoas em seu país.

No entanto, quando a economia-mundo entrou em seu longo estagnamento a partir dos anos 70, os partidos social-democratas começaram a ir mais longe. Deixaram de lado a ênfase no Estado de bem-estar para voltar-se meros promotores de uma versão mais suave da primacia do mercado. A ideologia do novo partido, de Blair, não era senão isto. O partido sueco resistiu a viragem mais tempo que os outros, mas finalmente sucumbiu.

A consequência disto, no entanto, foi que a social-democracia deixou de ser um movimento que podia convocar a lealdade e o apoio de grandes número de pessoas. Tornou-se uma maquinaria eleitoral à qual faltava a paixão do passado.

Ainda que a social-democracia não seja já um movimento, continua sendo ainda uma preferência cultural. Os votantes seguem querendo os esmorecentes benefícios do Estado de bem-estar. Protestam regularmente quando perdem outro mais destes benefícios, o qual ocorre com alguma periodicidade agora.

Finalmente, há que dizer algo da entrada do partido anti-imigrantes de extrema-direita ao Parlamento sueco. Os social-democratas nunca foram muito fortes no relacionado com os direitos das minorias étnicas ou outras -muito menos a respeito dos direitos dos imigrantes. Os partidos social-democratas tenderam a ser partidos da maioria étnica da cada país, defendendo seu território contra outros trabalhadores, que viam como grupos que provocariam a redução de salários e empregos. A solidariedade e o internacionalismo eram palavras de ordem úteis quando não tinha concorrência à vista. A Suécia não enfrentou este assunto seriamente até faz pouco. E quando o fez, um segmento de votantes social-democratas simplesmente correu para a extrema-direita.

Tem futuro a social-democracia? Como preferência cultural, sim; como movimento, não.

Fonte: La Jornada.

Tradução: Diário Liberdade.


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