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Guillermo Almeyra

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Cuba: Burocracia e forças contrarrevolucionárias (I)

Guillermo Almeyra - Publicado: Segunda, 19 Julho 2010 02:00

Guillermo Almeyra

O dilema de um analista que tem a sua disposição só um artigo semanal de 5 mil espaços consiste em aquilo que os franceses chamam "l'embarras du choix" (que não significa a gravidez da anchova, mas a dificuldade para escolher entre temas muito importantes).


Hoje, por exemplo, deverei postergar a tentativa de tirar algumas conclusões das mudanças na sociedade argentina expressadas pela derrota da "guerra de Deus" promovida pelos inquisidores da hierarquia católica e a vitória, em troca, das liberdades e de uma maior justiça, ainda que nessa sociedade esteja se formando uma maré de fundo que não tem uma expressão política que a canalize diretamente, mas que se manifesta na extensão dos direitos aos homossexuais (que dividiu a mesma Igreja, a oposição e o peronismo entre cavernícolas golpistas e modernizantes mais democráticos), tal como na lei de proteção dos glaciares contra a mineração trasnacional, depois de grandes manifestações e multidões contra as minas, ou na lei contra o monopólio dos meios de comunicação (sobretudo Clarín e La Nación, os grandes organizadores da direita na Argentina). Mas "o primeiro é o primeiro", diz a filosofia popular. Mas o que está em jogo em Cuba não só é mais importante como também está sendo pouco e mal analisado, ou em parte silenciado, pelos amigos da revolução cubana e, sobretudo, é tergiversado por seus inimigos.

A libertação de 52 presos pelo governo cubano e sua viagem a Espanha tira, sem dúvida, pretextos para as medidas de bloqueio européias e estadunidenses e dá nova força e legitimidade à campanha pela libertação dos cinco cubanos que levam longos anos presos ilegalmente e em condições terríveis nos cárceres dos Estados Unidos, e para a expulsão do campo de concentração em Guantánamo que ainda encerra quase o dobro de prisioneiros (além disso não julgados por autoridades civis) que todos os que já teve nunca Cuba. Mas esse ato de distensão política propõe diversas questões importantes e levanta um  cantinho do véu da desinformação sobre o que se passa em Cuba e sobre a luta política no seio da ilha e no seio do mesmo regime e do governo.

Em primeiro lugar: duas declarações. A primeira é que Cuba tem o direito e o dever de se defender, apelar à contraespionagem e deter os agentes inimigos dada a guerra que, com todo sua poderio e com todos os meios, econômicos, políticos, noticiários, de sabotagem e inteligência militar e, em seu momento, mediante atentados e invasões, livra Estados Unidos desde faz mais de 40 anos contra a revolução cubana. A segunda é que Cuba não precisa "amigos" que sigam o governo adorando a sua bunda e dizendo a tudo que sim, a posteriori, em vez de dar uma opinião oportuna e de dissentir de aquilo que claramente é perigoso para o processo cubano. Amigo real é o que às vezes, e inclusive se enganando, prefere trazer ideias a tempo para sustentar, reforçar e regenerar a revolução cubana, que é parte essencial e imprescindível do processo de libertação na América Latina e em todo o mundo. Quem tem o "síndrome do 'pesero'" (porque acatam o cartaz de "Não incomodar quem guia") e nada disseram em seu momento sobre "o socialismo real" do regime soviético para "não ajudar o imperialismo" ou são acríticos e não propositivos ante os governos antii-mperialistas ou a direção de movimentos sociais, ajudam involuntariamente ao imperialismo que, com certeza, está bem informado sobre os problemas de seus adversários, e deixam em troca no erro quem querem sustentar.

Digo isto porque é trágico que o governo cubano tenha que libertar tarde e mal aos presos políticos que não reconhecia como tais e deva fazê-lo não motu proprio mas sob a pressão e com intervenção da Igreja (que é uma força contrarrevolucionária) e do governo imperialista espanhol. Os presos, poucos e sem apoio popular, desde o começo eram mais perigosos no cárcere que no exílio. O governo cubano, por não o compreender a tempo converteu em mártires um punhado de mercenários ou de cadáveres políticos, deu espaço para a hierarquia católica e aparece cedendo ante o grevista de fome profissional Fariñas, um resíduo do caso do fuzilado general Ochoa, e ante dois estados: o Vaticano e o de Madri.

Igualmente grave é que se separe do Partido Comunista Cubano quem fala claramente sobre os perigos contrarrevolucionários na ilha -denunciados, além do mais, anteriormente pelo próprio Fidel Castro-, um intelectual destacado, apoiado por sua organização de base e por seus colegas, como é o caso do doutor Esteban Morales (como antes sucedeu com outros críticos revolucionários de esquerda, também defenestrados), ou que em kaosenlared um plumífero vomite infámias contra Pedro Campos ou Morales os acusando nada menos que de agentes do capitalismo, por proporem um socialismo sem burocratas e autogestionário, se apoiando para isso em Marx!

A burocracia, que não é homogênea nem tem uma só solução para os graves problemas que enfrenta atualmente a revolução cubana, nesta crise mundial tem no entanto um humus cultural comum: é profundamente conservadora e é ideologicamente estéril. É um lastro político e econômico cuja base tem que se conhecer, para a combater mais eficazmente, e cujos laços com a contrarrevolução não basta denunciar, pois devem ser extirpados por um maior controle da sociedade que a padece. Mas sobre isto, pela falta de espaço, voltaremos na segunda parte deste artigo.


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