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Atilio Borón

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Instrumentos “made in USA” da sedição na Venezuela

Atilio Borón - Publicado: Sábado, 08 Março 2014 14:35

ALAI, América Latina em Movimento. Se existe uma pergunta que parece retórica – e até ridícula! – em relação à situação imperante na Venezuela é aquela que interroga sobre se os Estados Unidos estão jogando ou não um jogando um importante peso nos motins e nos violentos distúrbios promovidos por um setor da oposição que transitou do protesto pacífico à sedição, entendida esta como toda ação que pretenda modificar pela via da violência a ordem constitucional ou as autoridades legalmente estabelecidas num país.


 Graças ao controle férreo da imprensa gráfica, radiofônica e televisiva, a direita nativa e o imperialismo denunciam o governo bolivariano de perseguir a oposição e reprimir manifestações “pacíficas”, sendo que apenas o fez depois que as forças de segurança do estado tolerassem toda classe de agressões, as físicas e as verbais, e que os sediciosos se lançaram “pacificamente” a incendiar edifícios governamentais, meios de transporte ou a destruir centros de saúde, escola ou qualquer propriedade pública.

Afirmamos que a pergunta é retórica, pois a ingerência dos Estados Unidos na Venezuela obedece à própria lógica do império. Dado que Washington exerce um poder global, planetário, se bem que em declínio, seria absurdo pensar que permaneceria de braços cruzados num país que, no dia de hoje, conta com a maior reserva petroleira (comprovada por fontes independentes) do planeta, superiores as da Arábia Saudita e situado a poucos dias de navegação de seu grande centro receptor de petróleo importado, Houston. Os Estados Unidos se envolvem permanentemente em todos os países, com intensidade variada, segundo seu significado na geopolítica global.

Como a Venezuela tem uma importância excepcional nesta área, não é coincidência que a Casa Branca tenha exercido uma permanente vigilância e influência ao longo de todo o século vinte, para assegurar que a riqueza petroleira fosse explorada pelas empresas certas; que depois do Caracazo tenha intensificado sua ingerência ante a certeza de que a velha ordem da Quarta República estava desmoronando; e que com a chegada de Hugo Chávez Frías ao governo, conspirasse ativamente para derrotá-lo, primeiro promovendo e reconhecendo de imediato o golpe de 11 de abril de 2002 e, fracassando este, impulsionando o “golpe petroleiro” de dezembro 2002-março de 2003. Frustrado esta nova tentativa e derrotado seu projeto continental, a ALCA, no Mar del Plata, precisamente incentivado por Chávez Frías, os Estados Unidos tentaram de todas as formas acabar com Chávez e o chavismo. Porém, nada disto terminou como queria o império e sua intromissão nos assuntos internos de outros países continua em curso. Quem possui dúvidas pode consultar os dados apresentados pelo Wikileaks ou as revelações de Edward Snowden sobre a espionagem em escala planetária, sobre aliados e inimigos igualmente, praticado pela NSA, a Agência Nacional de Segurança.

Para intervir nestes países, os Estados Unidos contam com um grande número de agências e instituições: algumas públicas, outras semipúblicas e muitas de caráter privado, mas sempre articuladas com as prioridades de Washington. A CIA é a mais conhecida, mas está longe de ser a única; o Fundo Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy, ou NED) é um de seus principais pilares nesta campanha mundial. O NED é um “desestabilizador invisível”, como denomina o especialista no tema, Kim Scipes, da Universidade Purdue. Numa nota recente, este autor demonstra que, apesar do NED tentar se passar por “independente”, foi criado pelo Congresso dos Estados Unidos durante a presidência de Ronald Reagan (não precisamente um democrata!) e graças a um pedido especial do super-reacionário presidente.

Para seu funcionamento, conta com volumosos fundos públicos, aprovados pelo Congresso e entre os membros passados e presentes de sua Direção sobressaem os nomes de algumas das principais figuras do estabelecimento conservador dos Estados Unidos, como Henry Kissinger (segundo Noam Chomsky, o principal criminoso de guerra do mundo); Madeleine Albright; Zbigniew Brzezinski; Frank Carlucci (ex-Diretor Adjunto da CIA); Paul Wolfowitz; o Senador John McCain; o impronunciável Francis Fukuyama e outros falcões da direita norte-americana. Um de seus primeiros dirigentes, Allen Weinstein, da Universidade Georgetown, admitiu numa nota publicada no Washington Post, de 22 de setembro de 1991, que “muito do que hoje nós fazemos, foi feito veladamente pela CIA há 25 anos” [1]. O NED opera através de seu núcleo central e de uma rede de institutos, vários dos quais estão atuando intensamente na Venezuela desde 1997, quando a maré chavista aparecia já como inexorável. Os principais são o Instituto Republicano Internacional (dirigido por McCain); o Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais (dirigido por Albright); o Centro para a Empresa Privada Internacional, gerido pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos; e o Centro Estadunidense para a Solidariedade Trabalhadora Internacional, gerido pela AFL-CIO.

O Informe Anual do NED correspondente a 2012, que é o último disponível, revela que tão somente nesse ano, o NED destinou 1.338.331 dólares a organizações e projetos na Venezuela, com temas sobre responsabilidade governamental, educação cívica, ideias e valores democráticos, liberdade de informação, direitos humanos e assim por diante. Porém, além disso, nesse mesmo ano de 2012, concedeu 465.000 dólares para reforçar o movimento trabalhador na América Latina, enquanto o Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais contribuía com outros 750.000 dólares.

Estamos falando de somas oficialmente registradas apresentadas pelo NED. Ou seja, a ponta do iceberg, se considerarmos as contribuições por debaixo dos panos feitas pela CIA, a NSA, a DEA e tantas agências públicas, sem falar dos que originam do mundo privado, por exemplo, da Fundação Sociedade Aberta de George Soros, ou do Diálogo Interamericano, que também canalizam fundos e oferecem assistência técnica para “fortalecer a sociedade civil na Venezuela”, ou seja, para organizar e financiar a oposição antichavista, inventando um Capriles ou um López nesse país, ou um Mauricio Rodas recentemente no Equador.

Um cálculo feito por Eva Golinger, advogada e especialista na relação Estados Unidos-Venezuela, afirma que desde 2002 até a presente data, os Estados Unidos transferiram por suas diversas agências e instituições “promotoras da democracia e da sociedade civil” mais de 100 milhões de dólares para apoiar as atividades da oposição ao governo bolivariano. Tudo isto não violando a legislação vigente na Venezuela, mas também a que os Estados Unidos possuem em seu próprio território, onde está absolutamente proibido que organizações de outros países financiem partidos ou candidatos nas eleições que ocorram no país. Porém, a mentira e a o discurso dúbio são dispositivos essenciais para o sustento do império. Isto foi precocemente advertido por Simón Bolívar, que com sua excepcional clarividência sentenciou que “nos dominam mais pela ignorância que pela força”.


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