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Amy Goodman

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Democracy now!

Ovos podres e nossa democracia torta

Amy Goodman - Publicado: Terça, 31 Agosto 2010 02:00

Amy Goodman

Qual a relação entre 500 milhões de ovos e a democracia? O massivo retirada do mercado de ovos infectados com salmonelose, o maior retirada na história dos Estados Unidos, permite-nos ver o poder que as grandes corporações tem, não somente sobre nossa saúde, mas também sobre nosso governo. Apesar das muitas marcas retiradas do mercado, todas podem ser rastreadas até que se chegue a somente duas granjas de produção de ovos. Cada vez mais o fornecimento de alimentos está nas mãos de empresas cada vez maiores, que exercem um enorme poder sobre nosso processo político. Da mesma forma que acontece com a indústria alimentícia, sucede também com as petroleiras e com os bancos: corporações gigantescas (algumas com orçamentos maiores do que o da maioria dos países) estão controlando nossa saúde, nosso meio ambiente, nossa economia e, cada vez mais, nossas eleições.

O contágio de salmonelose é somente o episódio mais recente de uma série que mostram uma indústria alimentícia desenfreada. Patty Lovera, ex-diretora do grupo pela segurança alimentar Food & Water Watch me disse: "Historicamente, sempre houve resistência por parte da indústria a todo tipo de norma de segurança alimentar, seja ditada pelo Congresso, ou por outros organismos governamentais. Existem grandes associações comerciais para cada setor provedor de nossos alimentos, desde os grandes produtores agroindustriais até as lojas de comestíveis".

Os ovos contaminados com salmonelose provinham de somente duas granjas – Hillandale Farms e Wright County Egg, ambas de Iowa. Por trás desse contágio está o empório de ovos de Austin "Jack" DeCoster. DeCoster é proprietário de Wright County Egg e também da Quality Egg, provedora de frangos e de alimentos para frangos das duas granjas de Iowa. Patty Lovera afirma que: "DeCoster é um homem muito escutado ao se falar com conhecedores da indústria do ovo ou com pessoas que advindas dos Estados de Iowa, Ohio ou de outros Estados onde DeCoster opera. Por isso, cremos que DeCoster é o claro exemplo do que acontece quando temos esse tipo de concentração e produção em grande escala. Não se trata somente de segurança alimentar, ou somente de dano ambiental ou do tratamento que os trabalhadores recebem. Quando estamos frente a esse tipo de produção massiva, responsável por tantos de nossos alimentos, trata-se de um pacote completo de efeitos colaterais negativos".

A agência de notícias Associated Press ofereceu um resumo das violações às normas sanitárias, de segurança e trabalhistas presentes nas operações de DeCoster com ovos e porcos em vários Estados. Em 1997, a empresa DeCoster Egg Farms acordou pagar uma multa de 2 milhões de dólares após o então Ministro do Trabalho, Robert Reich, qualificar sua granja de "tão perigosa e opressora como qualquer fábrica montadora". Em 2002, a companhia de DeCoster pagou 1,5 milhão de dólares para chegar a um acordo referente a uma demanda legal apresentada pela Comissão Federal de Igualdade de Oportunidades Trabalhistas em representação de mulheres mexicanas que informavam ter sido submetidas a abuso sexual, inclusive violação e represálias por parte de seus supervisores. Nesse verão, outra companhia vinculada à DeCoster pagou 125 mil dólares ao Estado de Maine por acusações de tratamento cruel contra os animais.

Apesar de tudo isso, DeCoster prosperou no negócio de ovos e porcos, o que o coloca à altura de outras grandes corporações como BP e os grandes bancos. O derrame de petróleo da British Petroleum, o maior na história desse país, foi precedido por uma longa lista de fatos criminosos e graves violações às normas que datam de vários anos, uma das mais conhecidas: a grande explosão da refinaria da cidade do Texas, que matou quinze pessoas em 2005. Se a BP fosse uma pessoa, teria ido para a prisão há muito tempo.

A indústria financeira é outro delinquente crônico. Pouco tempo após o maior desastre financeiro mundial desde a Grande Depressão, bancos como Goldman Sachs, cheios de dinheiro após o massivo resgate financeiro governamental, interferiram no processo legislativo que tentava controlá-los.

O resultado: um novo e amplamente ineficaz organismo governamental de proteção ao consumidor, além de uma implacável oposição à designação para a direção desse organismo da defensora dos direitos do consumidor, Elizabeth Warren, que supervisionaria os bancos tanto quanto o novo organismo o permitisse. Esse é o motivo pelo qual os banqueiros se opõem à sua designação, entre eles Timothy Geithner e Larry Summers, nomeados pelo presidente Obama como Secretário do Tesouro e Assessor Econômico, respectivamente.

É permitido que as corporações internacionais operem praticamente sem supervisão nem regulamentação. É permitido que o dinheiro das grandes empresas exerça influência sobre as eleições e, por fim, sobre a conduta de nossos representantes. Após a decisão da Suprema Corte no caso apresentado pelo grupo de direita Citizens United, que permitirá doações corporativas ilimitadas às campanhas, o problema vai de mal a pior. Para serem eleitos e manterem-se no poder, os políticos deverão satisfazer mais e mais seus doadores empresariais. Poderíamos dizer que a raposa vigia o galinheiro (e aos ovos podres que lá estão). No entanto, existe esperança. Há um movimento crescente para reformar a Constituição dos Estados Unidos, para tirar das corporações o status legal de "pessoa jurídica", conceito pelo qual as corporações têm os mesmos direitos que as pessoas.

Isso faria com que as corporações estivessem sujeitas à mesma supervisão que existiu durante os primeiros cem anos da história dos EUA. Porém, para que as pessoas sejam as únicas com direito à participação política será necessário um verdadeiro movimento de base, dado que o Congresso e o governo de Obama parecem não serem capazes de implementar nem sequer as mudanças mais básicas. Como diz o refrão: "Se queres fazer uma omelete, tens que quebrar alguns ovos".

[Denis Moynihan colaborou na produção jornalística dessa coluna].

Amy Goodman Apresentadora do Democracy Now!, noticiário internacional diário transmitido em más de 700 emissoras de radio e de TV nos Estados Unidos e no mundo.

Fonte: Democracy Now!

Traduzido pela agência Adital


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