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Anjo Torres

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Que significa apoiar a selecçom espanhola?

Anjo Torres - Publicado: Domingo, 11 Julho 2010 02:00

Anjo Torres

Vam já várias semanas desde o começo da Taça do Mundo da FIFA organizada na África do Sul e parece que ao Estado espanhol lhe está a sair bem a jogada.


Mais do que em anteriores ocasions, as ruas da Galiza acolhem umha decoraçom rojigualda de duvidoso gosto retro e muit@s compatriotas apontam-se à febre de La Roja de maneira acrítica e irreflexiva.

Nom é algo que nos deva estranhar. A campanha mediática constante arredor da selecçom de futebol ou doutros desportistas espanhóis com êxito nas suas disciplinas (Pau Gasol, Rafa Nadal, Fernando Alonso...) conseguiu que muitas pessoas se sobam ao carro de um espanholismo sem complexos. É umha forma de esquecerem a dura realidade e as frustraçons quotidianas e de sentirem-se ganhadores e ganhadoras por umha vez. E o Estado nom poupa esforços nem recursos públicos com este objectivo (para isto sim há dinheiro). Também se esforçam os meios de comunicaçom e muitas outras empresas que aliás esperam tirar umha boa talhada da sua concorrência por demonstrar quem apoia de maneira mais incondicional e entusiástica a nuestros chicos.

E todo isto vestido com o disfarce da normalidade. Apoiar a selecçom espanhola nom seria um posicionamento político, é o normal e natural, pois somos espanhóis e espanholas, nom é? O espanholismo político e mediático contrapom esta pretendida normalidade ao apoio e defesa, por pôr um exemplo, das selecçons nacionais desportivas da Galiza, Países Cataláns ou País Basco. Isso sim seria politizar o desporto, algo que (dim-nos todos os dias políticos e gurus mediáticos) está mui feio porque o desporto está para nos entreter, nom para misturá-lo com a política e provocar problemas.

Mas nós sabemos que esta suposta neutralidade do mundo do desporto é completamente falsa e que estamos perante umha campanha que tem uns objectivos políticos bem claros e relacionados: um deles é fazer-nos esquecer a crise capitalista em curso, o desemprego, a pauperizaçom, a reforma laboral e das pensons... dificultar e desactivar a resposta obreira e popular às medidas impostas pola oligarquia espanhola e o capitalismo internacional. Outro, mais estratégico, é fortalecer o projecto nacional espanhol burguês, um projecto de Estado-naçom historicamente posto em questom e cujos símbolos e identidade som muitas vezes rejeitados por importantes sectores da populaçom, especialmente nas naçons oprimidas polo mesmo. Para melhor explorar à classe trabalhadora, para evitar resistências e para destruir de vez a naçom galega, a nossa identidade e a nossa língua, o regime necessita a identificaçom plena com a monarquia, a economia de mercado e a defesa da unidade espanhola. E o desporto revela-se como um bom meio de gerar identidade nacional e lealdade ao regime. Apoiar à selecçom espanhola significa apoiar todo isto, sejamos conscientes ou nom. É atirar pedras contra o nosso próprio telhado.

Perante esta avalancha rojigualda o povo trabalhador galego nom tem tantas armas para se defender como outras naçons oprimidas polo Estado espanhol. E isto em parte pola claudicaçom e os complexos de um autonomismo que prefire olhar para outro lado e evitar os conflitos. Sim, todo isto está também relacionado com a sua busca da quadratura do círculo (o encaixe da Galiza no Estado espanhol) e a sua renúncia à construçom de umha identidade nacional galega inassimilável à espanhola. Umha prova disto foi a renúncia a dar a batalha pola oficialidade das selecçons desportivas nacionais durante a etapa do bipartido, contentando-se com uns jogos amigáveis que o espanholismo do PP pudo suprimir sem problemas no seu retorno ao poder autonómico.

Como sempre, só desde os sectores mais conscientes do nosso povo, só desde o independentismo, se mantém a reivindicaçom coerente e constante da nossa identidade nacional e dos direitos que nos correspondem. De formas diversas, colectivas ou individuais, formais ou informais, a Galiza rebelde denuncia e contrarresta a mensagem espanholista. É ainda insuficiente mas é a base que permitirá umha resposta melhor e maior no futuro.

Para finalizar, cumpriria aproveitarmos a ocasiom para reflectirmos sobre o que nós queremos realmente no ámbito do desporto e darmos conteúdo à reivindicaçom das selecçons galegas. Queremos simplesmente fazer parte do grande negócio capitalista que é hoje o desporto profissional, com esta Taça do Mundo ou as Olimpíadas como melhores expoentes? De um negócio multimilionário para uns poucos que se aproveitam da exploraçom laboral mais infame, da especulaçom urbanística, da corrupçom ou da publicidade? De um espectáculo ao que o povo trabalhador assiste passivamente e que contribue para a nossa alienaçom? Nom, as nossas selecçons desportivas nacionais terám que ser o resultado de um outro modelo de desporto, feito desde a base, activo e participativo, que contribua à nossa realizaçom pessoal e colectiva fomentando a solidariedade e o esforço por umha causa comum, que rejeite a mercantilizaçom e que nos permita relacionar-nos fraternalmente com os demais povos do mundo. Por essa selecçom galega sim que pagará a pena torcer, de momento haverá que desejar sorte a qualquer que jogar contra Espanha.


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