Quer isto dizer que a crise não é estrutural? Sim, é porque não pode ser superada, e os limites do capitalismo aparecem claramente à vista na sua incapacidade para se reformular, apenas se contentando com reproduzir mais uma vez as formas neoliberais de hegemonia da financiarização económica. Haverá recuperação talvez, como já se apregoa, mas temporária e apenas beneficiando os poderosos, já que os debaixo não contam nestes cálculos.
Os governos combatem as consequências e não as causas, injectaram milhões no sistema financeiro, salvaram da falência os bancos e quejandos e assumiram as perdas através da nacionalização das instituições mais problemáticas. Medidas para combater a crise, reforma do capitalismo, fim dos paraísos fiscais – tudo isso foram promessas sem seguimento.
Prossegue a hegemonia financeira sobre a produtiva, tão desregulada e especulativa como dantes, que indica que a nova crise está ao virar da esquina. Do lado do modelo produtivo, a taxa de lucro baixa sem cessar e a acumulação de capital parece não ter sustentabilidade duradoura, apesar de a lógica mercantil não deixar de atropelar tudo e todos e o nível de vida dos países industrializados e das elites compradoras – um quarto da humanidade – se fazer à custa do aprofundamento do subdesenvolvimento no terceiro mundo.
Do lado do campo popular, o desemprego é galopante e as desigualdades sociais aumentam por toda a parte, os problemas ambientais continuam sem solução.
Apesar de nunca se ter assistido a um descalabro como este, nem mesmo na Grande Depressão, o impasse a que se chegou não encontra contraponto num modelo económico alternativo. A esquerda (ou inesquerda?) e os movimentos populares não se reorganizam em consonância com esta nova situação, nem se preparam para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham. Em todo o mundo parece estar bloqueada a luta da classe operária tal como a conhecemos desde há cento e tal anos.
Assim sendo, em que medida pode a luta anticapitalista avançar a partir da crise actual?
O estado actual da consciência política dos operários e das massas trabalhadoras é por todos reconhecido como recuado e reformista, tal é o soterramento da disposição combativa que novos e velhos reformistas se têm encarregado de praticar. Contudo, é
a estes explorados que estão a ser aplicadas as receitas neoliberais de diminuição dos direitos sociais, dos despedimentos em massa para salvar o capital da crise e revitalizar o mercado, as medidas de retrocesso dos direitos laborais. Objectivamente não há sinais revolucionários na Europa e na América industrializadas, pelo contrário.
Cabe aos revolucionários empreender uma enorme luta para levar aos trabalhadores as palavras de ordem que elevem a sua combatividade. Revogação da legislação anti-operária, pleno emprego, taxação das grandes fortunas, fim dos privilégios dos gestores públicos, aumento geral de salários são algumas das medidas que propomos aos trabalhadores mais directamente atingidos pela crise, contra as ilusões generalizadas de que os problemas de fundo da luta de classes podem ser resolvidos por negociação e mediante a intercessão dos partidos e sindicatos reformistas e conciliadores com o regime.