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James Petras

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Em coluna

Obama subjuga a Europa: Sanções aprofundam a recessão

James Petras - Publicado: Sexta, 05 Setembro 2014 11:51

A Administração Obama pressionou activamente a Europa para impor duras sanções à Rússia a fim de defender a violenta tomada do poder ("mudança de regime") na Ucrânia.


A Inglaterra, França, Alemanha e o resto dos regimes europeus cederam às exigências de Washington. A Rússia respondeu impondo sanções recíprocas, especialmente nos bens agro-alimentares, estabelecendo parcerias comerciais alternativas e aumentando o comércio com a China, Irão, América Latina e África. 

As políticas de sanções ocorrem numa altura em que as economias da Europa estão em crise económica profunda, exacerbando a estagnação a longo prazo e a recessão crónica. Este documento identifica e analisa a crise e como as sanções conduzidas pelos EUA estão a fracturar a União Europeia. Em segundo lugar, analisaremos como as politicas imperiais militaristas de Washington estão a minar a Europa economicamente e a desestabilizar o resto de mundo militarmente. Em terceiro, discutiremos como os líderes europeus são aguilhoados por Washington, dizendo isto brutalmente, através de um agressivo "processo de subjugação", para entregarem a sua soberania económica e como a capitulação perante o projecto dos EUA na Ucrânia levará ao seu declínio e decadência a longo prazo. Finalmente, discutiremos as perspectivas a longo prazo para uma economia mundial realinhada em que os conflitos militares podem resultar em mudanças de grande escala. 

Da estagnação à recessão, das sanções à depressão 

Por toda a Europa, sem excepção, a recessão espreita as economias. Os países dominantes, Alemanha, França e Itália estão afundados na recessão, severamente exacerbada pelas sanções contra a Rússia ditadas por Washington. Da Finlândia, passando pelos Estados Bálticos até à Europa Central e do Sul, a "recuperação" da Zona Euro está "kaput"! A "tripla maldição" do desinvestimento capitalista, das sanções económicas e das guerras provocou um aprofundamento da crise económica. 

Alemanha: Um regime "lambe botas" assusta o sector industrial e o financeiro 

A confiança no mercado financeiro alemão está em colapso devido ao apoio da chanceler Merkel ás sanções contra a Rússia e a resposta em reciprocidade do presidente Putin. Várias centenas de milhares de postos de trabalho na indústria alemã estão em risco; as importações de petróleo e gás natural russo estão em perigo; investimentos em grande escala e a longo prazo, bem como exportações lucrativas, estão em jogo. Estes receios e incertezas conduziram a um declínio do investimento e a um sem precedentes crescimento negativo de 0,2% na economia alemã no segundo trimestre de 2014. As ondas de recessão na Alemanha espalham-se através da Europa – afectando sobretudo a Polónia, a República Checa, a Hungria e a Europa do Sul. 

A servil capitulação de Merkel ao comando do presidente dos EUA para sancionar um dos maiores parceiros comerciais da Alemanha, pode prejudicar seriamente o seu futuro económico. As exportações industriais para a Rússia ascendem a 36 mil milhões de euros; há €20 mil milhões de investimentos e mais de 400 mil trabalhadores alemães estão empregados em empresas que exportam para a Rússia... Joe Kaeser, presidente da Siemens, argumentou explicitamente que "as tensões políticas põem sérios riscos para o crescimento da Europa neste ano e no próximo". As vendas em alguns sectores caíram 15% desde Junho de 2014. A economia alemã já enfrentava a estagnação mesmo antes do golpe de Kiev... exportadores de máquinas estão especialmente preocupados acerca da perda do mercado russo porque outros mercados estão em declínio. Exemplo: as vendas para o Brasil caíram cerca de 20%. 

Além disto, os agricultores alemães sofrerão perdas. As exportações carne e seus produtos montam a €276 milhões anuais ou 21% das suas exportações para fora da UE. Os exportadores de lacticínios facturam €160 milhões no comércio com a Rússia, 14% do total para fora da UE. 

Merkel conscientemente sacrificou a indústria, a agricultura e o emprego ao submeter-se às políticas de Obama "subjugação dos seus aliados europeus". Por outro lado as sanções contra a Rússia não têm praticamente impacto sobre os interesses económicos dos EUA. Só os europeus sentirão o golpe. O apoio de Merkel ao golpe dos EUA-NATO em Kiev e o assalto militar em curso contra os democratas anti golpe no Leste da Ucrânia está a levar a um ressuscitar das políticas de confronto da Guerra Fria para com a Rússia, constrangem a maioria dos produtores e exportadores alemães, bem como a população alemã. 

Itália: Crise capitalista e sanções 

A Itália é atingida por uma profunda recessão que dura há meia década e continua em 2014. O PIB caiu 0,2% no segundo trimestre, ficando ao nível de 2000! As sanções contra a Rússia custarão à Itália mais de 1 000 M€ em exportações perdidas, que vão refletir-se sobretudo no Norte da Itália, provocando a ira dos conservadores da Liga do Norte. As grandes empresas de energia com elevados investimentos na Rússia, enfrentam ainda maiores perdas. Agricultores, da Toscânia à Sicília, estão a sofrer grandes perdas nas suas exportações. Por outras palavras, com as sanções a economia italiana, cronicamente doente, perdeu qualquer hipótese de recuperação e previsivelmente passará da recessão para a depressão. 

França: Do crescimento zero à recessão 

A França entrou num período de perpétua recessão. O desemprego excede os 11%, o subemprego excede 20%. O PIB paira em níveis de recessão entre os zero e 0,5%. A austeridade, envolvendo cortes nos programas sociais em larga escala, isenções e benefícios nos impostos para o capital, desgastou as despesas de consumo sem aumentar o investimento. As sanções de Obama contra a Rússia prejudicarão ainda mais os exportadores franceses, em particular o seu sector agrícola e os fabricantes de armamento [NR] . O híper-militarista-socialista presidente Hollande exacerbou os problemas da balança de pagamentos enviando o exército e a força aérea para intervirem em três continentes. Isto levou a que 82% dos eleitores escolhessem partidos alternativos, impulsionando o partido nacionalista de direita, a Frente Nacional, para o primeiro lugar. 

As traseiras da Europa: Espanha, Grécia e Portugal 

Profundamente mergulhados numa depressão que dura há uma década, com desemprego que anda nos 26% na Espanha e na Grécia e 16% em Portugal, a reciprocidade das sanções da Rússia relativamente às exportações agrícolas atingem severamente os seus sectores agroalimentares, levando a que montanhas de tomates, uvas e outros produtos estejam a apodrecer nos campos. Toneladas de produtos do Sul da Europa acabarão sob a forma de composto fertilizante. Dezenas de milhares de agricultores enfrentam os maiores problemas e muitos serão forçados à falência devido às imposições de Washington. 

Os agricultores espanhóis estão expostos a perder 158 M€ pelas sanções contra os seus frutos frescos e nozes, 22% do total das suas exportações para fora da UE; os agricultores gregos perderão 107 M€, 41% do total das suas exportações para fora da UE. Os exportadores de carne espanhóis perderão 111 M€ ou 13% do total das suas exportações para fora da UE. 

A UE, pelo seu lado oferece magras compensações – esperando que milhares de agricultores duramente pressionados se submetam às exigências de Obama. Enquanto a Rússia estabelece mercados alternativos na América Latina, a UE enviou emissários à América Latina, pedindo aos governos para rejeitarem os negócios de milhares de milhões de dólares com a Rússia e conformarem-se com as sanções dos EUA e UE. Até agora todos os países latino-americanos rejeitaram a ofensiva de sedução da UE. O Presidente do Equador, Rafael Correa, ripostou escarnecendo da UE: "Nós não temos de pedir permissão a ninguém para exportar para países amigos. Tanto quanto sei a América Latina não faz parte da UE." O Egipto e a Turquia estão a preparar-se para substituir os agricultores da UE e dos EUA nas suas exportações para a Rússia. 

Hungria, Bulgária, Polónia, Lituânia, Dinamarca e Holanda 

O Presidente da Hungria Viktor Orban está furioso com as sanções e ameaça romper as fileiras se Budapest se confrontar com perdas em exportações e a ameaça energética ao seu país, energeticamente dependente da Rússia. O Presidente da Bulgária sucumbiu às pressões de Bruxelas e denunciou um contrato de 40 mil milhões de dólares para um gasoduto, assinado entre a Rússia e empresas búlgaras, precipitando uma enorme crise bancária e o colapso do segundo maior banco – Corbank. Os depósitos de milhares de búlgaros foram congelados ou simplesmente desapareceram. Quando Bruxelas pressiona os búlgaros, eles deixam falir os seus próprios bancos. 

A Finlândia, em tempos o "menino bonito" dos ideólogos da "Terceira Via", está há muito em depressão. A economia afundou-se ao longo de quatro anos consecutivos e mesmo os otimistas do regime estimam que precisará de 10 anos para recuperar-se. O primeiro-ministro finlandês, Alex Stubs, um ideólogo do "free-market", é um firme defensor das sanções contra a Rússia embora estas reduzam drasticamente as exportações de produtos alimentares (lacticínios, carne, peixe, etc). Stubbs defende a sua catastrófica capitulação à tomada de poder da NATO em Kiev proclamando que "os nossos princípios (sic) não estão à venda, acreditamos nas instituições internacionais, acreditamos no império da lei". A Finlândia, sob o seu Presidente, "escravo da lei", perderá pelo menos 253 M€ este ano, 68% das suas exportações para países fora da UE. Por outras palavras, esta marionete política sacrifica o bem-estar de centenas de milhares de produtores finlandeses para apoiar o regime imposto pela NATO em Kiev, que está a enviar unidades de neonazis para matar civis e combatentes da resistência ucraniana. 

As exportações agrícolas da Polónia para a Rússia colapsaram, levando Varsóvia a pedir a Washington e a Bruxelas subsídios de emergência e implorar aos exportadores de maçãs americanos para comerem maçãs polacas. Os produtores polacos de flores perderão 317 M€ em vendas, 61% das suas exportações para países fora da UE. Os exportadores de carne, perderão 162 M€, 20% das suas exportações para países fora da UE. Os produtores de lacticínios perderão 142 M€, 32% das suas exportações para países fora da UE. 

Os polacos que assumiram a mais reacionária postura "russofóbica" e estão profundamente implicados na organização e treino dos gangs neofascistas que derrubaram o governo eleito da Ucrânia, estão agora a empurrar carros pelas ruas de Varsóvia com maçãs e salchichas, em vez de fornecerem as prateleiras dos supermercados da Rússia – gemendo para que os nova-iorquinos renunciem às maçã de outros Estados e suportem as perdas. 

A Lituânia perderá 308 M€ na exportação de frutos frescos para a Rússia ou 81% das suas exportações para países fora da UE, os produtores de lacticínios perderão 161 M€ em vendas, 74% das suas exportações para países fora da UE. A Dinamarca e a Holanda perderão mais de 800M€ em exportações agrícolas para a Rússia, agravando a sua recessão. 

Conclusão 

O sempre persuasivo reacionário de Washington, Presidente Obama, pressionou os líderes da UE a afundarem ainda mais as suas economias na recessão, para que ele pudesse lançar uma nova Guerra-fria contra a Rússia. Os EUA enterram-se em confrontos militares no Iraque, Ucrânia e Síria. Obama parece ter perdido o controlo sobre os programas de ajuda militar que estão no caos. Os aliados sionistas de Netanyahu no Congresso conseguiram fazer o bypass à casa Branca e ao Departamento de Estado e aprovar embarques adicionais de armas do Pentágono para Israel, minando qualquer iniciativa da Administração sobre o genocídio em curso em Gaza. 

O Japão juntou-se às sanções contra a Rússia exacerbando a sua própria crise económica. Em 2014 o Japão vive a pior contração desde 2009, com uma queda de 7,1% no segundo trimestre. O crescentemente impopular primeiro-ministro Abe está comprometido com o rearmamento militar. Vários políticos japoneses visitam o santuário de Yasukuni, o templo militarista que honra os criminosos de guerra, despertando as horríveis memórias das vítimas do imperialismo japonês. Há, de forma crescente, confrontações com a China sobre alguns rochedos no Sul do Mar da China. À medida que as manobras militares de Obama na Ásia aumentam, a economia japonesa afunda-se. 

Nenhum país europeu pode beneficiar do apoio ao regime falido de Kiev. A moeda da Ucrânia está em queda livre – classificando-se abaixo do papel higiénico. As suas maiores indústrias, totalmente dependentes do comércio com a Rússia, estão em bancarrota ou foram bombardeadas pelo regime golpista da NATO em Kiev. As exportações agrícolas estão devastadas. Entretanto, as famílias ucranianas foram aconselhadas a cortarem madeira ou escavarem o seu próprio carvão antecipando um inverno totalmente sem gás russo dado que os oligarcas em Kiev têm sido incapazes de pagar a monstruosa dívida energética. 

Pelo seu firme apoio ao regime de Kiev, em bancarrota, dirigido por um oligarca bilionário, por apoiar os "princípios" tão louvados pelo Presidente finlandês, um milhão de agricultores europeus enterrarão as suas maçãs, irão vazar leite pelas ruas e esvaziar as suas uvas, laranjas e tomates em pilhas para apodrecer. É por isto que os seus líderes, Obama, Cameron, Merkel e Hollande podem apoiar os seus verdadeiros "princípios" de expansão territorial, extensão de operações militares para as fronteiras da Rússia e posicionar-se como guerreiros enquanto destroem a economia produtiva dos seus países levando à falência agricultores e industriais e mais milhões de trabalhadores para o desemprego, agravando os custos e angústias da recessão. 

A Ucrânia junta-se à lista de países, Líbia, Egipto, Síria, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Somália, Iémen, que Washington e a NATO têm "salvo" (parafraseando um general americano)… sendo destruídos. 

Uma vez mais a construção do império militar conduzido pelos EUA, ilude o desenvolvimento económico. Guerras destrutivas e sanções destroem mercados viáveis e empobrecem sectores inteiros da economia. Impor sanções a países estrangeiros convida à retaliação – o efeito boomerang aniquila a produção no próprio país. Á medida que o comércio mundial se afunda, a estagnação torna-se endémica, as recessões aprofundam-se e a recuperação permanece uma quimera distante. A imprensa financeira, o Wall Street Journal e o Financial Times, que foram megafones pára os senhores da guerra ocidentais, já não publicam hinos ao mercado livre, mas sim trechos ácidos clamando por guerra e sanções…que fecham mercados e destroem a confiança dos investidores. 

Encostados à parede por Obama, os lambedores de botas europeus levam as suas economias à bancarrota, passando a pedir esmola. 

A Itália enfrenta a realidade de uma década de estagnação. A economia de Portugal está arruinada e arrasta-se. A indústria de máquinas da Alemanha pára. Os "princípios" da Finlândia sentem os efeitos boomerang. A Inglaterra está convertida numa cidade-estado de lavagem de dinheiro na qual um terço das crianças vive na pobreza. A Polónia consome-se a si própria, embriagando-se com material de guerra e maçãs podres. 

Num mundo submetido à doutrina de Washington da guerra permanente, a Europa afasta-se da única via que a poderia manter fora de uma crise permanente: a coexistência pacífica. Os ultra de Washington e os lambe botas da Europa escolheram as sanções em vez de comércio e a destruição em vez de prosperidade. Estão a pagar um preço: instabilidade interna, deslocação dos mercados para países emergentes e a ascensão do caos como "way of life" na Europa Ocidental. 


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