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Amy Goodman

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Democracy now!

De Cabul ao Cairo, continuam os assassinatos e as detenções de jornalistas

Amy Goodman - Publicado: Domingo, 20 Abril 2014 21:51

O jornalismo não é um delito. Este é o lema central da campanha pela libertação dos quatro jornalistas da cadeia Al-Jazeera que se encontram encarcerados no Egito.


Três deles, Peter Greste, Mohamed Fahmy e Baher Mohamed, acabam de cumprir cem dias de reclusão. O quarto, Abdullah al-Shami, encontra-se enclausurado desde há mais de seis meses. Acusam-nos de “difundir mentiras que atentam contra a segurança do Estado e de integrar uma organização terrorista”. Naturalmente, a única coisa que faziam era cumprir com o seu trabalho.
 
Anja Niedringhaus também estava a fazer o seu trabalho como fotógrafa para a agência de notícias Associated Press (AP) quando foi assassinada na semana passada em Khost, Afeganistão. Cobria os preparativos para as eleições nacionais no Afeganistão e estava sentada no seu automóvel com a repórter da AP Kathy Gannon, quando um agente de polícia afegão abriu fogo, causou a morte a Niedringhaus e feriu Gannon.
O trabalho de Niedringhaus captou a brutalidade da guerra e a esperança da humanidade. Começou a sua carreira em adolescente, tirando fotografias da queda do Muro de Berlim na sua Alemanha natal. Depois trabalhou para a agência European Pressphoto Agency, para quem fez a cobertura da Guerra dos Balcãs, a repercussão aos ataques do 11 de setembro de 2001 na cidade de Nova York e mais tarde, a invasão e ocupação do Afeganistão. Em 2002, começou a trabalhar para a AP, para quem realizou coberturas sobre os conflitos no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, bem como de importantes eventos desportivos internacionais como o Campeonato Mundial de Futebol e Wimbledon. Ao percorrer as imagens que nos deixou, fica-se tocado pela valentia, pelo talento e pela habilidade para captar e transmitir um instante, carregado com todo o peso da história.
 
Anja Niedringhaus é uma dos muitos jornalistas assassinados no desempenho de um serviço público essencial: o jornalismo.
A jornalista russa Anna Politkovskaya escreveu no ano 2003: “Vale a pena morrer pelo jornalismo?" Informava a respeito da tentativa de assassinato de um colega do jornal independente Novaya Gazeta. Politkovskaya redigiu:“Se o preço da verdade é tão alto, talvez simplesmente devêssemos parar e encontrar uma profissão com menos risco a passar por situações ‘muito desagradáveis’. Que importaria à sociedade, para quem fazemos este trabalho?” Politkovskaya respondeu à sua pergunta retórica com factos. Continuou a informar sobre o poder na Rússia, especialmente em relação à presidência de Vladimir Putin. Foi assassinada três anos depois, a 7 de outubro de 2006. O seu assassinato teve a marca de um assassinato por encomenda, tal como aconteceu nos assassinatos de outros jornalistas na Rússia.
 
Nem a morte nem a prisão deveriam ser o castigo por informar. O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) elabora estatísticas e organiza campanhas para defender jornalistas ameaçados, libertar quem se encontra na prisão e exigir justiça para os jornalistas assassinados. Presta assistência direta a jornalistas que enfrentam ameaças iminentes, o que inclui assistência médica e jurídica, assim como a transferência para zonas seguras. Segundo informa o CPJ, desde 1992 foram assassinados no mundo 1.054 jornalistas.
Esta semana comemora-se também o aniversário das violentas mortes de dois jornalistas no Iraque, José Couso, do canal de televisão espanhol Telecinco, e Taras Protsyuk, operador de câmara ucraniano que trabalhava para a Reuters. A 8 de abril de 2003, estavam a filmar a invasão de Bagdade pelos Estados Unidos a partir do Hotel Palestina, conhecido por ser o lugar em que se hospedavam os correspondentes da imprensa de todo o mundo. Um tanque de guerra dos Estados Unidos disparou contra o hotel, assassinando os dois jornalistas e causando feridas a outros.
 
Quando o então primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, que apoiava a invasão, falou à imprensa espanhola no Parlamento, os jornalistas baixaram as câmaras, desligaram os microfones e viraram-lhe as costas em sinal de protesto pela morte do seu colega. Tempos depois, manifestantes obstruíram a interseção de ruas em que se encontra a embaixada norte-americana em Madrid ao grito de “Assassinos! Assassinos!” Sabe-se quem eram os membros do Exército dos Estados Unidos que operavam o tanque que matou Couso e Protsyuk, mas os Estados Unidos não cooperaram com as tentativas que se fizeram em Espanha de os processar. Esta semana, como em todos os anos no aniversário da morte de Couso, a sua família e simpatizantes manifestaram-se em frente à embaixada dos Estados Unidos.
 
Em 2011, Anja Niedringhaus escreveu no jornal New York Times: “Não creio que os conflitos tenham mudado desde os ataques do 11 de setembro de 2001, para além de se terem tornado mais frequentes e prolongados, mas a essência do conflito é a mesma, há duas partes que lutam por território, poder ou ideologias. E no meio está a população que sofre". Os jornalistas estão ali para dar conta desse sofrimento. Disparar contra o mensageiro é um crime de guerra.
 
Artigo publicado em Truthdig em 9 de abril de 2014. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Tradução para português por Carlos Santos/Esquerda.net.


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