1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (2 Votos)
Sílvia Ribeiro

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Em coluna

Transgénicos, glifosato e cancro

Sílvia Ribeiro - Publicado: Segunda, 06 Abril 2015 13:54

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou que o glifosato, o agrotóxico mais difundido no mundo, que se usa em 85% dos cultivos transgénicos, é causa provável de cancro.


Comunidades e famílias afetadas na Argentina, Paraguai e outros países vinham denunciando esta relação há anos, por sofrê-la diretamente. Agora as Nações Unidas confirmou-o.

É outro legado tóxico de Monsanto para a humanidade: a empresa desenvolveu e patenteou este herbicida de amplo espetro em 1974 e, embora a patente tenha expirado em 2000, continua a ser um importante segmento das suas vendas e está associado à maioria de seus transgénicos. Por isso, Monsanto pressiona agora para a OMS mudar esse parecer, alegando, como fez por décadas, que o glifosato não produz cancro.

Mas o grupo de especialistas da Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro da OMS (IARC por sua sigla em inglês), que realizou a avaliação, mantém as suas conclusões, explicando que seus documentos de base são muitos, sólidos e sobretudo independentes, diferentemente dos apresentados pela empresa.

Um grupo de 17 especialistas de 11 países trabalhou na avaliação do potencial carcinogénico de 5 pesticidas organofosforados: tetraclorvinfos, paratião, malatión, diazinón, e glifosato. O 20 de março publicaram os resultados na revista científica The Lancet. Todos os pesticidas avaliados mostraram relação com problemas graves à saúde, mas o caso do glifosato desatou um alarme global porque é o agrotóxico com maior volume de produção e uso no mundo, e porque instituições de saúde e empresas asseguram que é de baixa peligrosidad.

Em contraste, o grupo de experientes opinou que existem provas suficientes de que o glifosato pode causar câncer em animais de laboratório e há provas limitadas de carcinogenicidad em humanos (linfoma não Hodgkin). Para isto último, se basearam em estudos de exposição a glifosato de agricultores nos Estados Unidos, Canadá e Suécia. Se fizessem estes mesmos estudos no Cone Sul da América Latina, na Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai, a área que a transnacional Syngenta chamou cinicamente a República Unida da Soya, onde se planta o maior volume de soya transgênica resistente a glifosato do planeta, os resultados seriam ainda mais graves, já que a fumigación aérea e a falta de controle está bem mais estendida.

O grupo de OMS encontrou, além disso, suficientes evidências de danos ao DNA e danos cromosómicos em células humanas in vitro, ou seja, em testes de laboratório. São sintomas relacionados com o desenvolvimento de cancro.

Assinalam que o glifosato é usado em agricultura, silvicultura, áreas urbanas e lares. Agregam que seu uso aumentou exponencialmente com a semeia de culturas modificadas geneticamente para serem resistentes a este herbicida e que se encontraram resíduos de glifosato em ar, água e alimentos.

Em 2013, um estudo de Amigos da Terra encontrou resíduos de glifosato na urina de 45% dos cidadãos muestreados em 18 cidades europeias, e outro na Alemanha, níveis de 5 a 20% altos em urina que os níveis permitidos em água potável. O movimento Moms Across America dos EUA encontrou em 2014 presença de glifosato em leite materno, em percentagens até mil 600% superiores ao permitido pela diretiva europeia.

No Brasil, principal usuário de agrotóxicos do mundo, estudos do pesquisador Wanderlei Pignati, mostraram desde 2011, grave presença de glifosato em leite materno no estado de Mato Grosso, bem como altas percentagens de resíduos de glifosato e outros agrotóxicos na água que bebem em escolas e em 88% das amostras de sangue e urina tomadas a mestres do município Lucas de Rio Verde desse estado. Há resultados no mesmo sentido na Argentina. Ali, os movimentos de mães e médicos de povos fumigados de Córdoba, Santa Fé e outras províncias afetadas pela semeia de transgénicos, denunciam há anos o que consideram um genocídio silencioso. Nesses locais, os casos de cancros e malformações congénitas ultrapassam muito a média nacional. No Chaco, até 400%.

Darío Aranda, jornalista argentino que documentou estas lutas, lembrou-nos agora o trabalho de Andrés Carrasco, que em 2009, sendo chefe do Laboratório de Embriología Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires e pesquisador principal do Conicet, demonstrou com testes em anfíbios, que o glifosato tem efeitos teratogénicos, quer dizer, produz malformações em fetos e neonatos. Deveu por isso enfrentar uma dura campanha de desprestigio a mãos dos setores pró-transgénicos oficiais e empresariais. Os transgénicos e os agrotóxicos na Argentina são um experimento em massa a céu aberto, costumava advertir. Carrasco, falecido em 2014, afirmava que a maior prova dos efeitos dos agrotóxicos não tinha que se procurar nos laboratórios, nas nas comunidades fumigadas. Ele mostrou em laboratório somente o que as pessoas já sabiam, pela doença e morte de seus familiares. (D. Aranda, 22/3/15, lavaca.org)

Embora o glifosato existisse antes que os transgénicos, estes aumentaram brutalmente o seu uso e riscos. Agora que causaram dezenas de matos resistentes ao glifosato, as transnacionais pressionam para libertar transgénicos com tóxicos ainda piores. Urge terminar com o mito da agricultura química, transgénica e industrial: alimentam uma minoria, poluem tudo e todos, ganham só um punhado de transnacionais. É um experimento em massa a nível global e os seus efeitos ficam a cada vez mais expostos.

Tradução do Diário Liberdade.

Fonte: La Jornada.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.