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Manel Márquez

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Em coluna

Confesso, volto a ser optimista: acho que a paz é possível para Euskal Herria e Espanha

Manel Márquez - Publicado: Sábado, 18 Setembro 2010 02:00

Manuel Márquez

Confesso que volto a ser otimista, acho que a paz justa e duradoura está hoje mais perto do que nunca para Euskal Herria e Espanha. Além do mais, pelos vistos não sou o único, pois o presidente do Partido Socialista de Euskadi (PSE-PSOE), Jesús Eguiguren, assegurou que o comunicado da ETA: "obedece à própria evolução do Batasuna, após os ensinamentos que tirou do processo anterior". [1]


O otimismo desta vez não só nasce da vontade, como aconteceu em outras ocasiões, mas também da razão. O último comunicado da ETA é diferente dos anteriores, pois, e nisto coincido com a análise que fazia nestes dias o jornalista Antoni Batista, chega depois de um ano sem ações armadas e com uma declaração unilateral de cessar-fogo que não fixa nenhuma condição e obvia qualquer referência a uma possível volta à violência como forma de resolução do conflito político que vive Euskal Herria. Mas voltamos a não ser os únicos a acreditar. Eguiguren disse em Onda Zero: "Esta trégua não tem data de caducidade. Portanto, na teoria, continuaríamos eternamente em trégua. O fato de não ter data de finalização é o melhor do comunicado".

Creio sinceramente que faz já muitos anos que a esquerda abertzale em seu conjunto assumiu que a única forma de solucionar o problema era a via política negociada, com ausência de toda violência como recolhe, uma vez mais, o último documento elaborado por esta organização política: "Zutik Euskla Herria". [2] Mas esta posição política tem já um longo percurso, que a meu entender começa de forma clara, com o Pacto de Estella (1998), contínua com a declaração de Anoeta (2004), a de Alsasu (2009) ou o debate de Batasuna na clandestinidade, "Clarificando a fase política e estratégica" (2009-2010) do que saiu a resolução: "Zutik Euskal Herria" (2010).

De fato, assumindo que podemos pecar quiçá de ingênuos, acho que a famosa "Alternativa democrática" de 1995 realizada pela ETA e que supôs o encarceramento de toda a mesa nacional do Batasuna era já um discurso de caráter marcadamente político. Mas o terreno da política precisa uns mínimos para poder desenvolver-se e como, qualquer observador pode deduzir, e mais um historiador, a concepção da mesma não é igual para todos os agentes comprometidos num conflito. E mais num tão longo, tão duro e tão triste como o que vivemos nestes últimos cinquenta anos no Estado espanhol.

Como dizia Mariano Ferrer, a esquerda abertzale em seu conjunto precisa uma pista de aterragem e isso é o que se deve construir para que a solução seja longa e duradoura e não utilizar outras vias que o único que geram é frustração e amargura por parte da população, e como podemos deduzir acirra ainda mais o conflito sem lhe dar uma solução final e irreversível.

A desconfiança das forças políticas espanholas evidentemente e tem sua justificativa, não faremos a cronologia dos últimos acontecimentos, nem culparemos destes falhanços só uma parte, mas é indubitável que as coisas não se fizeram bem. A política é a arte do possível e neste caso se requereria algo mais, era preciso fazer o que parece impossível, mas que em outros lugares se conseguiu (Irlanda ou África do Sul).

Mas o debate interno: "Clarificando a fase política e estratégica" realizado pela esquerda abertzale em suas assembléias territoriais entre o 2009 e o 2010 serviu para definir sua estratégia política que não é outra que a saída pacífica do conflito e uma aposta decidida pelo processo democrático, reiterando seu compromisso com o uso de vias e meios políticos e democráticos. Finalmente a resolução: "Zutik Euskal Herria!! ratificou-se numa assembléia com a representação de Arava, Bizkaia, Gipuzkoa e Nafarroa e com a participação de 600 independentistas em representação dos mais de 270 localidades em que se realizou o debate.

Um passo fundamental, que mostra que o processo é irreversível, é o envolvimento do conjunto da esquerda abertzale neste novo e definitivo caminho. Assim, a 17 de junho de 2010, foi assinado um acordo entre a Esquerda Abertzale e Eusko Alkartasuna as "Bases de um acordo estratégico entre forças políticas independentistas". [3] Em ato que contou com a presença de delegações internacionais e que reafirmou a via política e democrática para solucionar o conflito. [4]

O novo processo de paz contínua somando adesões e apoios a nível internacional por parte de mediadores como Brian Currin [5], ou o grupo Friendship que a instado à União Européia a que reconheça "o passo dado pela ETA" e a impulsionar um novo processo de paz [6]. Acho que para todos e todas fica claro que o envolvimento de personalidades nacionais e internacionais é imprescindível para dar confiança às partes, de maneira que esta oportunidade histórica seja a definitiva no caminho à paz.

O reconhecimento de todas as vítimas é um ponto trascendental do processo, tal como aconteceu na Irlanda ou África do Sul, a forma que aqui tome essa aproximação e acordo, que podemos prever que será longo e difícil marcará o fechamento definitivo a um conflito que levou a tristeza e a desolação a milhares de pessoas que se merecem nosso reconhecimento e a verdade. Somos muitos e muitas os que sofremos neste episódio histórico e somos a maioria os que queremos que este sofrimento termine de uma vez por todas de forma justa e democrática. Para que jamais se voltem a reproduzir estas situações tão desumanas.

A proibição da manifestação de 11 de setembro de 2010, convocada por Adierazi EH, com o lema por "Liberdade de expressão, todos os direitos para todos e todas" e a posterior desconvocatória da mesma por parte da Esquerda Abertzale e EA, mostram claramente que o campo nacionalista basco não deseja confrontações improdutivas. A bola está agora no telhado do nacionalismo espanhol e esperemos que eles também estejam à altura política que o momento exige.

Alunas vozes já se alçaram contra o discurso oficial de intransigência e de desconfiança no terreno das forças políticas espanholas, Eguiguren (PSE-PSOE) disse faz nuns dias: "Nestes momentos, o que procede é pensar em que temos que fazer ante esta situação. As pessoas falam, mas o que está em cima da mesa são umas enormes interrogantes sobre que convém fazer ante isto. Eu, pessoalmente, acho que o lehendakari basco deve de assumir um maior protagonismo e liderar este processo?

Esperemos que este seja o caminho definitivo para a paz... pois como bem sabemos não há outro caminho que não seja a paz.

E como diz o Talmud: Quem salva uma vida salva ao mundo inteiro.

Notas

[1] O socialista Eguiguren, quer que o lehendakari Patxi López lidere a negociação de uma trégua com a ETA: http://www.kaosenlared.net/notícia/socialista-eguiguren-quer-lehendakari-patxi-lopez-lidere-negociacion

[2] Finaliza o debate interno da esquerda abertzale com um chamado a acumular forças por meios exclusivamente políticos. http://www.kaosenlared.net/buscar/debate+esquerda+abertzale+finaliza

[3] [VÍDEO- VER PACTO] A esquerda abertzale e EA assinam um pacto histórico: soberanista e socializante: http://www.kaosenlared.net/notícia/video-ver-pacto-esquerda-abertzale-ea-assinam-pacto-historico-soberani

[4] Entre outros: Sinn Féin (Irlanda); N-VAI (Flandes); FMLN (El Salvador); FPLP (Palestina); representação do grupo parlamentar ALE do Parlamento Europeu, incluído seu vice-presidente; ERC, CUP e Endavant (Catalunha); BNG, NÓS-UP e FPG (Galiza); BIC (Aragón); Corrente Vermelha (Estado Espanhol) e IZCA (Castilla).

[5] Currin: "A decisão de ETA é um passo crítico no processo que está em marcha" http://www.gara.net/azkenak/09/219393/é/Currin-A-decision-ETA-é-passo-critico-processo-que-esta-marcha

[6] Friendship insta à União Européia a que reconheça "o passo dado por ETA" e impulsione o processo de paz: http://www.kaosenlared.net/notícia/friendship-insta-union-européia-reconheça-passo-dado-eta-impulsione-processo


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