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Manel Márquez

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Em coluna

É tempo de paz e democracia, não há volta atrás

Manel Márquez - Publicado: Domingo, 03 Outubro 2010 02:00

Manel Márquez

É tempo de paz e democracia: os mediadores internacionais marcarão o caminho e a ETA e o governo espanhol deverão segui-lo: a paz vai chegar, não há volta atrás.


Faz já muitos anos que almejo a paz em Euskal Herria e logicamente em todas as nações que fazemos parte do Estado espanhol, pois todos sofremos neste conflito que tem mais de cinquenta anos de história.

Foram anos muito duros e alguns deles de muito sofrimento e os que nestes anos sofremos (pela violência de ambas partes) não queremos que isto continue já tivemos suficiente. Por isso este processo, que conta agora com a participação internacional e com uma ETA decidida a aceitar os passos e recomendações que os assinantes da declaração de Bruxelas, nós animamos a pedir a todos e todas confiança no futuro e que estejam à altura.

Por trás deste processo não estamos só os que sempre temos estado aqui, apostando numa paz justa e democrática e contra toda violência. Não estamos unicamente os que fomos acusados uma e outra vez por parte dos meios de in-comunicação da direita extrema e da outra, que é a mesma, de sermos uns ilusos, uns tontos úteis ou, o que é pior, de ser amigos dos violentos, dos terroristas. Que saberão estes da luta pela liberdade e a democracia no Estado espanhol, de violência e de repressão, que saberão de nada estes energúmenos, estes violentos enlouquecidos ante a chegada da paz, estes que falam da ditadura franquista como se de uma festa ao estilo "cuéntame" (série televisiva sobre a vida quotidiana na ditadura) se tratasse essa ditadura que acabou seus dias assassinando operários e abriu sua transição com mais do mesmo. De que nos falam os herdeiros, os testamenteiros desses franquistas que nos submeteram à longa noite de frio e nevoeiro que foi esse regime genocida e criminoso de Franco. Eles, que nestes dias se dão ao luxo de nos falarem do direito ao trabalho e a não se que coisa mais, quando eles nunca os respeitaram e ainda hoje em dia não os respeitam. Como se pode falar nos meios de comunicação de forma apologética e com toda a falta de vergonha de uma ditadura criminosa e inclusive fazer louvor da mesma? Na Alemanha qualquer atitude similar acaba nos tribunais e o que é mais importante com a rejeição da maioria de sua população. Estes que se definem como bons espanhóis dão-se ao o luxo de nos falarem de direitos, quando estivemos 40 anos sem nenhum, que cinismo, que desumanidade.

Pois estes, saibam cidadãos do mundo, são os que mais bradam contra o processo de paz e contra a saída negociada para este duro conflito. Mas não vão levar a melhor, uma vez mais o mundo vai lhes virar as costas e obrigá-los moralmente a se somarem ao processo, pois permanecerem à margem significará sofrerem o desprezo de todos. Na fria e úmida Irlanda, inclusive no verão, como pude comprovar neste ano, até o coração unionista mais duro que deu essa terra, Ian Paisley, depois de três mil mortos, acabou após muitos reproches e pouco a pouco se somando àquele processo e apertando a mão de Gerry Adams, o representante político do Sinn Fein e antigo militante do IRA.

O caminho está claro, o único que desconhecemos são os tempos. E não se trata de condenar a violência (e de dizer que todas as violências sejam iguais) e sim é de acabar com ela, pois em nada beneficia a luta pela democracia e o socialismo.

O PSOE parece não entender ou não querer o entender que este processo é irreversível e que todos os obstáculos que ponha aos agentes internacionais irão em seu prejuízo e como é lógico de supor em benefício da direita espanhola PP. Já que esta acabará como no caso irlandês aceitando a situação e aderindo ao processo, pois todos sabem que não há outro caminho.

Os agentes internacionais que assinaram a declaração de Bruxelas são personalidades de primeiro nível e ainda se somaram algumas mais. Entre eles, quatro prêmios Nobel da Paz: o ex presidente sul-africano Frederick de Klerk, o arcebispo de seu país Desmond Tutu, o ex premiê irlandês John Hume e a ativista norirlandesa Betty Williams. Políticos da talha dos ex premiês irlandeses John Hume, Mary Robinson e Albert Reynolds, bem como o chefe de gabinete de Tony Blair quando este era premiê britânico, Jonathan Powell, ou o ex secretário geral de Interpol, Raymond Kendall, além de nove acadêmicos especialistas em processos de paz, fundamentalmente de universidades estadunidenses.

Mas o apoio deste grupo de notáveis, aparece numa nova conjuntura política em Euskal Herria e é a que protagonizam a esquerda abertzale, Eusko Alkartasuna, Aralar e Alternatiba, Abertzale Batasuna, ou LAB, entre outros grupos sociais e organizações, que subscreveram, este fim-de-semana na localidade biscainha de Gernika, o documento 'Para um cenário de paz e soluções democráticas' um acordo no que lhe reclamam uma "declaração da ETA de um cessar-fogo permanente, unilateral e verificable pela comunidade internacional como expressão de vontade para um abandono definitivo de sua atividade armada". A ETA já disse que está disposta a aderir a "um cessar-fogo permanente e verificável" e "ir mais longe", uma vez se inicie o processo.

As fases do processo são evidentes para quem as quiser entender, claro:

Primeira: Os mediadores internacionais firmantes da Declaração de Bruxelas proporão a ETA (baseando-se na experiências anteriores, sobretudo a irlandesa e sul-africana) os passos que deve dar a organização para que a outra parte este disposta a aceitará o processo, a ETA aceitará os mesmos (evidentemente depois dos esclarecimentos e discussões correspondentes e lógicos).

Segunda: A ETA, seguindo os passos lembrados com os mediadores declarará uma trégua indefinida e permanente, verificável por forças independentes de total solvência e confiança do governo espanhol (talvez com o envolvimento da UE ou os EUA, como já aconteceu no caso irlandês) ou inclusive o fim definitivo da luta armada e um processo de desarmamento total, claro está, paralelo às negociações de caráter político que deverão se abrir com a esquerda abertzale e com todos os agentes políticos implicados na solução do conflito.

Terça: A solução democrática ao conflito basco isto é aceitação por parte de todos que a democracia plena deve ser a como forma de decidir o futuro de todas e a cada uma das nações que hoje compõem o Estado espanhol. E por último o mais duro, longo, difícil e complicado, a reconciliação entre todas as victimas do conflito, que é, precisamente o objetivo de todo o processo de paz e o que pode garantir uma paz definitiva e justa.

Nestes dias todo se acelera, joga-se com cartas perigosas, todos se movem na desconfiança e a alguns a vertigem do final próximo não lhes deixa pensar com clareza e seguem jogando ao curto prazo, quando esta partida vem de demasiado longe quer acabar já. Repressão e bloqueio é o caminho empreendido agora pelo governo espanhol, sabendo que essa não é a solução e tentando ganhar tempo para em frente a seus competidor políticos, que nada estão dispostos a ceder agora, que na queda do governo como uma coisa próxima, mas que saberão jogar suas cartas se assim o exigem os agentes internacionais.

Há que o dizer: se todos e todas as partes envolvidas diretamente não entenderam que o processo de paz e negociação é definitivo e irreversível é porque estão fora de jogo. O povo trabalhador e as pessoas das esquerdas democráticas pensamos que já não se pode espera mais que há que dar aquele passo truncado em Barajas. Saibam que alguns dos agentes hoje presentes, se não dão os passos adequados e que marca a experiência de outros processos, irão ver-se marginalizados deste por muito poder que hoje acumulem amanhã nenhum terão e novos agentes participarão para acabar o que eles não foram capazes de fazer, ficando marginalizados e fora do caminho da história.

Os que queremos a paz e do democracia no sentido mais profundo e não formal capitalista, achamos que este processo já não se pode prolongar mais. Já que esta situação só leva sofrimento ao povo trabalhador, coisa que evidentemente a alguns pouco lhes importa. Quanto mais se prolongar o conflito ou mais se bloquear e mais lenta for sua resolução mais dor para todos e todas e isso as pessoas de esquerdas, democratas e anticapitalistas não o podemos consentir. Por isso seguindo o caminho marcado pelos mediadores internacionais achamos que há que pedir a ETA um cesssar-fogo definitivo e ao governo espanhol o início de um processo de paz, evidentemente tudo com supervisão dos referidos mediadores.

Esperemos que isto seja assim para que todo acabe o dantes possível como na Irlanda ou na África do Sul, quer dizer, com uma paz justa e aceita por todas as partes.

PS: Depois de uma conversa com uma boa amiga, escrevo algo que para muitos de nós é óbvio, mas do qual talvez alguns ainda não sejam conscientes. Todos e todas temos claro que a ETA não vencerá jamais ao governo espanhol, como também somos conscientes que depois de 60 anos de conflito, este também não poderá acabar com o "problema basco" pela via policial. Assim, tal como disseram tanto o IRA como o governo Britânico, ao iniciar seu processo de paz, ante esta situação a única solução para ambas partes é sempre a negociação de uma paz justa para todos e todas, incluídas com certeza as vítimas de ambos bandos.


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