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Noam Chomsky

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Ecos do Vietnã na guerra do Afeganistão

Noam Chomsky - Publicado: Quinta, 12 Agosto 2010 01:24

Noam Chomsky

Controlar a opinião pública ainda é essencial para o sucesso de conflitos internacionais.


O War Logs – documentos militares confidencias que tratam de seis anos da guerra no Afeganistão, vazado na Internet pelo site WikiLeaks, relatam a cruel luta tornado-se cada dia mais violenta, pela perspectiva dos EUA. E para os afegãos, um horror cada vez mais crescente.

Mesmo que valiosos, o War Logs, podem contribuir para alimentar a infeliz crença de que essas guerras são erradas apenas quando não são bem sucedidas – algo parecido com com que os nazistas sofreram na Batalha de Stalingrado, durante a Segunda Guerra Mundial.

Mês passado, assistimos ao fiasco do general Stanley McChrystal, forçado a se retirar do comando das tropas americanas no Afeganistão e substituído pelo seu superior, o general David Petraeus.

Uma plausível consequência é o relaxamento das regras de combate, de maneira que matar civis se torne mais fácil, e também o prolongamento da duração da guerra a partir do momento em que Petraeus use sua influência no Congresso para alcançar este resultado.

O Afeganistão é a principal guerra em curso do presidente Barack Obama. A meta oficial é a de nos proteger da Al Qaeda, uma organização virtual, sem base específica – uma "rede de redes" e uma "resistência sem líderes" – assim é como tem sido chamada na literatura profissional. Agora, mais do que antes, a Al-Qaeda consiste em facções relativamente independentes e livremente associados ao redor do mundo.

A CIA estima que entre 50 e 100 ativistas da Al-Qaeda estão atualmente no Afeganistão, e não há nenhum indicativo de que o Taleban queira repetir o erro de oferecer refúgio a Al-Qaeda. Aparentemente, os talebans estão bem estabelecido em seu vasto e árduo território, uma grande parte das áreas de Pashtun.

Em fevereiro, no primeiro exercício da nova estratégia de Obama, os fuzileiros americanos conquistaram Marja, um distrito menor da província de Helmand, o principal centro dos insurgentes. Direto do local, o repórter do New York Times Richard A. Oppel Jr, relatou: "Os fuzileiros se encontraram com uma identidade taleban tão dominante que o movimento parece ser uma organização política de partido único com uma influência que alcança todos os níveis..."

"Temos que redefinir o significado da palavra 'inimigo'", disse o general Larry Nicholson, comandantes dos fuzileiros navais da brigada expedicionária na província de Helman. "A maioria das pessoas se identificam como taleban. Temos que reajustar o nosso pensamento de uma forma que não tratemos de expulsar o talebans de Marja, mas sim o inimigo".

Os fuzileiros estão enfrentando um problema que sempre foi comum aos conquistadores, e que é muito familiar aos americanos desde a guerra do Vietnã. Em 1969, Douglas Pike, o especialista em Vietnã do governo americano, lamentava-se de que o inimigo – a Frente de Libertação Nacional (FLN) – "era o único partido político com uma adesão maciça no Vietnã do Sul".

Segundo reconheceu Pike, qualquer esforço para competir politicamente com esse inimigo seria como o confronto entre uma sardinha e uma baleia. Em consequência, devíamos superar a força política da FLN com a nossa vantagem comparativa, a violência, com resultados terríveis. Outros encararam problemas similares: por exemplo, os russos no Afeganistão durante os anos 1980, quando eles ganharam todas as batalhas mas perderam a guerra.

Sobre outra invasão americana, nas Filipinas em 1898, Bruce Cumings, um historiador especialista em Ásia da Universidade de Chicago, fez uma observação aplicável hoje a situação do Afeganistão: "Quando um navio vê que a sua rota é errada ele muda de rumo, contudo o exército imperial crava as suas botas na areia movediça e continuam marchando, mesmo que seja em círculos, enquanto os políticos mostram o livro de frases dos ideais estadunidenses".

Depois do triunfo de Marja, se esperava que as forças lideradas pelos EUA atacassem a importante cidade de Kandahar, onde, segundo uma pesquisa do exército americano, a operação militar é rejeitada por 95% da população e cinco em cada seis entrevistados consideram os talibãs como "nossos irmãos afegãos" – mais uma vez, ecos de conquistas anteriores. Os planos de Kandahar foram postergados, parte devido a saída de McChrystal.

Dadas as circunstâncias, não é de se estranhar que as autoridades dos EUA estão preocupadas com o apoio popular a guerra no Afeganistão pode piorar ainda mais.

Em maio, o Wikileaks vazou um informe da CIA sobre como manter o apoio da Europa a guerra. A legenda do memorando dizia: "Porque contar com a apatia talvez não seja suficiente".

"A falta de interesse público da missão no Afeganistão fez com que Alemanha e França ignorassem a oposição popular e gradualmente aumentassem a sua contribuição de tropas a Força Internacional de Segurança e Assistência (ISAF)", diz o memorando. "Berlim e Paris atualmente mantém a terceira e a quarta maior tropa na ISAF, a despeito da oposição de 80% dos alemães e franceses questionados sobre um maior envio de tropas ao Afeganistão". É necessário "desestimular as mensagens" para "impedir, ou ao menos conter, uma reação negativa".

Este informe deve nos lembrar que os Estados têm o seu próprio inimigo: a sua população, que deve ser controlada quando a política estatal encontra oposição entre o povo". As sociedades democráticas não dependem da força, mas da propaganda, manipulando o consenso mediante "uma ilusão necessária" e uma "sobre-simplificação emocionalmente poderosa", para citar o filósofo favorito de Obama, Reinhold Niebuhr.

Assim, a batalha para controlar o inimigo interno segue sendo extremamente importante. De fato, o futuro da guerra no Afeganistão dependa dela.


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